17/07/2011

Uma mão cheia de filmes

Estive a ler o post  que Sérgio Lavos redigiu para o seu blog, Arrastão, referente a cinco filmes de que gostou e que no nome original começam por uma das letras do seu apelido. É uma forma diferente de se fazer uma selecção. Apesar de não seguir o método, nada tenho a objectar.

Porque andei durante muitos anos embrulhado com o cinema, principalmente com o cine-clubismo, achei engraçada a escolha feita por alguém que, de acordo com a consulta efectuada no facebook, já nasceu depois do 25 de Abril, em 1975. Tirando o filme de David Lynch, já seu contemporâneo como jovem adulto, selecciona tudo filmes da minha geração e que há época foram bastante exibidos pelos cine-clubes, tirando o filme de Copolla, já posterior à decadência daquele meio de divulgação cinematográfica.

O que leva um jovem, em relação à minha idade, a escolher filmes antigos e não as novidades deste século? Não tenho resposta para isto, a não ser dizer que o cinema já não é o que era, mas isto é a constatação de um velho marreta que deixou de frequentar as salas de cinema e já só vive das suas memórias cinéfilas.

Mas o mais espantoso, e isso verifico com muitos jovens quando lhes propõem uma selecção, que vão todos calhar ao velho cinema americano e às suas glórias, esquecendo ou porque não viram ou porque não lhes interessa o cinema europeu, principalmente o italiano, o alemão e já não digo o francês, porque alguns ainda seleccionam Godard, para só falar daquelas cinematografias que tiveram algum impacto em Portugal nos anos 60 e 70.

Será que não havia nenhum filme começado por uma das letras do seu apelido de Visconti, de Antonioni, hoje já quase esquecido, de Zurlini, de Francesco Rosi, esse prodigioso autor de Salvatore Giuliano (1961), de quem hoje já ninguém se lembra. Ou recorrendo aos franceses de Trufaut, de Resnais, de Malle ou do alemão Fassbinder

Mas ainda voltando à sua selecção. Retirando Lynch muito mais recente que todos os outros, de quem gosto, mas não aprecio a temática, fica esse prodigioso Apocalypse Now, que nunca deverá ser esquecido, juntamente com Citizan Kane (1941), de Orson Wells, em qualquer selecção de filmes americanos.

Quanto aos outros gostaria de fazer algumas considerações. Vertigo era realizado por Hitchcock, autor pouco apreciado pela esquerda cine-clubista e muito elogiado pelos Cahiers du Cinema. Reconheço, porque revi recentemente em DVD alguns dos filmes daquele autor, que este é um dos seus melhores e é uma boa selecção.

On The Waterfront, foi quase de certeza um dos filmes mais exibidos pelos cine-clubes, não só porque tinha qualidade, mas porque abordava uma problemática ligada ao mundo do trabalho. No entanto, nunca nos esquecíamos de avisar que Elia Kazan, tinha denunciado os seus companheiros comunistas à Comissão das Actividades Anti-Americanas e que o filme era uma tentativa de justificação dessa suja actividade. Por muito que gostemos do filme, não há dúvida que o seu argumento, mesmo que encapotado, é a justificação dessa sua atitude.

Quanto a Billy Wilder, um dos nomes grandes do cinema americano, não escolheria entre os seus filmes de humor com a Marilyne Monroe o Quanto mais quente melhor (Some Like it Hot), mas sim O pecado mora ao lado (The Seven Year Itch), de 1955, mas talvez a letra inicial não fosse nenhuma das do seu apelido. Mas escolheria de certeza esse espantoso Sunset Boulevard (O crepúsculo dos deuses), de 1950, ainda na sua fase dramática.

Isto foi uma pequena brincadeira, feita por alguém que gosta muito de cinema, ou melhor dizendo, gostou muito de cinema e que vive da recordação dos melhores anos da sua vida, quando durante muito tempo colaborou na programação e seleccionou os textos de crítica aos filmes apresentados pelo Cine-Clube Universitário de Lisboa (CCUL).

Lista dos filmes seleccionados por Sérgio Lavos:

Lost Highway - David Lynch -1997

Apocalypse Now - Francis Ford Copolla – 1979

Vertigo - Alfred Hitchcock -1958

On The Waterfront - Elia Kazan -1954

Some Like it Hot - Billy Wilde - 1959

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