Há para aí um conjunto de “rapaziada”, mas não só, que anda muito preocupada com conceitos de patriotismo e nacionalismo e outros temas, a propósito desta campanha eleitoral para a Presidência da República.
Um rapaz mais velhinho chega mesmo a transcrever um belo poema de Brel referente ao assassino de Jaurés, às vésperas da I Guerra Mundial, falando de social-patriotismo a propósito de todos os candidatos. Outro interroga-se em relação às posições que Manuel Alegre tomou sobre as propinas ou sobre as taxas moderadoras e termina “todo este patriotismo está a tornar o ar dentro desta latrina completamente irrespirável.” Aqui não se refere propriamente a Alegre, mas dá o tom sobre a campanha eleitoral. Outro, precisa melhor os conceitos e escreve: “O que se passa com a esquerda patriótica portuguesa, de Francisco Lopes a Manuel Alegre e ressalvando aqui as inúmeras diferenças entre ambos, é que tanto no seu internacionalismo como no seu patriotismo a questão da classe é secundária em relação à questão do povo.”
Mas o que pensa esta gente que é uma campanha eleitoral para a Presidência da República? E o que pensam mesmo das campanhas eleitorais? Será que nunca votaram? Será que o partido onde depositaram o seu voto respondia a todas estas perguntas? Será que pensavam que o Manuel Alegre iria apelar à revolução europeia?
Eu às vezes interrogo-me em que mundo certas pessoas vivem. Posso admitir que alguns jovens e outros mais maduros optem conscientemente pelo anarquismo ou pela recusa em participarem nas eleições burguesas. Discuto e combato esta sua opção, mas se ela for seguida com coerência, admito que possam em todas as circunstâncias, recusar-se a votar. Mas, tendo ao longo da vida participado em eleições, ou seja, votado, e mesmo militado em partidos que vão a eleições, vêm agora pôr questões, que numa eleição presidencial têm pouco sentido e muito menos exigir dos candidatos, comprometidos com o sistema que nos governou nos últimos trinta e cinco anos, respostas claras às suas exigências políticas.
Neste tipo de eleição pretende-se, pretende a esquerda, acima de tudo, que quem seja eleito tenha do país uma visão progressista, se possível de esquerda, não pactue deliberadamente com o conservadorismo ou com o patronato reaccionário. No fundo, alguém que seja o contrário de Cavaco Silva. Pode-se também pedir, que quem vá para o lugar seja o aglutinador de um conjunto de forças de esquerda, e que propicie um deslocamento para a esquerda do eixo ideológico dominante.
Neste sentido, a esquerda tem-se dividido. Há quem procure o candidato que sirva para expressar os seus pontos de vista, independente de todos os outros. É, neste momento, a posição do PCP. Francisco Lopes nesse aspecto tem levado a água ao seu moinho e a sua candidatura “patriótica e de esquerda” tem muito a ver com o passado político do PCP, que neste aspecto foi ressuscitar as ideias da Revolução Democrática e Nacional, e sublinho nacional, e da sua oposição à União Europeia.
Nestas eleições, por razões que têm a ver com a posição do Bloco de Esquerda, não há nenhum candidato que expresse o ponto de vista da unidade da esquerda não-comunista e não social-democrata, de que o caso mais paradigmático foi o de Maria de Lurdes Pintassilgo, em 1986. E não sei se esta candidata iria corresponder a todas as exigências destes nossos jovens bloggers, alguns ainda sem idade para terem participado nelas.
Nobre, Defensor de Moura ou Coelho são fenómenos marginais à luta política, que poderão ter o seu nicho de mercado, mas não correspondem aos desejos destes nossos críticos.
Que representa pois, para mim a candidatura de Manuel Alegre. Uma possibilidade e a única de derrotar Cavaco, de inflectir neste momento a correlação de forças para a esquerda, retirando todo o peso negativo que é ter Cavaco na Presidência, a possibilidade, mesmo que remota, de uma recomposição da esquerda.
Dirão que é pouco, que a situação exige mais, outro candidato e outra política. Arranjassem-no, não se limitem a criticar e a recusar meter as mãos na massa. É fácil, descobrirem agora as contradições do candidato, mas ele é neste momento o melhor denominador comum para derrotar Cavaco Silva e como se torna claro, a eleição de um Presidente, não é a mesma coisa do que a de um parlamento, nem que de uma câmara municipal, que é por natureza plural. A eleição de um Presidente da República é uninominal, com todos os defeitos e virtudes que isso comporta. E é pois neste quadro concreto que, como actores políticos, têm que agir.
PS.: Texto igualmente publicado aqui
Sobre uma guerra extremamente perigosa
Há 43 minutos
6 comentários:
Conheci Manuel Alegre em Paris no fim do Verão de 1965, no quarto de hotel da D. Maria Lamas. Éramos ambos membros do PCP, dissidentes. Eu dicidira abandonar o exílio voluntário e regressar a Lisboa e Alegre prometeu-me mandar alguém contactar-me em Lisboa para actividades 'fraccionistas'. Só que a promessa nunca foi cumprida.
Fiquei desde então com uma péssima impressão de M. Alegre,confirmadas pela sua acção na contrarevolução. soarista de 1975.É um politiqueiro balofo. Não votarei nele!
Juntando este seu comentário ao que escreveu no primeiro, pergunto-me, então em quem vota?
Sobre Manuel Alegre nada tenho a acrescentar ao que diz, mas as razões que eu invoco não são pessoais, são unicamente políticas, de neste momento ser o melhor candidato para derrotar Cavaco Silva.
Já agora, o seu nome não me é estranho, acha que nos podemos conhecer?
Olá Jorge.
Como sou dissidente militante, só poderia votar num candidato anti-sistema. Não, não no Francisco Lopes.
Creio que nos conhecemos através da Lea, sua prima. Eu era amigo dela. Falámos por várias vezes nas sessões/bailes da Cooperativa dos Trabalhadores de Portugal, no 1º lustro dos anos 60.
Terei muito gosto em re-encontrarmo-nos.
Um abraço,
Armando Cerqueira
Olá Jorge.
Como sou dissidente militante, só poderia votar num candidato anti-sistema. Não, não no Francisco Lopes.
Creio que nos conhecemos através da Lea, sua prima. Eu era amigo dela. Falámos por várias vezes nas sessões/bailes da Cooperativa dos Trabalhadores de Portugal, no 1º lustro dos anos 60.
Terei muito gosto em re-encontrarmo-nos.
Um abraço,
Armando Cerqueira
Olá Jorge.
Como sou dissidente militante, só poderia votar num candidato anti-sistema. Não, não no Francisco Lopes.
Creio que nos conhecemos através da Lea, sua prima. Eu era amigo dela. Falámos por várias vezes nas sessões/bailes da Cooperativa dos Trabalhadores de Portugal, no 1º lustro dos anos 60.
Terei muito gosto em re-encontrarmo-nos.
Um abraço,
Armando Cerqueira
Por acaso não estava a ver relacionado com a minha prima Lea. Mas agora penso que sim. No entanto, não me lembro de bailes na Cooperativa dos Trabalhadores de Portugal que tivesse ido com ela, mas lembro-me que havia outras associações ou seriam salas de bombeiros onde se faziam convívios. Eu vivo em Lisboa e já estou reformado
O meu e-mail nascifernandes@netcabo.pt se quiser escrever para lá. Apareça sempre por aqui.
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