Francisco Louçã, na sua intervenção final na VI Convenção do Bloco de Esquerda, resolveu invocar Darwin, no ano em que se comemora os 150 anos da publicação da Origem das Espécies e os 200 anos do seu nascimento. Começou por nos relatar um episódio das discussões que se travaram na época sobre a teoria da evolução e acabou com as palavras finais do livro mais famosos daquele cientista.
Darwin continua a ser hoje uma fonte de inspiração e de grandeza científica, alicerçada fundamentalmente na observação minuciosa da natureza. Já Marx, contemporâneo da publicação daquela obra, lhe teceu elogios e fez comparações com os seus estudos sobre a evolução da sociedade. Por isso, foi uma boa inspiração para o seu discurso.
A intervenção de Louçã dividiu-se em quatro partes. A primeira, uma caracterização económica da situação, a segunda, seis propostas concretas, a terceira, como devemos fazer e a quarta, na sequência da anterior, como se iriam apresentar às eleições.
Depois de apresentar os números do Governo chega à conclusão que o país está pior. A crise do país é a crise da sua classe dominante e que a ganância, que alguns dizem que é a única coisa que é preciso combater, é o capitalismo em acção, é a acumulação capitalista. Estas palavras estão em contradição com aqueles que afirmam que as propostas de Louçã depositam “toda a confiança no crescimento económico do capitalismo” e “são contra o capitalismo selvagem e neoliberal”, defendendo que aquele seja “regulado pelo Estado para pôr na ordem os capitalistas gananciosos. Não haverá nada de novo para dizer nestes tempos além da nostalgia do estafado keynesianismo?” (de um e-mail que recebi). Parece-me que sobre isto há muitas ideias feitas.
Depois gostaria de sublinhar algumas afirmações que já fizeram curso na informação e que podem servir como palavras de ordem: “se foram ao casino que paguem o casino. Nós não pagamos”. Como este slogan nos lembra outros, muito mais recuados no tempo.
Mas há mais: “a elite do PSD arrombou o banco e a maioria do PS paga a conta”. “A ganância é o nome próprio do capitalismo” e “isto é o mercado a funcionar”, reafirmando a posição anti-capitalista que já se tinha sublinhado anteriormente.
Depois, as seis propostas económicas e sociais para de imediato estancar a crise e melhorar a vida dos trabalhadores:
- Criar um serviço público bancário.
- Impedir que as empresas que recebam subsídios não entreguem dividendos aos accionistas.
- Proibir os despedimentos em empresas que têm resultados.
- Melhorar o nível de vida das pessoas, aumentando o salário mínimo para 600 € e as pensões, que se devem aproximar deste.
- Revogar o código de trabalho, principalmente a medida do banco de horas, caminhando para a redução do horário do trabalho que se deve aproximar das 35 horas semanais e com mais direitos.
- Taxar as grandes fortunas com impostos.
Qualquer destas medidas se poderia incluir num programa reformista. No entanto, são medidas concretas, que podem servir de bandeira de luta e cuja aplicação já provocaria grandes embaraços ao capitalismo dominante.
A terceira parte foi a dedicada a “como devemos fazê-lo”, ou seja, que instrumentos políticos temos para actuar. E aqui reside a parte mais controversa da sua intervenção e de toda a estratégia do Bloco. Mas sobre as críticas falarei mais adiante ou noutro post.
Louçã defendeu a convergência das esquerdas e uma esquerda grande e que esta será “anti-capitalista, porque só pode ser socialista”. Aqui, do ponto de vista ideológico, não dá razão àqueles que acusam o Bloco de ser social-democrata. Hoje a social-democracia, não é anti-capitalista, nem defende o socialismo. Por isso debaixo desta bandeira é possível agregar muitas forças que se reconhecem nesta formulação.
Aonde vai Louçã buscar a força social para apoiar esta esquerda grande, ou seja, em que bloco histórico se apoia, e aí enumera algumas camadas em situação de grande dificuldade económica, considerando-as os representantes dos mais explorados e defendendo pois uma aliança do trabalho.
Segue-se, como conseguir politicamente essa esquerda grande. Não tem “nenhuma pressa”. Considera que “as políticas dos arranjos degradam sempre a política”. Aqui está de certeza a referir-se a todos aqueles que achavam que era possível já fazer um partido com Manuel Alegre e juntar bloquistas e alegristas para as eleições que se avizinham. No entanto, em reposta às críticas que o PCP lançou ao Bloco no seu Congresso afirma: “não houve nesta Convenção uma palavra de sectarismo contra as outras esquerdas”. E termina esta parte dizendo “queremos agora juntar forças” e para aqueles que consideram que em relação ao Trindade e à Aula Magna houve uma floresta de enganos esclarece “ninguém está por acaso nessas convergências, ninguém está enganado nessas convergências”.
Depois, aquilo que para os críticos é mais grave, propõe que o Bloco vá sozinho às europeias, ajustando contas contra aqueles que nos recusaram o referendo europeu. Propõe igualmente que vá sozinho às legislativas, com um Programa de Governo, que começará já este mês a discutir. Para as autárquicas acontecerá o mesmo, excepto naqueles casos em que o Bloco local considere que é vantajoso apoiar uma lista de cidadãos independentes.
Para as presidenciais, que se realizarão antes de terminar o mandato desta direcção, afirmou que não discute nomes, agradecendo a todo aqueles que já indicaram o escolhido, Manuel Alegre, cujo o nome não foi referido. Para estas eleições parece claro que o Bloco procura um candidato comum das esquerdas, ou das esquerdas grandes. Alguns críticos dizem que o Bloco relegou para as calendas a convergência das esquerdas.
Terminaria esta parte, para não maçar mais, deixando para outro post algumas críticas importantes que foram feitas a esta intervenção e mais algumas reflexões que se me ofereçam sobre um assunto que eu gostava de abordar que é a questão do poder e do contra-poder.
Só ressalvaria porque é notório, e só não vê nem não quer ver, a qualidade do discurso de Louçã, os seus extraordinários dotes oratórios. Louçã, em palco, faz teatro, no bom sentido, ele representa, modela a voz consoante o papel que interpreta, prende a assistência. Vejam o vídeo da sua intervenção e concordarão comigo.
Darwin continua a ser hoje uma fonte de inspiração e de grandeza científica, alicerçada fundamentalmente na observação minuciosa da natureza. Já Marx, contemporâneo da publicação daquela obra, lhe teceu elogios e fez comparações com os seus estudos sobre a evolução da sociedade. Por isso, foi uma boa inspiração para o seu discurso.
A intervenção de Louçã dividiu-se em quatro partes. A primeira, uma caracterização económica da situação, a segunda, seis propostas concretas, a terceira, como devemos fazer e a quarta, na sequência da anterior, como se iriam apresentar às eleições.
Depois de apresentar os números do Governo chega à conclusão que o país está pior. A crise do país é a crise da sua classe dominante e que a ganância, que alguns dizem que é a única coisa que é preciso combater, é o capitalismo em acção, é a acumulação capitalista. Estas palavras estão em contradição com aqueles que afirmam que as propostas de Louçã depositam “toda a confiança no crescimento económico do capitalismo” e “são contra o capitalismo selvagem e neoliberal”, defendendo que aquele seja “regulado pelo Estado para pôr na ordem os capitalistas gananciosos. Não haverá nada de novo para dizer nestes tempos além da nostalgia do estafado keynesianismo?” (de um e-mail que recebi). Parece-me que sobre isto há muitas ideias feitas.
Depois gostaria de sublinhar algumas afirmações que já fizeram curso na informação e que podem servir como palavras de ordem: “se foram ao casino que paguem o casino. Nós não pagamos”. Como este slogan nos lembra outros, muito mais recuados no tempo.
Mas há mais: “a elite do PSD arrombou o banco e a maioria do PS paga a conta”. “A ganância é o nome próprio do capitalismo” e “isto é o mercado a funcionar”, reafirmando a posição anti-capitalista que já se tinha sublinhado anteriormente.
Depois, as seis propostas económicas e sociais para de imediato estancar a crise e melhorar a vida dos trabalhadores:
- Criar um serviço público bancário.
- Impedir que as empresas que recebam subsídios não entreguem dividendos aos accionistas.
- Proibir os despedimentos em empresas que têm resultados.
- Melhorar o nível de vida das pessoas, aumentando o salário mínimo para 600 € e as pensões, que se devem aproximar deste.
- Revogar o código de trabalho, principalmente a medida do banco de horas, caminhando para a redução do horário do trabalho que se deve aproximar das 35 horas semanais e com mais direitos.
- Taxar as grandes fortunas com impostos.
Qualquer destas medidas se poderia incluir num programa reformista. No entanto, são medidas concretas, que podem servir de bandeira de luta e cuja aplicação já provocaria grandes embaraços ao capitalismo dominante.
A terceira parte foi a dedicada a “como devemos fazê-lo”, ou seja, que instrumentos políticos temos para actuar. E aqui reside a parte mais controversa da sua intervenção e de toda a estratégia do Bloco. Mas sobre as críticas falarei mais adiante ou noutro post.
Louçã defendeu a convergência das esquerdas e uma esquerda grande e que esta será “anti-capitalista, porque só pode ser socialista”. Aqui, do ponto de vista ideológico, não dá razão àqueles que acusam o Bloco de ser social-democrata. Hoje a social-democracia, não é anti-capitalista, nem defende o socialismo. Por isso debaixo desta bandeira é possível agregar muitas forças que se reconhecem nesta formulação.
Aonde vai Louçã buscar a força social para apoiar esta esquerda grande, ou seja, em que bloco histórico se apoia, e aí enumera algumas camadas em situação de grande dificuldade económica, considerando-as os representantes dos mais explorados e defendendo pois uma aliança do trabalho.
Segue-se, como conseguir politicamente essa esquerda grande. Não tem “nenhuma pressa”. Considera que “as políticas dos arranjos degradam sempre a política”. Aqui está de certeza a referir-se a todos aqueles que achavam que era possível já fazer um partido com Manuel Alegre e juntar bloquistas e alegristas para as eleições que se avizinham. No entanto, em reposta às críticas que o PCP lançou ao Bloco no seu Congresso afirma: “não houve nesta Convenção uma palavra de sectarismo contra as outras esquerdas”. E termina esta parte dizendo “queremos agora juntar forças” e para aqueles que consideram que em relação ao Trindade e à Aula Magna houve uma floresta de enganos esclarece “ninguém está por acaso nessas convergências, ninguém está enganado nessas convergências”.
Depois, aquilo que para os críticos é mais grave, propõe que o Bloco vá sozinho às europeias, ajustando contas contra aqueles que nos recusaram o referendo europeu. Propõe igualmente que vá sozinho às legislativas, com um Programa de Governo, que começará já este mês a discutir. Para as autárquicas acontecerá o mesmo, excepto naqueles casos em que o Bloco local considere que é vantajoso apoiar uma lista de cidadãos independentes.
Para as presidenciais, que se realizarão antes de terminar o mandato desta direcção, afirmou que não discute nomes, agradecendo a todo aqueles que já indicaram o escolhido, Manuel Alegre, cujo o nome não foi referido. Para estas eleições parece claro que o Bloco procura um candidato comum das esquerdas, ou das esquerdas grandes. Alguns críticos dizem que o Bloco relegou para as calendas a convergência das esquerdas.
Terminaria esta parte, para não maçar mais, deixando para outro post algumas críticas importantes que foram feitas a esta intervenção e mais algumas reflexões que se me ofereçam sobre um assunto que eu gostava de abordar que é a questão do poder e do contra-poder.
Só ressalvaria porque é notório, e só não vê nem não quer ver, a qualidade do discurso de Louçã, os seus extraordinários dotes oratórios. Louçã, em palco, faz teatro, no bom sentido, ele representa, modela a voz consoante o papel que interpreta, prende a assistência. Vejam o vídeo da sua intervenção e concordarão comigo.
2 comentários:
"chega à conclusão que o país está pior."
- Extraordinário que descoberta assombrosa -lá se vai a glória do Colombo- tenho um vizinho o Tozé que que já me tinha dito uma coisa parecida - :( A vida cada vez pior. não sei onde vamos parar :() Mas agora confirma-se o Louçã disse tá dito! Lá se foi os direitos de autor do Tozé.
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"A crise do país é a crise da sua classe dominante e que a ganância, que alguns dizem que é a única coisa que é preciso combater, é o capitalismo em acção, é a acumulação capitalista."
Eu cá acho que aqui existe alguma confusão ou será contradição... "a crise do país é da classe dominante ou ela a crise é do sistema capitalista:()Se é da classe dominante (Grande burguesia gananciosa q )basta substituir a tal classe dominante e resolvesse o problema...Mas de+pois quis emendar a mão e diz: a crise é culpa do capitalismo.- Não haverá nisto uma certo reflexo condicionado? -:Há de facto ideias feitas até há os pré-cozinhados :)
-----------------------------------sem adiante que se faz tarde......já conhecidas e apresentadas...
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"a convergência das esquerdas e uma esquerda grande e que esta será “anti-capitalista, porque só pode ser socialista”. Aqui, do ponto de vista ideológico, não dá razão àqueles que acusam o Bloco de ser social-democrata."
-Haver vamos digo eu.
-"Aonde vai Louçã buscar a força social para apoiar esta esquerda grande,"
- Boa pergunta!
"Segue-se, como conseguir politicamente essa esquerda grande. Não tem “nenhuma pressa”. Considera que “as políticas dos arranjos degradam sempre a política”. Aqui está de certeza a referir-se a todos aqueles que achavam que era possível já fazer um partido com Manuel Alegre e juntar bloquistas e alegristas"
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-Tou a ficar um pouco tonto...mas não afirmou:
"esquerda grande e que esta será “anti-capitalista, porque só pode ser socialista”---"Já" não! mas logo se verá Aquele "já" quer dizer o que precisamente?
o Manuel Alegre a Arqt Helena Roseta é Socialista? será social-democrata? tenho as minhas duvidas!
-Em Fim adiante...........
-Pois juntar forças e vai sozinho?!
Então não é juntar forças mas sim e isso é que deveria ser dito ir só para reforçar eleitoralmente o Bloco e depois logo se junta forças na acção- Isto sim é limpinho como água!
- Ele canta bem é engraçado e tem jeitinho e poderá ter até algum existo a não ser que lhe aconteça como na ultimas presidenciais em que o Actor não convenceu e ficou nas boxes.
-De manhas e artimanhas tamos nós cheios.
"ULTIMA HORA:
Dirigentes regionais do PCP agredidos por responsáveis da empresa Santa Marta - Indústria de Vestuário, Lda. em Penafiel
Na sequência da entrega de um comunicado do PCP aos trabalhadores da empresa Santa Marta - Indústria de Vestuário, Lda., em Penafiel, em que se denunciavam ilegalidades e atitudes intimidatórias por parte desta empresa, três indivíduos ligados à Santa Marta invadiram a sede do PCP em Penafiel e agrediram dois dirigentes comunistas.
Estes actos bárbaros só comprovam a veracidade da denúncia do PCP e merecem o repúdio de todos aqueles que prezam os valores democráticos de Abril.
Em defesa da liberdade e da democracia, dos direitos dos trabalhadores e das populações a uma vida digna e a um trabalho com direitos, o PCP vai realizar uma nova distribuição à porta da Empresa Santa Marta, em Penafiel, amanhã, sexta-feira, pelas 13 horas, em que participará Honório Novo, deputado do PCP na Assembleia da República."
Para que saibam,
13/2/09 00:50
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