16/03/2011

Será que ouvi bem?

Quando hoje, no meio da confusão política que de repente invadiu os noticiários das nossas TVs, ouvi alguém perguntar a Cavaco Silva o que pensava da crise política. Este, limitou-se a fazer a parte costumeira, respondendo que não estava ali para tratar deste assunto, mas a prestar uma homenagem aos mortos da guerra de África.

Depois ouvi parte do discurso e não queria acreditar. Não é que Cavaco instou os jovens a empenharem-se em “missões e causas essenciais ao futuro do país com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do Ultramar”?

Cavaco dá assim como exemplo aos jovens de hoje aqueles que a contra gosto e obrigados foram combater os povos da colónias portuguesas, às ordens de um Governo ditatorial, que impôs uma política de submissão àqueles povos, que contra isso foram obrigados a lutar.

Já chegámos aqui? Cavaco Silva não pesará minimamente as palavras que diz? Ou então, o que vem confirmar as suas declarações à PIDE, ele foi para a guerra colonial com desprendimento e determinação para combater os “terroristas”. É este o triste presidente que temos.



PS. Permita-me o Victor Dias discordar de seu post sobre este mesmo assunto. É que a seguir à citação da frase de Cavaco, e afirmando que a critica, linka para um artigo que em tempos escreveu de resposta a outro do Pacheco Pereira sobre a deserção ou não da guerra colonial. A posição aí defendida, que eu também assumi, e que me parece bastante justa, nada tem a ver com esta citação de Cavaco, que propõe como modelo à actual juventude os jovens que foram obrigados a marchar para a guerra colonial.

2 comentários:

Armando Cerqueira disse...

Permita-me transcrever um meu comentário sobre o mesmo assunto no 'blog' 5 Dias:

"Mas não perceberam que o Prof Cavaco Silva tornou-se democrata algum tempo depois do 26 de Abril de 1974? Que afinal, apesar da sua esperteza provinciana em esconder a sua verdadeira personalidade, do cinismo, ele está/va intimamente de acordo com o regime autoritário e a sua deriva colonialista. É dramático: temos um homem que oficialmente se reconheceu perfeitamente integrado no espírito do regime salazarista como Presidente da nossa república democrática…

A história de ele ter sido filho de gente pobre como sendo justificativo do dobrar da coluna perante o regime não é desculpa: é que nem a sua família era tão pobre, nem a maior pobreza relativa impediu muita gente de se opor ao regime e, inclusivamente, passar pelo 3º andar da Rua António Maria Cardoso ou pelo reduto Sul de Caxias, ou ter uma actividade anti-colonialista no Exército colonial de agressão e opressão.

Eu tinha algum respeito pelo Prof Cavaco Silva. Mas perdi-o a pouco e pouco e sinto pelas suas concepções salazarentas uma profunda repugnância.

As suas declarações colonialistas enquanto chefe do Estado duma república originada na e legitimada por uma postura e atitude anti-colonialistas deveriam lavá-lo, se tivesse um mínimo de pudor e vergonha, a apresentar a sua demissão.

Esperou pela sua reeleição para mostrar a sua verdadeira face, o seu íntimo até então escondido.

Não é o MEU Presidente.

Armando Cerqueira"

Anónimo disse...

Jorge Nascimento Fernandes:

A remissão para o meu antigo «post» que cita
visou distanciar-me de um ou outro «post» que se limitaram mais ao elogio da deserção e dos quais
se pode inferir um escondida desconsideração pelos que estiveram na guerra de que eu não posso partilhar.