Utilizei este título genérico para não ferir susceptibilidades, mas ir-me-ei referir preferencialmente à candidatura apresentada pelo PCP.
Cipriano Justo num artigo publicado no Público, a 6/09/10 (sem link), e que denominou As boas razões do PCP, considerava em subtítulo “O que é questionável não é o seu candidato, são os argumentos avançados para justificar a candidatura”, o que resume sucintamente o conteúdo do artigo.
Cipriano Justo não contesta a apresentação de uma candidatura pelo PCP e até justifica a sua apresentação e acha que numa primeira volta ela é indispensável, dado que um processo de convergência com outras candidaturas, neste caso com Manuel Alegre, há muito tempo que se devia ter iniciado.
Estando no essencial de acordo com estas afirmações, gostaria de lembrar que a desistência das candidaturas presidenciais do PCP a favor de outras logo na primeira volta se deu em condições em que anteriormente não tinha havido uma clara convergência à esquerda. Quando o PCP desistiu a favor de Eanes, na segunda recandidatura deste, qual tinha sido a convergência de esquerda com aquele candidato e os seus apoiantes? Quando mais tarde o PCP desistiu a favor de Salgado Zenha, que tinha sido um dos obreiros da luta do PS contra a unicidade sindical, qual era a convergência que havia com ele. Já não falarei de Mário Soares porque aí estávamos numa segunda volta e outra opção não seria possível.
Também a desistência a favor de Jorge Sampaio, apesar da experiência positiva da Câmara de Lisboa, não correspondia a nenhuma convergência que nessa altura houvesse com o Governo PS, de António Guterres, de que ele era a emanação.
Diria que os tempos são outros e outra é a orientação política do PCP. Concordo que tanto no caso de Ramalho Eanes, como no de Salgado Zenha não era o PS que estava no Governo e que com Jorge Sampaio, estávamos ainda no estado de graça do primeiro governo de António Guterres. Hoje, qualquer desistência a favor do candidato apoiado também por Sócrates, mesmo que contrariado, é um pouco diferente. Mas, apesar desta nova situação, o PCP também mudou bastante em relaçãoa esse seu passado, manifestando um completo enquistamento e uma total incapacidade de discussão das questões de convergência com as outras forças políticas de esquerda. O candidato escolhido por aquele partido é o melhor exemplo disso.
Pelas razões atrás expostas não tenho a certeza, como Justo, de não ser desejável, mais uma vez, que o candidato do PCP desista na primeira volta a favor daquele que na esquerda estiver em melhores condições para derrotar Cavaco.
A segunda parte do artigo de Justo é a crítica às razões aduzidas pelo PCP para apresentar uma candidatura própria. Aquele partido acha que nenhum candidato é capaz de denunciar com clareza as malfeitorias do Governo de Sócrates, o que sendo verdade, não é nestas eleições o que está em causa, mas sim derrotar o presidente de direita. Eu não faria como Justo uma separação tão clara entre a apresentação de uma candidatura própria e a sua insistência em ir às urnas e os argumentos aduzidos para a sua apresentação. Só se justifica aquela insistência em manter o candidato na primeira volta se este assumir ser unicamente um claro porta-voz das posições do PCP em relação ao Governo de Sócrates. Por isso, denuncia todos os outros como tendo compromissos com o poder vigente, realçando em Manuel Alegre todas as supostas convergências com Sócrates e o seu passado de socialista e esquecendo-se todas as rupturas em que ele ultimamente participou: valoriza-se o negativo e esquece-se o positivo.
Penso que neste momento para o PCP é mais importante a crítica da governação socrática do que a vitória de Cavaco, já que segundo aquele partido são farinha do mesmo saco. Qualquer possível vitória do Manuel Alegre só iria criar a ilusão de que o PS é de esquerda e facilitaria a manutenção de Sócrates no poder. Ao contrário do que se verificou noutras eleições presidenciais, o PCP considera mais importante uma ruptura com o Governo de Sócrates, que ilusoriamente pensa que conseguirá sozinho, do que a reeleição do actual presidente. Se Manuel Alegre chegar a uma segunda volta estou curioso para ver qual a atitude que o PCP irá tomar. Se fará o mesmo esforço que fez em relação à eleição de Mário Soares e se aconselhará os seus militantes a tomar sais de fruto para melhor digirir o sapo.
Pelo que atrás se disse, pode-se concluir que o PCP, não percebendo o que está em causa nestas eleições – derrotar o candidato de direita e promover a eleição de um de esquerda, que no caso presente só poderá ser o Manuel Alegre, – se preocupa unicamente com a espuma dos dias entretendo-se a apontar as armas da crítica, neste caso, sobre o inimigo secundário. Ou então, numa total incapacidade de distinguir os diversos alvos, considerar Sócrates e Cavaco como os seus principais inimigos.
Quem estudou a história do movimento comunista identifica hoje as actuais posições do PCP e de alguns partidos afins, como o grego (ver este meu post), com a esquerdização da Internacional Comunista, que se verificou no final dos anos 20, princípios de 30, (ver aqui) quando os socialistas, e também aqueles que eram de esquerda, foram considerados como sociais-fascistas. Os tempos são muito parecidos e o ressuscitar de alguns livros do tempo de Estaline são um sintoma um pouco exasperante. O candidato escolhido é um bom exemplo disso. A ver vamos se não tenho razão.
Cipriano Justo num artigo publicado no Público, a 6/09/10 (sem link), e que denominou As boas razões do PCP, considerava em subtítulo “O que é questionável não é o seu candidato, são os argumentos avançados para justificar a candidatura”, o que resume sucintamente o conteúdo do artigo.
Cipriano Justo não contesta a apresentação de uma candidatura pelo PCP e até justifica a sua apresentação e acha que numa primeira volta ela é indispensável, dado que um processo de convergência com outras candidaturas, neste caso com Manuel Alegre, há muito tempo que se devia ter iniciado.
Estando no essencial de acordo com estas afirmações, gostaria de lembrar que a desistência das candidaturas presidenciais do PCP a favor de outras logo na primeira volta se deu em condições em que anteriormente não tinha havido uma clara convergência à esquerda. Quando o PCP desistiu a favor de Eanes, na segunda recandidatura deste, qual tinha sido a convergência de esquerda com aquele candidato e os seus apoiantes? Quando mais tarde o PCP desistiu a favor de Salgado Zenha, que tinha sido um dos obreiros da luta do PS contra a unicidade sindical, qual era a convergência que havia com ele. Já não falarei de Mário Soares porque aí estávamos numa segunda volta e outra opção não seria possível.
Também a desistência a favor de Jorge Sampaio, apesar da experiência positiva da Câmara de Lisboa, não correspondia a nenhuma convergência que nessa altura houvesse com o Governo PS, de António Guterres, de que ele era a emanação.
Diria que os tempos são outros e outra é a orientação política do PCP. Concordo que tanto no caso de Ramalho Eanes, como no de Salgado Zenha não era o PS que estava no Governo e que com Jorge Sampaio, estávamos ainda no estado de graça do primeiro governo de António Guterres. Hoje, qualquer desistência a favor do candidato apoiado também por Sócrates, mesmo que contrariado, é um pouco diferente. Mas, apesar desta nova situação, o PCP também mudou bastante em relaçãoa esse seu passado, manifestando um completo enquistamento e uma total incapacidade de discussão das questões de convergência com as outras forças políticas de esquerda. O candidato escolhido por aquele partido é o melhor exemplo disso.
Pelas razões atrás expostas não tenho a certeza, como Justo, de não ser desejável, mais uma vez, que o candidato do PCP desista na primeira volta a favor daquele que na esquerda estiver em melhores condições para derrotar Cavaco.
A segunda parte do artigo de Justo é a crítica às razões aduzidas pelo PCP para apresentar uma candidatura própria. Aquele partido acha que nenhum candidato é capaz de denunciar com clareza as malfeitorias do Governo de Sócrates, o que sendo verdade, não é nestas eleições o que está em causa, mas sim derrotar o presidente de direita. Eu não faria como Justo uma separação tão clara entre a apresentação de uma candidatura própria e a sua insistência em ir às urnas e os argumentos aduzidos para a sua apresentação. Só se justifica aquela insistência em manter o candidato na primeira volta se este assumir ser unicamente um claro porta-voz das posições do PCP em relação ao Governo de Sócrates. Por isso, denuncia todos os outros como tendo compromissos com o poder vigente, realçando em Manuel Alegre todas as supostas convergências com Sócrates e o seu passado de socialista e esquecendo-se todas as rupturas em que ele ultimamente participou: valoriza-se o negativo e esquece-se o positivo.
Penso que neste momento para o PCP é mais importante a crítica da governação socrática do que a vitória de Cavaco, já que segundo aquele partido são farinha do mesmo saco. Qualquer possível vitória do Manuel Alegre só iria criar a ilusão de que o PS é de esquerda e facilitaria a manutenção de Sócrates no poder. Ao contrário do que se verificou noutras eleições presidenciais, o PCP considera mais importante uma ruptura com o Governo de Sócrates, que ilusoriamente pensa que conseguirá sozinho, do que a reeleição do actual presidente. Se Manuel Alegre chegar a uma segunda volta estou curioso para ver qual a atitude que o PCP irá tomar. Se fará o mesmo esforço que fez em relação à eleição de Mário Soares e se aconselhará os seus militantes a tomar sais de fruto para melhor digirir o sapo.
Pelo que atrás se disse, pode-se concluir que o PCP, não percebendo o que está em causa nestas eleições – derrotar o candidato de direita e promover a eleição de um de esquerda, que no caso presente só poderá ser o Manuel Alegre, – se preocupa unicamente com a espuma dos dias entretendo-se a apontar as armas da crítica, neste caso, sobre o inimigo secundário. Ou então, numa total incapacidade de distinguir os diversos alvos, considerar Sócrates e Cavaco como os seus principais inimigos.
Quem estudou a história do movimento comunista identifica hoje as actuais posições do PCP e de alguns partidos afins, como o grego (ver este meu post), com a esquerdização da Internacional Comunista, que se verificou no final dos anos 20, princípios de 30, (ver aqui) quando os socialistas, e também aqueles que eram de esquerda, foram considerados como sociais-fascistas. Os tempos são muito parecidos e o ressuscitar de alguns livros do tempo de Estaline são um sintoma um pouco exasperante. O candidato escolhido é um bom exemplo disso. A ver vamos se não tenho razão.
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