19/02/2010

Guia para um homem volúvel


Gene Kelly, num filme que se chamava em português Guia para um homem volúvel, tradução inventada pelas nossas distribuidoras de A Guide for the Married Man (1967), contava em diversos episódios como era possível um homem casado enganar a mulher, sem ser descoberto.
Aquele que me ficou na memória era a história de um homem que estava deitado com a amante na cama e é apanhado pela “legítima” nessa situação difícil para negar a existência de adultério. Com esta premissa começa uma das rábulas mais engraçadas que vi em cinema. A todas as perguntas que a esposa lhe faz ele nega que exista qualquer mulher naquele quarto. Negando sempre, dá tempo para se vestirem, fazerem a cama onde estavam deitados e a amante poder sair. Ele continua sempre a negar, e quando ela sai, diz que não sabe de quem é que a mulher está a falar. Esta perante a total negativa do marido e depois do próprio desaparecimento do objecto da sua inquirição chega mesmo a duvidar que tivesse visto o marido na cama com outra mulher. Não sei se o episódio tinha este nome, mas ele podia-se resumir nesta frase: nega, nega sempre.
Veio-me à memória este episódio tão engraçado do filme de Gene Kelly a propósito das declarações de José Sócrates sobre as escutas. E não só de José Sócrates, também de António Costa, na Quadratura do Círculo. Eles negam com tanta convicção aquilo que toda a gente está a ver que chegam a convencer-nos que nada daquilo que ouvimos e vemos é verdade. Porque não há qualquer dúvida. Apesar de todos garantirem que José Sócrates tinha mentido no Parlamento este vem hoje com toda a desfaçatez garantir mais uma vez que não sabia de nada. Tal como o homem casado que enganava a mulher, José Sócrates nega, nega sempre.

4 comentários:

F. Penim Redondo disse...

Por causa deste teu post dei-me ao trabalho de ir procurar a cena que tu referes ao Youtube. Encontrei e publiquei no DoteCome.

É realmente engraçadíssima.

Anónimo disse...

Sim eles negam com a mesma convicção com que os outros acusam.
Só que quando se acusa na praça publica toda a gente acredita da bondade das acusações quando se nega em defesa própria, aí os tipos estão a mentir. Alguem que queira ser honesto e bem intencionado não saberá em quem acreditar. Eu só gostava que ao menos acusassem e provassem em tribunal uma acusaçãosita para ao menos ficarmos "finalmente" descansados e podermos apontar o indicador com convicção e dizer, convictamente, malandros! Assim continuaremos nestes jogos florais com o país a deslisar para o abismo, que como eu já disse e volto a repetir, no fim a alguém ha-de servir, mas não ao povo com certeza absoluta. Ja era tempo de deixarmos estes "mind games" apenas para o futebol e levarmos os interesses do país mais a sério. Só que lá no fundo o que a malta gosta é disto. FCouto

Anónimo disse...

convicção e convictamente é pleonasmo, sorry! fc

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Para FCouto

Obrigado pelo seu comentário. Ao longo de diversos post que coloquei na net tentei demonstrar que, por experiência própria, não era para mim novidade muita da crítica que é feita ao carácter de José Sócrates.
Por outro lado, considero que o caso das casinhas das Beiras e da licenciatura, não sendo nenhum crime são reveladoras de um passado e de uma atitude. Quanto ao Freeport, acredito que ele não tenha recebido qualquer luva para aprovar o empreendimento, mas a história que o tio contou e que não foi desmentida é suficientemente reveladora para demonstrar que aquele aforismo: “um pedido seu é uma ordem”, se pode aplicar a Sócrates e ao seu grupo. E ainda mais, num caso que não foi explorado, o da alteração de poder na autarquia de Alcochete: já que o autarca da CDU perdeu as eleições, provavelmente entre outras coisas, por o projecto ter sido chumbado e mal o novo autarca do PS toma posse o projecto avança a toda a velocidade. Eu debrucei-me sobre este assunto com algum cuidado.
Por último, este caso das escutas, mas a que poderíamos juntar o e-mail colocado oportunamente durante a campanha eleitoral no Diário de Notícias, mostra um PS e um primeiro-ministro disposto a tudo para poder ganhar eleições. É evidente que este é o meu ponto de vista que resulta da apreciação da realidade. Quem acredita em José Sócrates e na sua equipa política tem alguma dificuldade em fazer esta apreciação. Achará que há sempre uma manobra por detrás disto. Nestes termos é sempre muito difícil travar uma discussão sobre o assunto