01/02/2009

O Eixo do Mal. Ainda o caso Freeport


Volto novamente ao assunto unicamente porque me apetece comentar as posições políticas e ideológicas assumidas por cada um dos intervenientes na discussão de ontem do Eixo do Mal, da SIC Notícias, toda dedicada ao Freeport.

Daniel de Oliveira assumiu o papel do comentador sério, mais preocupado com o país do que com a queda do Primeiro-Ministro, mas levantando algumas dúvidas que considera que devem ser esclarecidas e achando, e bem, que as justificações de José Sócrates só acrescentam mais ruído ao ruído existente.
É a posição responsável, de quem quer ver resolvida a situação rapidamente, a bem do país. Penso que era a única posição séria que ali se podia tomar e que corresponde à visão que o Daniel de Oliveira tem do papel que a esquerda, à esquerda do PS, deve desempenhar nestas circunstâncias, se quer algum dia vir a ser Governo. Veja-se um post anterior meu referente a um texto do Daniel de Oliveira para o Le Monde Diplomatique.

Clara Ferreira Alves, dizendo que não gosta do Sócrates, esteve todo o tempo defendendo-o recorrendo sempre aqueles argumentos que alguns dos apoiantes do Primeiro-ministro utilizam, como seja, se numa situação inversa nós enviaríamos, sem previamente haver um contacto diplomática, uma carta rogatória que considerava suspeito o primeiro ministro britânico, ou que este processo se iniciou com uma carta anónima, no final de 2004, e que todo o processo foi depois julgado como conspiração contra o candidato a primeiro-ministro, que era na altura o José Sócrates. Pelo meio, foi falando que os processos contra os banqueiros não davam em nada, tal como no caso dos submarinos de Paulo Portas. Ou seja, foi tentando mostrar que a direita também tem muitos rabos-de-palha e que normalmente ficam em águas de bacalhau. Falou também, deixando a suspeição no ar, de que a Carlyle, que tinha comprado recentemente o Freeport, era uma empresa que já se tinha envolvido em assuntos pouco claros em Portugal. Etc., etc..
Clara Ferreira Alves que tem uma posição séria sobre as questões do Médio Oriente, por vezes deixa-se arrastar por alguma demagogia histriónica em relação a alguns casos nacionais. Quanto a mim faltou-lhe muita objectividade, parecendo que estava cheia dela, na apreciação deste caso.

Luís Pedro Nunes gosta de se considerar anarquista e humorista, nunca levando nada a sério, excepto em relação a Cavaco Silva, pessoa da sua particular devoção. Não leva a sério as afirmações do Daniel e do Bloco de Esquerda e está sempre a gozar com o feminismo da Clara. O anarquismo desta gente corresponde normalmente a estar-se nas tintas para a política e para as opções ideológicas dos outros, mas principalmente nunca levar a sério as propostas da esquerda. No entanto, e porque as posições do PS o atacavam a ele e aos seu jornal, fez a crítica mais certeira da noite. Considera que a estratégia defendida por José Sócrates e pelo PS são a da vitimização e de pensarem que tudo isto resulta de uma cabala, "camapanha negra" afirmam, e que quem intervém ou fala do processo, para além do Procurador, está a colaborar com a cabala, podendo mesmo, em último caso, ser vítima de investigação policial. Santos Silva dixi.

Pedro Marques Lopes (PML) é um caso espantoso do comentador bem pensante. Comecei por classificá-lo com que um reaccionário boçal, o que me valeu muitas críticas e o que de facto não é. Posteriormente, já corrigi a mão. Mas continuo a considerá-lo como o protótipo da bem pensância nacional.
Está contra estas insinuações e ataques ao Primeiro-Ministro porque a priori os Ministros e os Governantes deste país são inocentes, não se deve lançar suspeitas sobre eles. Este tipo de clima de suspeição pode levar ao aparecimento de extremismos. É evidente que o fascismo também se alimenta disto, mas não foi isto que PML disse, ele falou dos extremismos, que, como se depreende, tanto podem ser de extrema-direita como de extrema-esquerda. Pouco falou do caso Freeport, mas criticou muito, e até com alguma razão, o aparecimento excessivo da Procuradora-Geral Adjunta, Cândida Almeida. Considerando, também bem, que a senhora não tinha nada que dar palpites sobre os governos de gestão. Quanto a mim foi esta a parte melhor dele, o resto foi a defesa das instituições oficiais, que não podem nunca cair na rua.

Não sei se alguém se dará ao trabalho de ler este post. Mas penso que aqueles que regularmente seguem este programa poderão, com algum proveito, confrontar o que aqui é dito com as suas opiniões e comentar se estou ou não muito próximo do que pensam.

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