A direita, pela voz Vasco Pulido Valente, não reservava grande futuro a um Congresso que neste momento discutisse Marx: “seria sempre uma reunião um pouco saudosista e patética” (ver aqui). Já se sabe que este era o desejo de uma dos seus mais enfatuados representantes, mas não foi isto o que de facto aconteceu.
Foi um Congresso vivo, bastante participado, com uma variedade de temas e de comunicações que abrangiam quase todas as áreas do saber. Esta foi sem dúvida uma das suas principais características e aquela que mais se deve realçar.
1 - A organização
As organizações responsáveis pela realização do Congresso foram a Cultra – Cooperativa de Cultura Trabalho e Socialismo, a Transform! - European Network for Alternative Thinking and Political Dialongue e o IHC – Instituto de História Contemporânea.
O Congresso era composto por painéis, com quatro ou cinco a funcionarem à mesma hora, com três comunicações cada um, e quatro sessões plenárias com intervenções de convidados. Havia tradução simultânea do inglês, do francês e, penso que, do espanhol para português. A participação de estrangeiros, principalmente de brasileiros e de espanhóis foi extraordinária.
Pretendeu-se seguir um modelo abrangente para este Congresso, o que tendo sido uma opção correcta, obrigou, a quem quisesse seguir com alguma atenção o que se passava em cada um dos painéis, a uma verdadeira maratona, acabando sempre por falhar aquele, que depois vinha a saber, tinha sido o mais apelativo.
Mesmo pessoas interessadas, como este vosso comentador, que previamente estudaram o programa e escolheram os painéis que lhe poderiam interessar, chegaram ao fim com a sensação que falharam o que mais importante foi dito. Não sei que solução dar a este fenómeno de grande desejo comunicacional manifestado pelos marxistas, mas, verificando-se que em quase todos os painéis houve faltas de comparência de alguns comunicantes, não teria sido possível reduzir o seu número, fazendo uma selecção mais apertada de modo a garantir que as ausências não perturbavam o andamento dos trabalhos
Quanto ao critério seguido, de só no final de todas as comunicações apresentadas em cada painel é que se iniciava a discussão das mesmas, sendo do ponto de vista de redução de tempo muito mais eficaz, obrigava a não se poder saltitar de painel em painel, pois se se queria assistir à discussão das comunicações apresentadas, e que muitas vezes era a parte mais interessava aos participantes, tinha que se assistir a todas as outras comunicações daquele painel.
2 – O conteúdo
2.1 - O sentido político
Dito isto quanto à organização, passemos ao conteúdo do Congresso.
Em primeiro lugar gostaria de fazer uma apreciação política de um observador desprevenido e que não conhece os meandros da sua realização, nem a maioria dos comunicantes.
Esta foi uma organização de pessoas ligadas ao Bloco de Esquerda que apareceu com quase toda a sua Direcção. No entanto, tem que se reconhecer que os convidados, a maioria eram estrangeiros, e muito dos comunicantes não estavam de modo algum ligados aquele Partido, nesse sentido foi interessante, contar com intervenções de José Barata-Moura, que foi convidado, ou com as comunicações de Manuel Carvalho da Silva ou de António Filipe, que segundo me disseram não apareceu para apresentar a sua.
Por isso, o Bloco de Esquerda está de parabéns pois esteve presente em força, mostrando uma visibilidade e vitalidade, capaz de mobilizar professores da academia, alunos, que apareceram em número significativo, e velhos e menos velhos “revolucionários” dos grupos ML, mas não só, que há muitos anos acompanham com interesse este tipo de problemas.
Podemos também afirmar que o PCP, como organização, esteve completamente ausente, apesar de estarem presentes militantes seus, e que aqueles que no PS ainda se reclamam de esquerda e marxistas primaram também pela falta de comparência.
2.2 – As comunicações
2.2.1 – Sexta à tarde
Passemos à descrição das comunicações e à sensação que eu tive durante todo o Congresso de que passei ao lado das mais importantes. Sigamos por isso o meu roteiro, que, pelos motivos expostos, pode não ter sido o melhor. (Ver o programa aqui).
A abertura teve lugar sexta-feira ao fim da tarde, com intervenções dos representantes de cada uma das organizações responsáveis pelo Congresso. Passou-se de imediato aos paneis. Escolhi Estado e a Sociedade. Começou por uma intervenção de Diana Raby, que conhecia com o nome masculino de Dawn Raby (tinha mudado de sexo) e que escreveu um livro bastante interessante e objectivo sobre a Resistência Antifascistas em Portugal, 1941/74” (Edições Salamandra, 1988). A sua intervenção versou principalmente sobre as questões da América Latina e acima de tudo sobre a Revolução Bolivariana. A autora, bastante segura, deu uma ideia muito favorável daquela Revolução o que, na altura da discussão, provocou alguns engulhos a vários revolucionários encartados que estavam presentes. Sempre considerei negativo pronunciarmo-nos sobre assuntos que não conhecemos e muito mais darmos conselhos sobre o modo de fazer a Revolução a quem a realiza a milhares de quilómetros de distância.
Seguiu-se a intervenção António Louçã, por sinal a última, já que o orador anterior tinha faltado, que defendeu a perspectiva leninista de que o Estado é sempre um Estado de classe, e que a democracia burguesa não passa do domínio da burguesia sobre as outras classes sociais. Citou exemplos, falou dos Conselhos, quer dos Sovietes, quer das estruturas revolucionárias semelhantes criadas na Europa Ocidental no pós-primeira Guerra Mundial. Pareceu-me uma intervenção extremamente ortodoxa, incapaz de compreender as novas discussões sobre o papel do Estado. Conhecia António Louçã como historiador empenhado, principalmente o caso do ouro dos judeus que serviu para Hitler pagar a Portugal as suas dívidas, e muitos outros livros alusivos à relação de Portugal com a Alemanha nazi, um deles já por mim comentado (O Segredo da Rua do Século, Ligações perigosas de um dirigente judeu com a Alemanha nazi (1935-1939, Fim de Século, 2007), mas desconhecia esta faceta de militante político, muito preso a um leninismo já, quanto a mim, completamente ultrapassado. A sua intervenção motivou alguma discussão, em que se retomam velhos problemas que ciclicamente regressam, parecendo sempre não estarem resolvidos. Abordarei este tema no painel a que assisti no Sábado de manhã.
Por último tivemos o Plenário desse dia. Uma das intervenções era em inglês a outra em francês. Como não compreendo bem o inglês recorri à tradução simultânea. Mas com a longa experiência que já levo de traduções simultâneas, ou estamos muito dentro dos assuntos e a reunião é de trabalho ou então perdemo-nos na tradução, acompanhando dificilmente as divagações dos autores. Foi o que me aconteceu com a intervenção nesse Plenário de Alberto Toscano, que falou em inglês sobre a religião e o marxismo. Houve depois uma intervenção, em francês, de Paolo Virno de carácter muito didáctico sobre o comum e o universal, em que me pareceu que o autor compartilhava as formulações de Negri no seu livro “Multidão”. O tema não me interessava muito, mas foi fácil seguir o raciocínio do autor. Ver sobre o mesmo a wikipedia. Depois de ouvi-lo e ler o que aquela enciclopédia virtual diz sobre o mesmo, chega-se à conclusão que há mais mundos do que aqueles que resultam da cultura franco e anglo-saxónica. Ainda bem.
2.2.2 – Sábado
Nove e trinta da manhã. Uma violência. Consegui estar a horas e ouvir os intervenientes num dos painéis que mais me interessava: História do Comunismo em Portugal. Comunicação inicial de Ricardo Noronha, que abordou os textos de ruptura com o PCP de Francisco Martins Rodrigues (FMR), principalmente aqueles em que ele critica as posições “conciliadoras” daquele Partido para com a burguesia. Pretendendo ser uma análise distanciada dos factos e das opções daquele revolucionário, mostra sem dúvida alguma afinidade para com as suas críticas, considerando-as, em comparação com as posições do PCP, como as únicas verdadeiramente leninistas, o que não deixa de ser verdade, se considerarmos com boas as premissas de análise que FMR faz da sociedade portuguesa, o que não me parece.
Seguiram-se depois duas comunicações, já por mim referidas a propósito do 1º Colóquio sobre Os Comunistas em Portugal. A primeira era relativa ao Estado e à posição do PCP sobre o mesmo, e que segundo a proposta inicial do autor, António Simões do Paço, abarcaria o período que vai da “reorganização” de 1941 à revolução de Abril de 1974, limitando-se, no entanto, a sua comunicação a fazer principalmente a apreciação do opúsculo de Álvaro Cunhal A Questão do Estado, a Questão Central de Cada Revolução.
Incidindo a sua crítica e análise na visão que o PCP tinha do Estado português, como imperialista e simultaneamente dependente do imperialismo estrangeiro, esqueceu-se que aquele partido também o considerava como representando os grandes grupos monopolistas, opondo-lhe, por isso, uma aliança das camadas anti-monopolistas. Daí as suas propostas de unidade com os representantes da burguesia democrática.
A segunda, de Miguel Cardina, era sobre os grupos maoistas em Portugal entre 1964 e 1974.
A discussão foi bastante interessante, mas falarei nela na sequência do comentário ao painel seguinte, que teve lugar na mesma sala. O tema do painel era A Revolução Portuguesa de 1974/75, uma das comunicações era de Raquel Varela, O PCP no PREC, e outra de Manuel Loff. O terceiro orador, segundo ouvi dizer, teria faltado. Foi deliberadamente que não fui. Já conhecia as opiniões da Raquel Varela, que tinha apresentado uma comunicação semelhante no Colóquio sobre os Comunistas, e de quem discordava completamente (ver o site anteriormente referido). Achei que não havia necessidade de tanto masoquismo e por isso fui ouvir pacatamente o meu amigo e militante do PCP, João Arsénio Nunes. Disseram-me depois que o painel tinha tido interesse e de facto acabou bastante tarde, provavelmente devido às discussões que lá se travaram.
Não querendo ser injusto em relação às comunicações que não ouvi, e sobre as quais não me posso pronunciar, apercebi-me, no entanto, que o sentido geral de certas intervenções no primeiro painel da manhã, que já vinha do dia anterior, com o António Louçã, e que transparecia muito nas intervenções do público, era de um ajuste de contas com algum passado mal resolvido. Muitas das interpretações que se apresentaram resultavam das visões “esquerdistas” sobre a nossa Revolução e consistiam num ataque a um partido, o PCP, que, por sua própria culpa: não está presente, não favorece a investigação, não abre os arquivos, permite que os outros falem por ele. Tem-se pois a sensação que é a vingança póstuma de um grupo, que tem hoje muito mais força política, mas que pensa e actua de modo completamente diferente, sobre um partido ideologicamente débil, sectário e autista. Verifico com tristeza, que alguns dos acontecimentos pretéritos, que já deviam ser observados com algum distanciamento histórico, ainda são objecto de confronto ideológico, e neste caso, como no Colóquio sobre os Comunistas, por um único dos lados.
Nessa mesma manhã falaram também Carlos Pimenta, um professor da Faculdade de Economia do Porto, com estudos publicados sobre a economia portuguesa, e o Manuel Carvalho da Silva, sobre o qual se dirigiram todos os holofotes. Já se sabe, perdi os dois.
Na sessão plenária da manhã houve três intervenções extremamente interessantes, duas de dois investigadores espanhóis sobre a transição em Espanha e a actuação dos Movimentos Sociais e a terceira, de Fernando Rosas, sobre a Memória e Histórica. Ressalto a sua condenação firme e decidida do historiador de “extrema-direita” Rui Ramos, que ao considerar as atitudes anti-democráticas da República iguais às do fascismo não pretende mais do que desculpabilizar este e valorizar a Monarquia. Eu, que há muito venho travando um combate solitário contra aquela personagem, veja-se, entre outros, este post, fiquei deveras satisfeito, como dizem os brasileiros de “papo cheio”.
Na parte da tarde, estive no painel sobre Correntes marxistas onde pensava assistir a uma comunicação sobre Otto Bauer e o austro-marxismo, assunto, que me interessa particularmente, pois é, a par de Gramsci, outra forma de pensar a intervenção política após a derrota da Revolução na Europa Ocidental a seguir à I Guerra Mundial. O orador faltou. Ouvi unicamente um brasileiro, Leandro Galastri, falar sobre a influência de Sorel em Gramsci, que teve o interesse de atribuir à influência daquele teórico do sindicalismo revolucionário alguns conceitos gramscianos, como, por exemplo, o de bloco histórico. Por último a de Fernando Oliveira Baptista, que foi ministro num dos Governos do Vasco Gonçalves, que estabeleceu a relação entre camponeses, que não são assalariados rurais, e marxismo. Bem interessante.
Saltitei depois para outro painel sobre Estado e Violência, onde ouvi parte da comunicação de Valério Arcary, meu conhecido do Colóquio dos Comunistas, que, com aquele à vontade típico dos brasileiros, falou da experiência política actual sul-americana. Só pela fluência e graça valeu a pena assistir. A outra comunicação era de um jovem sobre a luta armada na Itália e na Alemanha na década de 70. Nada a assinalar.
O dia estava terminado. Fiquei sempre na dúvida se perdi as comunicações mais interessantes.
2.2.3 – Domingo
Tentei chegar do Domingo a horas, ia-se discutir Marxismo, Ambiente e Ciência.
Já apanhei a comunicação de uma jovem, Rita Calvário, a meio. Tentava estabelecer uma ligação, por vezes bastante difícil, entre luta ecológica e luta de classes. Penso que conseguiu. O segundo orador faltou, o que foi a prática corrente em quase todos os painéis.
Seguiu-se aquela comunicação que mais me interessava, de Alda Sousa, Os desafios da genética e a esquerda no século XXI. A comunicação estabelecia uma relação entre a investigação em genética e a sua aplicação política e ideológica. Falou da eugenia e da esterilização forçada não só na Alemanha nazi, mas igualmente nos Estados Unidos e na Suécia, do caso Lyssenko, mas também do actual aproveitamento que as multinacionais fazem de testes genéticos para tudo e para nada e do patenteamento dos genes. Comunicação bastante interessante, que quanto a mim pecou por estabelecer uma ligação muito intima entre a investigação nesta área e o seu aproveitamento ideológico e político. É evidente que os biólogos também participaram nestes desvarios, mas a relação entre geneticistas e política é, quanto a mim, mais complexa do que as formulações apresentadas.
Foi o painel, daqueles em que estive presente, com menor participação. Mas ao assistir, por razões da minha formação profissional a estas comunicações, perdi a da Ana Barradas, que alguém me disse, provavelmente injustamente, que era como ter ido assistir a uma missa. Perdi igualmente as do Luís Fazenda e do J. P. Avelãs Nunes, que me disseram que tinha sido muito reaccionária. Não posso garantir.
Na segunda parte da manhã assisti ao painel Marx, Estado e Revolução em que Fernando Dores Costa pôs o jovem Marx a criticar o jacobinismo e a defesa que este movimento político fazia da “razão de estado”. Comunicação interessante para quem, como eu, tendo uma ideia do que diz o jovem Marx, desconhecia estes textos claramente humanistas e críticos de algumas das posições jacobinas. Depois houve uma comunicação em francês de uma brasileira, que falava mal o português. Foi um “bocadinho” difícil de a acompanhar.
Faltei a uma de Eduardo Chitas sobre Marx e a Unidade Material do Mundo e a um painel que se debruçava sobre os Problemas de História do Século XX Português, qualquer deles me interessava.
A manhã termina com a comunicação, que parece ter sido a que mais repercussão teve na imprensa, de José Barata-Moura, que tinha sido convidado para a terceira sessão plenária. Esta abre com uma comunicação, em inglês, sobre alguns conceitos da obra de Walter Benjamin. Esqueci-me de previamente ir buscar os auscultadores para acompanhar a tradução simultânea e estive todo o tempo a olhar para o relógio, saí antes do tempo. Eram quase duas horas da tarde e o Barata-Moura ainda não tinha começado. Fui almoçar. Cultura sim, mas não tanto. Soube depois que tinha sido uma lição bastante interessante, mas muito professoral. São opiniões, que não sei se as partilharia.
Tarde de Domingo. O Fernando e a Rosa Redondo iam falar sobre a sua tese Do capitalismo ao digitalismo, sobre a qual já publicaram um livro. Grande qualidade de exposição, mas com alguns conceitos controversos que mereceram discussão na sala. Depois de tudo falado e discutido não sei se o novo modo de produção que propõem não será mais capitalismo revestido de outras formas. No entanto, cabe-lhes o mérito de levantarem o problema. Depois fui assistir à comunicação do Statter, da Renovação Comunista, sobre a actualidade da lei do valor. Irá ser publicada rapidamente no site da Renovação. Decorria ao mesmo tempo a do Fernando Ramalho, esta já publicada.
O dia e o Congresso terminaram com o quarto e último plenário.
A primeira comunicação, em inglês, referia-se a um investigador argentino a viver a Inglaterra chamado Ernesto Laclau, foi um tema um bocado exótico para quem neste país desconhecia completamente este autor.
Por último, tivemos a intervenção de Nuno Nabais propondo-nos um debate em torno da democracia, recorrendo para isso a três autores, ligados neste momento ao meio intelectual francês. Os autores em causa são Ranciére, Negri e Nancy, aos quais se pode aplicar o epíteto de pós-marxistas e que nos propõe novas formulações para problemas do mundo de hoje. Para mim, sempre embrenhado na terminologia e nos conceitos marxistas, as suas propostas fogem à reflexão de Marx, mas penso que foi oportuno chamar a atenção para aqueles que à margem do marxismo, mas inspirado nele, propõem outras formulações. Este debate foi suscitado no final da sessão, o que permitiu um bom esclarecimento dos presentes, dado o carácter bastante didáctico das intervenções de Nuno Nabais.
3 – Conclusões e Sugestões
Como conclusão final podemos afirmar que uma das características deste Congresso, e a sua grande virtude, foi a elevada participação estrangeira, o número e a qualidade dos académicos convidados e a diversidade dos temas abordados. Este Congresso abriu sem dúvida portas para um marxismo que se quer renovado e propondo novos conceitos e novas formulações. Pena é que nas análises que se apresentaram sobre a história do comunismo em Portugal e da Revolução Portuguesa se continuasse a pisar os mesmos assuntos, não fugindo a algumas ideias feitas sobre eles. Mas não será isto que no futuro será lembrado deste Congresso, mas sim a sua abertura a novas perspectivas e temas.
Quanto a sugestões, para além daquelas que resultam da minha crítica a algumas opções organizativas, gostaria que tivesse havido uma maior preocupação com a divulgação de textos de apoio e a organização de uma pequena feira do livro marxista ou abordando temas marxistas. Os livros seleccionados, e que foram apresentados no átrio de entrada, eram de um modo geral escritos por autores reaccionários, contrários a qualquer formulação marxista na análise dos temas que abordam. Por outro lado, alguns brasileiros traziam envergonhadamente revistas editadas nas suas faculdades. Devia ter havido um esforço para que a delegação brasileira, tão numerosa em participantes, estivesse minimamente representada na riqueza da sua bibliografia sobre marxismo.
Por último, e justificando o título, senti-me um pouco perdido na imensidão de um Congresso em que se tinha sempre a sensação de que se tinha falhado o mais importante. Mas isto é a visão de um “chato”, que vos escreve quilómetros de prosa. PS.: Ver os comentários de Fernando Penim Redondo ao Congresso no seu blog e a resposta que lhe dei. Ficamos com mais informação sobre o que se passou.
Foi um Congresso vivo, bastante participado, com uma variedade de temas e de comunicações que abrangiam quase todas as áreas do saber. Esta foi sem dúvida uma das suas principais características e aquela que mais se deve realçar.
1 - A organização
As organizações responsáveis pela realização do Congresso foram a Cultra – Cooperativa de Cultura Trabalho e Socialismo, a Transform! - European Network for Alternative Thinking and Political Dialongue e o IHC – Instituto de História Contemporânea.
O Congresso era composto por painéis, com quatro ou cinco a funcionarem à mesma hora, com três comunicações cada um, e quatro sessões plenárias com intervenções de convidados. Havia tradução simultânea do inglês, do francês e, penso que, do espanhol para português. A participação de estrangeiros, principalmente de brasileiros e de espanhóis foi extraordinária.
Pretendeu-se seguir um modelo abrangente para este Congresso, o que tendo sido uma opção correcta, obrigou, a quem quisesse seguir com alguma atenção o que se passava em cada um dos painéis, a uma verdadeira maratona, acabando sempre por falhar aquele, que depois vinha a saber, tinha sido o mais apelativo.
Mesmo pessoas interessadas, como este vosso comentador, que previamente estudaram o programa e escolheram os painéis que lhe poderiam interessar, chegaram ao fim com a sensação que falharam o que mais importante foi dito. Não sei que solução dar a este fenómeno de grande desejo comunicacional manifestado pelos marxistas, mas, verificando-se que em quase todos os painéis houve faltas de comparência de alguns comunicantes, não teria sido possível reduzir o seu número, fazendo uma selecção mais apertada de modo a garantir que as ausências não perturbavam o andamento dos trabalhos
Quanto ao critério seguido, de só no final de todas as comunicações apresentadas em cada painel é que se iniciava a discussão das mesmas, sendo do ponto de vista de redução de tempo muito mais eficaz, obrigava a não se poder saltitar de painel em painel, pois se se queria assistir à discussão das comunicações apresentadas, e que muitas vezes era a parte mais interessava aos participantes, tinha que se assistir a todas as outras comunicações daquele painel.
2 – O conteúdo
2.1 - O sentido político
Dito isto quanto à organização, passemos ao conteúdo do Congresso.
Em primeiro lugar gostaria de fazer uma apreciação política de um observador desprevenido e que não conhece os meandros da sua realização, nem a maioria dos comunicantes.
Esta foi uma organização de pessoas ligadas ao Bloco de Esquerda que apareceu com quase toda a sua Direcção. No entanto, tem que se reconhecer que os convidados, a maioria eram estrangeiros, e muito dos comunicantes não estavam de modo algum ligados aquele Partido, nesse sentido foi interessante, contar com intervenções de José Barata-Moura, que foi convidado, ou com as comunicações de Manuel Carvalho da Silva ou de António Filipe, que segundo me disseram não apareceu para apresentar a sua.
Por isso, o Bloco de Esquerda está de parabéns pois esteve presente em força, mostrando uma visibilidade e vitalidade, capaz de mobilizar professores da academia, alunos, que apareceram em número significativo, e velhos e menos velhos “revolucionários” dos grupos ML, mas não só, que há muitos anos acompanham com interesse este tipo de problemas.
Podemos também afirmar que o PCP, como organização, esteve completamente ausente, apesar de estarem presentes militantes seus, e que aqueles que no PS ainda se reclamam de esquerda e marxistas primaram também pela falta de comparência.
2.2 – As comunicações
2.2.1 – Sexta à tarde
Passemos à descrição das comunicações e à sensação que eu tive durante todo o Congresso de que passei ao lado das mais importantes. Sigamos por isso o meu roteiro, que, pelos motivos expostos, pode não ter sido o melhor. (Ver o programa aqui).
A abertura teve lugar sexta-feira ao fim da tarde, com intervenções dos representantes de cada uma das organizações responsáveis pelo Congresso. Passou-se de imediato aos paneis. Escolhi Estado e a Sociedade. Começou por uma intervenção de Diana Raby, que conhecia com o nome masculino de Dawn Raby (tinha mudado de sexo) e que escreveu um livro bastante interessante e objectivo sobre a Resistência Antifascistas em Portugal, 1941/74” (Edições Salamandra, 1988). A sua intervenção versou principalmente sobre as questões da América Latina e acima de tudo sobre a Revolução Bolivariana. A autora, bastante segura, deu uma ideia muito favorável daquela Revolução o que, na altura da discussão, provocou alguns engulhos a vários revolucionários encartados que estavam presentes. Sempre considerei negativo pronunciarmo-nos sobre assuntos que não conhecemos e muito mais darmos conselhos sobre o modo de fazer a Revolução a quem a realiza a milhares de quilómetros de distância.
Seguiu-se a intervenção António Louçã, por sinal a última, já que o orador anterior tinha faltado, que defendeu a perspectiva leninista de que o Estado é sempre um Estado de classe, e que a democracia burguesa não passa do domínio da burguesia sobre as outras classes sociais. Citou exemplos, falou dos Conselhos, quer dos Sovietes, quer das estruturas revolucionárias semelhantes criadas na Europa Ocidental no pós-primeira Guerra Mundial. Pareceu-me uma intervenção extremamente ortodoxa, incapaz de compreender as novas discussões sobre o papel do Estado. Conhecia António Louçã como historiador empenhado, principalmente o caso do ouro dos judeus que serviu para Hitler pagar a Portugal as suas dívidas, e muitos outros livros alusivos à relação de Portugal com a Alemanha nazi, um deles já por mim comentado (O Segredo da Rua do Século, Ligações perigosas de um dirigente judeu com a Alemanha nazi (1935-1939, Fim de Século, 2007), mas desconhecia esta faceta de militante político, muito preso a um leninismo já, quanto a mim, completamente ultrapassado. A sua intervenção motivou alguma discussão, em que se retomam velhos problemas que ciclicamente regressam, parecendo sempre não estarem resolvidos. Abordarei este tema no painel a que assisti no Sábado de manhã.
Por último tivemos o Plenário desse dia. Uma das intervenções era em inglês a outra em francês. Como não compreendo bem o inglês recorri à tradução simultânea. Mas com a longa experiência que já levo de traduções simultâneas, ou estamos muito dentro dos assuntos e a reunião é de trabalho ou então perdemo-nos na tradução, acompanhando dificilmente as divagações dos autores. Foi o que me aconteceu com a intervenção nesse Plenário de Alberto Toscano, que falou em inglês sobre a religião e o marxismo. Houve depois uma intervenção, em francês, de Paolo Virno de carácter muito didáctico sobre o comum e o universal, em que me pareceu que o autor compartilhava as formulações de Negri no seu livro “Multidão”. O tema não me interessava muito, mas foi fácil seguir o raciocínio do autor. Ver sobre o mesmo a wikipedia. Depois de ouvi-lo e ler o que aquela enciclopédia virtual diz sobre o mesmo, chega-se à conclusão que há mais mundos do que aqueles que resultam da cultura franco e anglo-saxónica. Ainda bem.
2.2.2 – Sábado
Nove e trinta da manhã. Uma violência. Consegui estar a horas e ouvir os intervenientes num dos painéis que mais me interessava: História do Comunismo em Portugal. Comunicação inicial de Ricardo Noronha, que abordou os textos de ruptura com o PCP de Francisco Martins Rodrigues (FMR), principalmente aqueles em que ele critica as posições “conciliadoras” daquele Partido para com a burguesia. Pretendendo ser uma análise distanciada dos factos e das opções daquele revolucionário, mostra sem dúvida alguma afinidade para com as suas críticas, considerando-as, em comparação com as posições do PCP, como as únicas verdadeiramente leninistas, o que não deixa de ser verdade, se considerarmos com boas as premissas de análise que FMR faz da sociedade portuguesa, o que não me parece.
Seguiram-se depois duas comunicações, já por mim referidas a propósito do 1º Colóquio sobre Os Comunistas em Portugal. A primeira era relativa ao Estado e à posição do PCP sobre o mesmo, e que segundo a proposta inicial do autor, António Simões do Paço, abarcaria o período que vai da “reorganização” de 1941 à revolução de Abril de 1974, limitando-se, no entanto, a sua comunicação a fazer principalmente a apreciação do opúsculo de Álvaro Cunhal A Questão do Estado, a Questão Central de Cada Revolução.
Incidindo a sua crítica e análise na visão que o PCP tinha do Estado português, como imperialista e simultaneamente dependente do imperialismo estrangeiro, esqueceu-se que aquele partido também o considerava como representando os grandes grupos monopolistas, opondo-lhe, por isso, uma aliança das camadas anti-monopolistas. Daí as suas propostas de unidade com os representantes da burguesia democrática.
A segunda, de Miguel Cardina, era sobre os grupos maoistas em Portugal entre 1964 e 1974.
A discussão foi bastante interessante, mas falarei nela na sequência do comentário ao painel seguinte, que teve lugar na mesma sala. O tema do painel era A Revolução Portuguesa de 1974/75, uma das comunicações era de Raquel Varela, O PCP no PREC, e outra de Manuel Loff. O terceiro orador, segundo ouvi dizer, teria faltado. Foi deliberadamente que não fui. Já conhecia as opiniões da Raquel Varela, que tinha apresentado uma comunicação semelhante no Colóquio sobre os Comunistas, e de quem discordava completamente (ver o site anteriormente referido). Achei que não havia necessidade de tanto masoquismo e por isso fui ouvir pacatamente o meu amigo e militante do PCP, João Arsénio Nunes. Disseram-me depois que o painel tinha tido interesse e de facto acabou bastante tarde, provavelmente devido às discussões que lá se travaram.
Não querendo ser injusto em relação às comunicações que não ouvi, e sobre as quais não me posso pronunciar, apercebi-me, no entanto, que o sentido geral de certas intervenções no primeiro painel da manhã, que já vinha do dia anterior, com o António Louçã, e que transparecia muito nas intervenções do público, era de um ajuste de contas com algum passado mal resolvido. Muitas das interpretações que se apresentaram resultavam das visões “esquerdistas” sobre a nossa Revolução e consistiam num ataque a um partido, o PCP, que, por sua própria culpa: não está presente, não favorece a investigação, não abre os arquivos, permite que os outros falem por ele. Tem-se pois a sensação que é a vingança póstuma de um grupo, que tem hoje muito mais força política, mas que pensa e actua de modo completamente diferente, sobre um partido ideologicamente débil, sectário e autista. Verifico com tristeza, que alguns dos acontecimentos pretéritos, que já deviam ser observados com algum distanciamento histórico, ainda são objecto de confronto ideológico, e neste caso, como no Colóquio sobre os Comunistas, por um único dos lados.
Nessa mesma manhã falaram também Carlos Pimenta, um professor da Faculdade de Economia do Porto, com estudos publicados sobre a economia portuguesa, e o Manuel Carvalho da Silva, sobre o qual se dirigiram todos os holofotes. Já se sabe, perdi os dois.
Na sessão plenária da manhã houve três intervenções extremamente interessantes, duas de dois investigadores espanhóis sobre a transição em Espanha e a actuação dos Movimentos Sociais e a terceira, de Fernando Rosas, sobre a Memória e Histórica. Ressalto a sua condenação firme e decidida do historiador de “extrema-direita” Rui Ramos, que ao considerar as atitudes anti-democráticas da República iguais às do fascismo não pretende mais do que desculpabilizar este e valorizar a Monarquia. Eu, que há muito venho travando um combate solitário contra aquela personagem, veja-se, entre outros, este post, fiquei deveras satisfeito, como dizem os brasileiros de “papo cheio”.
Na parte da tarde, estive no painel sobre Correntes marxistas onde pensava assistir a uma comunicação sobre Otto Bauer e o austro-marxismo, assunto, que me interessa particularmente, pois é, a par de Gramsci, outra forma de pensar a intervenção política após a derrota da Revolução na Europa Ocidental a seguir à I Guerra Mundial. O orador faltou. Ouvi unicamente um brasileiro, Leandro Galastri, falar sobre a influência de Sorel em Gramsci, que teve o interesse de atribuir à influência daquele teórico do sindicalismo revolucionário alguns conceitos gramscianos, como, por exemplo, o de bloco histórico. Por último a de Fernando Oliveira Baptista, que foi ministro num dos Governos do Vasco Gonçalves, que estabeleceu a relação entre camponeses, que não são assalariados rurais, e marxismo. Bem interessante.
Saltitei depois para outro painel sobre Estado e Violência, onde ouvi parte da comunicação de Valério Arcary, meu conhecido do Colóquio dos Comunistas, que, com aquele à vontade típico dos brasileiros, falou da experiência política actual sul-americana. Só pela fluência e graça valeu a pena assistir. A outra comunicação era de um jovem sobre a luta armada na Itália e na Alemanha na década de 70. Nada a assinalar.
O dia estava terminado. Fiquei sempre na dúvida se perdi as comunicações mais interessantes.
2.2.3 – Domingo
Tentei chegar do Domingo a horas, ia-se discutir Marxismo, Ambiente e Ciência.
Já apanhei a comunicação de uma jovem, Rita Calvário, a meio. Tentava estabelecer uma ligação, por vezes bastante difícil, entre luta ecológica e luta de classes. Penso que conseguiu. O segundo orador faltou, o que foi a prática corrente em quase todos os painéis.
Seguiu-se aquela comunicação que mais me interessava, de Alda Sousa, Os desafios da genética e a esquerda no século XXI. A comunicação estabelecia uma relação entre a investigação em genética e a sua aplicação política e ideológica. Falou da eugenia e da esterilização forçada não só na Alemanha nazi, mas igualmente nos Estados Unidos e na Suécia, do caso Lyssenko, mas também do actual aproveitamento que as multinacionais fazem de testes genéticos para tudo e para nada e do patenteamento dos genes. Comunicação bastante interessante, que quanto a mim pecou por estabelecer uma ligação muito intima entre a investigação nesta área e o seu aproveitamento ideológico e político. É evidente que os biólogos também participaram nestes desvarios, mas a relação entre geneticistas e política é, quanto a mim, mais complexa do que as formulações apresentadas.
Foi o painel, daqueles em que estive presente, com menor participação. Mas ao assistir, por razões da minha formação profissional a estas comunicações, perdi a da Ana Barradas, que alguém me disse, provavelmente injustamente, que era como ter ido assistir a uma missa. Perdi igualmente as do Luís Fazenda e do J. P. Avelãs Nunes, que me disseram que tinha sido muito reaccionária. Não posso garantir.
Na segunda parte da manhã assisti ao painel Marx, Estado e Revolução em que Fernando Dores Costa pôs o jovem Marx a criticar o jacobinismo e a defesa que este movimento político fazia da “razão de estado”. Comunicação interessante para quem, como eu, tendo uma ideia do que diz o jovem Marx, desconhecia estes textos claramente humanistas e críticos de algumas das posições jacobinas. Depois houve uma comunicação em francês de uma brasileira, que falava mal o português. Foi um “bocadinho” difícil de a acompanhar.
Faltei a uma de Eduardo Chitas sobre Marx e a Unidade Material do Mundo e a um painel que se debruçava sobre os Problemas de História do Século XX Português, qualquer deles me interessava.
A manhã termina com a comunicação, que parece ter sido a que mais repercussão teve na imprensa, de José Barata-Moura, que tinha sido convidado para a terceira sessão plenária. Esta abre com uma comunicação, em inglês, sobre alguns conceitos da obra de Walter Benjamin. Esqueci-me de previamente ir buscar os auscultadores para acompanhar a tradução simultânea e estive todo o tempo a olhar para o relógio, saí antes do tempo. Eram quase duas horas da tarde e o Barata-Moura ainda não tinha começado. Fui almoçar. Cultura sim, mas não tanto. Soube depois que tinha sido uma lição bastante interessante, mas muito professoral. São opiniões, que não sei se as partilharia.
Tarde de Domingo. O Fernando e a Rosa Redondo iam falar sobre a sua tese Do capitalismo ao digitalismo, sobre a qual já publicaram um livro. Grande qualidade de exposição, mas com alguns conceitos controversos que mereceram discussão na sala. Depois de tudo falado e discutido não sei se o novo modo de produção que propõem não será mais capitalismo revestido de outras formas. No entanto, cabe-lhes o mérito de levantarem o problema. Depois fui assistir à comunicação do Statter, da Renovação Comunista, sobre a actualidade da lei do valor. Irá ser publicada rapidamente no site da Renovação. Decorria ao mesmo tempo a do Fernando Ramalho, esta já publicada.
O dia e o Congresso terminaram com o quarto e último plenário.
A primeira comunicação, em inglês, referia-se a um investigador argentino a viver a Inglaterra chamado Ernesto Laclau, foi um tema um bocado exótico para quem neste país desconhecia completamente este autor.
Por último, tivemos a intervenção de Nuno Nabais propondo-nos um debate em torno da democracia, recorrendo para isso a três autores, ligados neste momento ao meio intelectual francês. Os autores em causa são Ranciére, Negri e Nancy, aos quais se pode aplicar o epíteto de pós-marxistas e que nos propõe novas formulações para problemas do mundo de hoje. Para mim, sempre embrenhado na terminologia e nos conceitos marxistas, as suas propostas fogem à reflexão de Marx, mas penso que foi oportuno chamar a atenção para aqueles que à margem do marxismo, mas inspirado nele, propõem outras formulações. Este debate foi suscitado no final da sessão, o que permitiu um bom esclarecimento dos presentes, dado o carácter bastante didáctico das intervenções de Nuno Nabais.
3 – Conclusões e Sugestões
Como conclusão final podemos afirmar que uma das características deste Congresso, e a sua grande virtude, foi a elevada participação estrangeira, o número e a qualidade dos académicos convidados e a diversidade dos temas abordados. Este Congresso abriu sem dúvida portas para um marxismo que se quer renovado e propondo novos conceitos e novas formulações. Pena é que nas análises que se apresentaram sobre a história do comunismo em Portugal e da Revolução Portuguesa se continuasse a pisar os mesmos assuntos, não fugindo a algumas ideias feitas sobre eles. Mas não será isto que no futuro será lembrado deste Congresso, mas sim a sua abertura a novas perspectivas e temas.
Quanto a sugestões, para além daquelas que resultam da minha crítica a algumas opções organizativas, gostaria que tivesse havido uma maior preocupação com a divulgação de textos de apoio e a organização de uma pequena feira do livro marxista ou abordando temas marxistas. Os livros seleccionados, e que foram apresentados no átrio de entrada, eram de um modo geral escritos por autores reaccionários, contrários a qualquer formulação marxista na análise dos temas que abordam. Por outro lado, alguns brasileiros traziam envergonhadamente revistas editadas nas suas faculdades. Devia ter havido um esforço para que a delegação brasileira, tão numerosa em participantes, estivesse minimamente representada na riqueza da sua bibliografia sobre marxismo.
Por último, e justificando o título, senti-me um pouco perdido na imensidão de um Congresso em que se tinha sempre a sensação de que se tinha falhado o mais importante. Mas isto é a visão de um “chato”, que vos escreve quilómetros de prosa. PS.: Ver os comentários de Fernando Penim Redondo ao Congresso no seu blog e a resposta que lhe dei. Ficamos com mais informação sobre o que se passou.
4 comentários:
Amigo Jorge,
no essencial concordo com tudo o que dizes. Acrescentei algumas impressões pessoais no DOTeCOMe.
Deixa-me fazer apenas uma correcção:
Não deves dizer, sobre o digitalismo, "o novo modo de produção que propõem".
Nós não propomos nada, nós queremos que as pessoas reflictam sobre a possibilidade de o tal novo modo de produção estar a instalar-se.
Quando dizes "propõem" induzes a ideia de que nós aprovamos ou consideramos desejável, que tal aconteça. Ora, como sabes, nós nem sequer temos a certeza de que o que aí vem seja melhor do que o que temos agora.
Estou absolutamente de acordo como que dizes. Provavelmente a minha expressão "propõem" não foi a melhor. Seria provavelmente mais verdadeiro "analisam".
Quaisquer que fossem as limitações do Congresso, é importante tentar trazer de novo Marx para a politica activa.
Se o JNF se perdeu no Congresso, eu encontrei um relato que me informou.
Obrigado JNF.
Resposta a Eduardo Lapa
Obrigado pelo seu apoio
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