07/02/2010

Agarrem-me, se não eu bato-lhe


Num programa da Quadratura do Círculo, António Costa disse que um Governo minoritário só se podia manter no Poder se governasse com altos índices de popularidade. Foi de facto o que sucedeu com os governos de Guterres.
Esta afirmação foi feita ainda em tempo de vacas gordas, quando se fingia que se desconhecia o valor do deficit e não se tinha ainda apresentado o orçamento. Hoje ela seria impossível, porque com as medidas restritivas que vão ser impostas, ninguém acredita que se possa governar com elevados índices de popularidade.
É evidente que esta opinião de António Costa era provavelmente só partilhada por ele, porque desde o princípio se percebeu que o Governo de José Sócrates não iria por aí. Iria utilizar a manobra política e a encenação como método de Governo, tentando dar o ar de que tinha sido muito correcto com a oposição e que esta o manietava, podendo a qualquer momento rebentar uma crise política.
Foi este o caminho seguido desde o princípio. Primeiro, a encenação com quem iria fazer governo. Comportou-se como a carochinha que estava à janela e se oferecia para qualquer um que passasse. Depois, tentando fazer jogo duplo com a oposição, prometendo ao CDS a resolução do problema dos professores e acabando por o solucionar com o PSD, que permitiu que este problema passasse para os sindicatos. A seguir a estratégia da vitimização, ao classificar um conjunto de medidas aprovadas na Assembleia da República, relativamente a impostos, como uma 6º feira negra, dia em que tinha verificado uma “coligação negativa” para o derrotar. Depois destas encenações, consegue, com a ajuda do Presidente da República, fazer passar orçamento, que era aquilo que no fundo lhe garantia a sobrevivência. Mas ainda este assunto estava a ser discutido, quando começa a encenação sobre a Lei das Finanças Regionais, esticando a corda até ao limite do possível, acabando ridiculamente com a palestra do Ministro das Finanças, na quinta-feira, onde depois da ameaça, nunca dita, mas sempre sugerida da sua demissão, acaba com o ministro a dizer que até 2013, não iria aplicar a tal lei. Estava de pedra e cal e nunca lhe passou pela cabeça demitir-se, isto não disse, mas é aquilo que se deduz de toda esta trágico-comédia.
Tenho para mim, que estas encenações e rábulas não poderão durar muito. Pode-se mentir uma vez, duas, três, mas a determinada altura já ninguém acredita nisso, daí o título do meu post: agarrem-me, se não eu bato-lhe.

Dito isto, penso que este Governo já ultrapassou o prazo de validade. José Sócrates é um incapaz e uma perigosa personagem, que as últimas revelações sobre as escutas da operação Face Oculta vieram pôr mais uma vez em destaque. O Partido Socialista corre o risco com este primeiro-ministro de se afundar nas próximas eleições.
O problema central desta crise é que não é só política, é também económica, com uma forte componente de terror junto da opinião pública, mas acima de tudo de quem vive do seu trabalho ou, pior ainda, da ausência dele. E esta situação nem sempre é boa conselheira. A história está cheia de exemplos de como podem acabar as crises económicas. A ascensão do nazi-fascismo foi a resolução pelas classes dominantes da crise de 1929, mas também a solução que as camadas intermédias e alguns trabalhadores encontraram para superar a situação de desgraça económica em que se encontravam.
Sem de modo algum considerar que estamos à porta do fascismo, a verdade é que esta crise, para que o PS de Sócrates nos está a arrastar, pode ser resolvida lamentavelmente a favor da direita. PSD e CDS, apoiados em Cavaco, podem muito bem resolver a situação a favor do grande capital e dos patrões, introduzindo os cortes que ultimamente se tem reclamado em relação aos salários da função pública e que rapidamente se estenderiam a todos os outros trabalhadores.
A esquerda, à esquerda do PS, tem que estar prevenida para isso. Não podendo cair nos braços de Sócrates, tem que mostrar que é também uma alternativa credível para a saída da crise. Sexta-feira parece que derrotámos o Governo ao aprovar a Lei das Finanças Regionais, e provavelmente não havia outra saída, mas amanhã pode ser a direita a derrotar-nos. Está tudo em aberto.

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