25/01/2011

A quadratura do círculo ou da impossibilidade de se ganhar estas eleições

Há tempos escrevi num post (6/11/10)  “De facto a situação está muito complicada e eu não gostaria de ignorar esta situação. Com um PS claramente comprometido com o centrão, ou mesmo com as políticas de direita, não há nenhum candidato de esquerda, mesmo independente e super partidário, que resista a que uma das suas bases de apoio não só não esteja nada interessada na sua eleição, dado que isso provavelmente só iria irritar os “mercados” internacionais a que ela está atada de pés e mãos, como esse facto inverteria a sua lógica de apoio à formação do um bloco central.
Se o candidato não perceber esta situação e continuar a tentar trazer todo o PS atrás de si está condenado à derrota mais clamorosa.
Não quero ser profeta em casa própria, até porque depois me envolvi, e bem, na campanha do Alegre escrevendo alguns post para um blog de apoio, Alegro Pianíssimo, no entanto, já pressentia que alguma coisa de mal poderia acontecer.
O problema central desta candidatura, é de que as eleições se realizaram no pior momento. Não era possível esbater uma das piores ofensivas contra os trabalhadores e simultaneamente fazer apelo à luta contra a ofensiva da direita se Cavaco ganhasse as eleições. Isto não era credível aos olhos do eleitorado. Por isso Cavaco, num rábula que já lhe tinha rendido em 1985, quando se soube distanciar do Governo de Bloco Central, apareceu em algumas das iniciativas da campanha como o chefe da oposição. Acalentou as manifestações do ensino privado contra os cortes nos subsídios. Deu apoio às manifestações contra o encerramento do metro da Lousã. Oh! Descaramento dos descaramentos, achou injustos os descontos no salário da função pública, depois de ter acabado de aprovar o orçamento que as autorizava.
Alegre só podia ter mais votação e quem sabe ganhar as eleições, se fizesse a fronda de todos os descontentamentos. Houve alguns brincalhões que se entretiveram na blogosfera a descobrir discursos de Alegre contra o Cavaco que se poderiam aplicar ipsis verbis contra Sócrates e, no entanto, ele só se ficava pelo primeiro.
Por outro lado, Alegre não era o candidato do PS, da família e das redes de compromissos estabelecidos. Por muito que a determinada altura se pensasse que o PS tinha posto a sua máquina ao seu serviço, a verdade é que se sabia que aqui e ali os responsáveis não apareciam, Em Setúbal Victor Ramalho, o responsável pela concelhia, nunca pôs os pés numa reunião.
Porque apoiou o Bloco Alegre, porque este representava a ala esquerda do PS, que é o eleitorado onde o Bloco poderá ir captar gente. Ficará o Bloco irremediavelmente ligado a esta derrota? Espero bem que não.

E os outro candidatos. Sobre Cavaco, já sabem o que penso, o conjunto abundante de post que redigi contra ele, dão bem o ódio que lhe voto e o discurso da noite das eleições revela bem o carácter mesquinho de tal personagem. É evidente que a vitória dele se deve a aparecer como o anti-Socrates e, por outro lado, ser um referencial da estabilidade e a possibilidade de arrebanhar toda a direita, que nestas coisas não tem os escrúpulos da esquerda e sabe em quem deve votar.

Nobre só em pequena parte representou aquilo que Manuel Alegre foi nas eleições presidenciais anteriores. Aí provavelmente com um pouco mais de esforço ele tinha juntado todos os descontentes com o estado a que isto tinha chegado. Nestas eleições, o discurso de Nobre foi completamente redondo, apelando a uma luta contra os partidos e a vida política nacional sem o mínimo de conteúdo. Vítor Dias lembrou, e bem, como em 76, um homem moribundo, a definhar num leito do hospital, Pinheiro de Azevedo, teve 14 e tal por cento, só porque - agora a interpretação já é minha - as pessoas não sabiam a onde ir votar. Concorriam nessas eleições Ramalho Eanes, apoiado pelo arco governamental: CDS, PSD e PS, Otelo pela extrema-esquerda e Octávio Pato, uma candidatura inventada pelo PCP, para não apoiar Otelo e não hostilizar Ramalho Eanes.
Já que a determinada altura me envolvi  com o Vítor Dias em polémica sobre o voto útil nas primeiras volta destas eleições. Gostaria agora de fazer a pergunta que na altura fiz: e se por um pouco mais de votos fosse o Nobre a passar à segunda volta, que faria o PCP depois de, no seu jornal ,o ter classificado como fascista? Coisa que diga-se de passagem, não sendo completamente verdade, tem algum fundo, vejam-se  as palavras de Nobre no debate com Francisco Lopes.

Quanto a Francisco Lopes não tenho nada a dizer. É sempre a mesma apagada e vil tristeza, mais 1% votos, menos 1% de votos e a incapacidade de arriscar para se sair disto.

Parece que houve para aí uns rapazes que foram votar no Coelho convencidos que ele era o candidato da esquerda. Se há uma coisa que aprendi ao longo dos anos de militância comunista é não me deixar arrastar pela inconsequência política. Pode ser que o homem até seja uma plataforma de oposição ao jardinismo. A ver vamos.

Vencendo Cavaco e completado este ciclo de impossibilidades de dissolução do Parlamento, agora é que começam as coisas complicadas, primeiro para o povo português e depois para os parlamentares. Vamos a ver quem politicamente tem unhas para tocar guitarra.

3 comentários:

Anónimo disse...

Jorge N. Fernandes:

Não sei se vai haver mais alguma reunião de apoiantes de Alegre mas, se houver, veja se se entende com Louçã.

Este no «esquerda NET escreve isto «Nobre fez uma campanha com TRAÇOS populistas – o jornal do PCP chama-LHES “fascistas”.

Você por sua vez, não se engracidou pelo ouvido, já diz que o Avante chamou fascista (singular) ao Nobre.

Eu nem me dei ao trabalho de ir procurar.

Mas espero que considere que chamar «fascistas» a TRAÇOS DE POPULISMO NÃO A MESMA COISA QUE CHAMAR FASCISTA AO CANDIDATO.

Jorge Nascimento Fernandes disse...

De facto o jornal do PCP não chama fascista a Fernando Nobre, o que diz o seu camarada Filipe Diniz, Avante de 20/01/11, é que o “pensamento político” de Nobre é “em muitos aspectos fascizante”. Eu para mim depois de dizer isto e pensá-lo não me sentiria muito à vontade para ir recomendar o voto em Nobre à segunda volta. É por isso que o voto útil ás vezes tem alguma razão de ser. Por outro lado não percebo porque se irritou tanto, é que eu, sem chamar fascista ao candidato, também escrevi, até antes do seu camarada Filipe Diniz, que no debate com Francisco Lopes houve afirmações do candidato Nobre a “roçar perigosamente o fascismo”.
Sei que é um cultor da precisão terminológica e que às vezes se irrita muito quando a bota não bate com a perdigota, mas aqui, francamente, eu até estava de acordo como que dizia o Avante.

Anónimo disse...

J. N. Fernandes:

Francamente não percebo. SE até já tinha escrito algo parecido porque é que veio incluir criticamente essa referência ao AVANTE-Nobre no seu post ?

Entretanto, muito obrigado por me ter prestado a informação que não tinha de que Louçã trafulhou duas vezes:

- uma quando atribui ao «jornal do PCP» o que estava numa crónica assinada pelo meu estimado camarada Filipe Dinis;

- outra quando transformou «fasciSANTE» aplicado a «muitos aspectos do pensamento político» de Nobre em «FASCISTA».

Claro que nada disto tem nenhuma importância porque eu é que sou «um cultor da precisão terminológica».

Pois é, a minha pergunta é porque é que, estando nós no nobre terreno da política, outros disso não são ou não querem ser cultores.