26/09/2010

Quem é o inimigo principal?


O BE e o PCP têm encarado esta crise política que estamos a viver como um jogo de sombras entre o PS e o PSD para, no fundo, justificar a aprovação de medidas mais gravosas para a sociedade portuguesa e para ver quem se livra do ónus de ser o seu principal responsável. Para aqueles dois partidos de esquerda dir-se-ia que estamos perante uma peça de teatro medíocre, daqueles dramalhões que pelo seu exagero acabam por pôr toda a plateia a rir.
Eu não desvalorizaria tanto esta situação, que tem algumas semelhanças com a que se viveu no final do reinado de Guterres, quando este se demitiu para evitar o pântano e a direita paulatinamente tomou conta do poder.
Vejamos o que se passa e as semelhanças entre as duas situações, apesar de na altura da demissão de Guterres a crise económica não ser tão grave como no presente. Quando a direita, PSD aliado ou não ao CDS, não tem condições para governar – foi o caso de do PSD, já sem Cavaco, em 1995, ou quando o chefe deste mesmo partido, em 2005, comete tanto disparates que é despedido – o poder é entregue ao PS, conseguindo este partido obter durante um certo período de tempo as boas graça dos empresários (do patronato), dos comentadores, dos media em geral e até dos eleitores. Foram os quatro anos de euforia de Guterres (a Expo 98) e as sondagens em alta do PS de Sócrates, que, mesmo desgastado com os sucessivos casos porque foi passando, conseguiu sempre resistir.
Qual tem sido na prática a política seguida pelo PS, tem variado, mas no fundo recorre de facto uma política de direita, exceptuam-se os casos da aprovação da legislação sobre a segurança social, no tempo de Guterres, e das leis sobre o IVG e os casamentos entre homossexuais, no tempo de Sócrates, em que aí se socorre da esquerda. Isto tem levado, mais acentuadamente com Sócrates do que com Guterres, a um afastamento bastante acentuado entre o PS e a sua esquerda, que na última Assembleia se tornou verdadeiramente plural, com a existência com peso quase semelhante do BE e do PCP.
Esta política seguida pelo PS tem-no convencido de que é fácil meter os empresários no bolso, controlar a comunicação social e obter a aceitação dos comentadores. Até que chega o momento em que estes, principalmente os primeiros, que são os patrões da comunicação social e dos comentadores, sentindo-se com força o despedem por preferirem que sejamos os seus partidos a cumprir a política que desejam. Esta é a tragédia do PS. Faz tudo que lhe exigem mas volta e meia é despedido por incompetência. É o que lhe está a suceder agora.
Bem pôde o PS assinar o PEC com o PSD, garantindo que finalmente tinha um parceiro para dançar o tango, que este partido sentindo-se com a força das sondagens e do patronato se prepara pura e simplesmente para despedir o seu moço de fretes.
Por isso, eu penso que o que se está a passar não é só um jogo de sombras entre o PS e o PSD, é igualmente uma ofensiva da direita patronal, política e ideológica, contra tudo o que mexe à esquerda. Acho, portanto, que é incorrecto meter tudo no mesmo saco e que devemos dar respostas bem vivas e acutilantes a esta ofensiva da direita que visa rever a Constituição, esbulhar os funcionários públicos do 13º mês e os trabalhadores dos seus subsídios sociais, destruir o SNS e a escola pública e que para isso reuniu um conjunto de ideólogos e propagandistas que diariamente nos atacam nos meios de comunicação social, privilegiando, sem dúvida a Televisão. Veja-se o leque de comentadores, de programas e de debates da SIC Notícias e teremos um exemplo da ofensiva descarada da direita, através dos seus principais agentes: respeitáveis professores universitários ou antigos ministros das finanças.
Por isso, não sendo necessário sair em defesa do Governo, não podemos considerar tudo farinha do mesmo saco e temos que compreender que o povo português está ser vítima de uma programada ofensiva ideológica da direita, que arrastará na sua frente não só o Governo de Sócrates, como provavelmente muitas das conquistas de Abril. É neste emaranhado contraditório que temos que descobrir quem é o nosso inimigo principal e quem é o secundário. Temos que ver quem nos interessa correr e quem queremos que vá para lá, mas mais do que isso como poderemos fazer a ruptura de que há tantos anos se fala e que nunca fomos capazes de concretizar.

5 comentários:

Anónimo disse...

O pessoal do «jugular» não diria melhor ou, pelo menos, era capaz de desarrincar, em desespero de causa, uma coisa parecida.

Excelente ocasião para este «post» que se esquece convenientemente que HOJE o maior perigo só pode vir de quem tem as mãos nas «manettes».

Jorge Nascimento Fernandes disse...

O Victor Dias vem finalmente discutir ideias comigo. Esqueceu-se foi de referir a censurazinha ao livro do Carlos Brito, para quem garantia a pluralidade absoluta da Festa do Livro, da "Festa do Avante!".
Por acaso não sou leitor do "Jugular". Não me interessa particularmente, como não sou leitor dos blogs da direita, como já deve ter reparado nos blogs que sigo quase diariamente. Mas, pelo que sei, o Jugular é um blog de gente do PS. Penso que seria um pouco forte um blog daquele partido chamar “moço de fretes” à sua organização política. Mas isso é um pormenor de pouca importância.
Depreendo que para o Victor Dias quem maneja as “manettes” é que é o inimigo principal. Pois eu também penso assim, mas entendo que é a banca, o grande capital, o directório da União Europeia, no fundo as classes dominantes e os partidos que as representam (PSD e CDS). Nesse sentido, aquelas, através dos seus ideólogos de serviço, lançaram uma ofensiva, que é não só ideológica mas também política, para despedir o PS ou para este adoptar as medias que eles queriam aplicar, como de facto veio a suceder. Este facto não invalida que depois de as aplicar, não seja, na altura oportuna, corrido. Por isso, ao contrário do que pensa o Victor Dias, aqueles são, para mim, os nossos inimigos principais e é a sua ofensiva ideológica que temos que combater. O PS, como pau mandado daqueles, é o nosso inimigo secundário. Parece que isto é claro.
Simplesmente o Victor Dias, arrastado pelo ultra-sectarismo que envolve o PCP, considera que o executante ou o peão de brega é o inimigo principal, igual ou pior que os seus mandantes. Estamos com o mesmo raciocínio do tempo do ultra-sectarismo da III Internacional que considerava os socialistas piores que os fascistas, ao ponto de os considerara sociais-fascistas. Termo recuperado pela ultra-esquerda para atacar o PCP.

Anónimo disse...

Registo comovido até às lágrimas que JNF também engoliu aquela treta do Vital Moreira e já agora da Ana Gomes de que o PS português e os os outros PS's europeus não têm nada que ver com as orientações neo-liberais do processo de integração europeia e são uns pobres e contrariados executantes delas.

Ou seja, para ser directo, JMF coloca-se assim à direita do dr. Mário Soares que há uns anos não perdia oportunidade de responsabilizar os partidos socialistas eurtopeus pela deriva neo-liberal, designadamente no tempo em que chegaram a governo 11 países numa UE a 15.

Em suma, mais coisa menos coisa, isto caiu tudo (liberalização dos movimentos de capitais, Maastricht, moeda única, OMC, etc, etc)do céu aos trambalhões, só faltando saber que a que raio de coisas condicionantes é que o PS português e os outros se opuseram valorosamente.

Jorge Nascimento Fernandes disse...

O Sr. Vítor Dias anda a esquecer-se da censurazinha ao livro do Carlos Brito e por isso dispara em todas as direcções, utilizando uma técnica antiga que é deturpando as ideias do adversário para o acusar de estar mais à direita do que o Sr. Mário Soares. Quando quiser perceber e falar a sério, pode cá vir ter, porque consigo acabou a conversa

Operário de volta ... disse...

ehehehe o doutor Fernandes parece mais um disco de 33 rotações riscado.
Coitado