Admirei como ontem à noite os participantes da Quadratura do Círculo, da SIC Notícias, iam actualizando, em tempo real, um blog que aquela estação de televisão lhes tinha posto à disposição. Para mim a actividade de bloguista é solitária e exige concentração, por isso demoro tempo na elaboração de um post e chego sempre atrasado à actualidade.
Assim, gostaria de ter feito um post In Memorium do Carlos Porto, que conheci quando era jovem, e que continua a estar entre os meus projectos, e um outro, a que chamaria Cidadãos acima de qualquer suspeita, referente ao conjunto de fotografias que aparecia na segunda-feira, no jornal Público, e que fazia a listagem de todos os políticos que tinham influenciado as decisões do BPN. Este post já perdeu oportunidade, não é que aqueles cidadãos tivessem, por acaso, recuperado a respeitabilidade, mas porque já passaram alguns dias sobre a exibição das suas carantonhas e hoje o affair do BPN é já passado, perante a eleição de Barack Obama, como Presidente dos Estados Unidos.
Este meu post pretende analisar como à esquerda e à direita, tem havido a preocupação de evitar a venda de ilusões, num caso à “classe operária”, noutro impedir que a esquerda embandeire em arco com aquela eleição. Ou seja, les beaux esprits se recontre.
Assim vejamos, em nota hoje distribuída à imprensa o PCP, não desmerecendo aquilo de que é vulgarmente acusado – sectarismo e dogmatismo –, afirma: “a eleição de Barack Obama como presidente dos EUA está longe de corresponder às expectativas que a gigantesca campanha mediática mundial procurou criar para construir a ilusão de uma mudança e de uma viragem na política dos EUA e do seu papel na esfera internacional.” E diz mais: “não ignorando diferenças entre os candidatos republicano e democrata, a verdade é que ambas as candidaturas não disfarçam o seu vínculo a um projecto de dominação no plano económico, ideológico e militar do mundo.”
Para o PCP, provavelmente a único diferença que há entre os candidatos é um ser preto e outro branco, mas ambos estão vinculados ao projecto de dominação imperialista do mundo. Como estas almas são simples.
Mas o que nos diz a direita. Rui Ramos esse ideólogo reaccionário e monarquista, transvertido em neo-liberal reaganista e thatcherista, como convinha há alguns tempos atrás, afirma, logo abrir, num artigo que publicou no Público, da semana passada: “Em tempos, houve quem acreditasse que o mundo iria mudar com a eleição de Barack Obama. E talvez ainda haja quem guarde a fé – mas são cada vez menos.
É que o mundo, como constatámos entretanto, não precisou de Obama para mudar. Talvez por isso, a bolha de entusiasmo começou notoriamente a diminuir. O candidato também não ajudou. Com a sua campanha habilidosa e esquiva, limitou-se a acrescentar mais uns gramas de incerteza à incerteza geral. Neste momento, ninguém sabe como vai estar o mundo no ano que vem, e também ninguém sabe que presidente poderá ser Obama.” E Rui Ramos termina: “Se não fosse a cor da pele, este jovem político eloquente e disposto a tudo para chegar ao topo já nos teria lembrado os nossos velhos conhecidos Clinton e Blair. Em 1997, também os conservadores ingleses tentaram fazer de Blair uma espécie de comunista disfarçado, enquanto os seus entusiastas ficaram a aguardar uma nova política exterior ("ética") e uma nova economia (de "Terceira Via"). O mundo já não é o que era em 1997. Mas o estilo de Obama é, no fundo, o desse tempo. Ora, a Terceira Via pode ter sido uma alternativa às políticas da década de 1980, mas desde então tornou-se parte do percurso que fizemos para chegar onde estamos. Aonde mais nos poderá levar?”
Comparando estas afirmações com o comunicado do PCP, verifica-se que Obama nada nos trará de novo, para aquele Partido será a manutenção do capitalismo imperialista, para o professor reaccionário será o déjà vu, que poderia ter sido uma alternativa na década de 80, mas que agora será a continuação na continuidade.
Mas não se ficou por aqui a intervenção da direita. A SIC Notícias montou todo um aparato mediático – desta vez acompanhado de uma descarada publicidade, com a complacência dos comentadores, a uma marca de portáteis – para irmos acompanhando as eleições e para simultaneamente arrefecer os arrebatamentos da esquerda. Assim, convidou Nuno Rojeiro, apoiante de Barack Obama, que defendia que a eleição deste serviria para pôr o “taxímetro a zero”, de modo a fazer-nos esquecer a política de Bush e tornar impossível que a esquerda europeia e mundial continuasse a atribuir aos Estados Unidos tudo aquilo que acontece de mal no mundo. Como o PCP devia ter gostado de ouvir isto. No fundo Obama servia principalmente para enganar as massas.
Miguel Monjardino, outro comentador, defendia que, juntamente com Obama, iriam ser eleitos um conjunto de senadores democratas conservadores que impediriam quaisquer veleidades de esquerda a Obama. Só Rui Tavares, numa intervenção a partir de Chicago, tentou introduzir alguns elementos de esperança, que rapidamente foram cortados pelo pivôt da emissão e que levou todos os outros a o rebaterem, sem o citarem.
Pacheco Pereira, que estava ao lado, na Quadratura do Círculo, com mau perder, afirmava que não via qualquer mudança no eleitorado, ao contrário do que tinha dito Rui Tavares, pois àquela hora a diferença entre os dois, quanto ao número de votantes, era diminuta. Hoje, com os resultados apurados, sabe-se que foi bastante maior.
Pacheco Pereira, que já tinha declarado noutro programa que era apoiante de McCain, não resistiu a mais uma vez, em êxtase, a falar da grande democracia americana, garantindo que em França, por exemplo, era impossível ser eleito um presidente negro.
Concluindo, tanto à esquerda – certa esquerda – como à direita há a preocupação de garantir que nada muda, excepto provavelmente o estilo.
Quanto a mim, Barack Obama não irá provocar uma Revolução nos Estados Unidos, provavelmente terá que fazer compromissos, mas está já a causar uma ruptura com a tradição ultra-conservadora que vinha a ser seguida, introduzindo no mundo actual um capital de esperança e de mudança, que pode nestas circunstâncias, de grave crise económica, favorecer no seu conjunto a esquerda. Ou seja, convém que em momentos de crise os ventos não soprem para a direita, mas sim no sentido do progresso.
É isto que o nosso Partido Comunista não percebe e que Sócrates, sempre a cavalgar a onda daquilo que está a dar, já introduziu no seu discurso. Espero que se estampe.
Assim, gostaria de ter feito um post In Memorium do Carlos Porto, que conheci quando era jovem, e que continua a estar entre os meus projectos, e um outro, a que chamaria Cidadãos acima de qualquer suspeita, referente ao conjunto de fotografias que aparecia na segunda-feira, no jornal Público, e que fazia a listagem de todos os políticos que tinham influenciado as decisões do BPN. Este post já perdeu oportunidade, não é que aqueles cidadãos tivessem, por acaso, recuperado a respeitabilidade, mas porque já passaram alguns dias sobre a exibição das suas carantonhas e hoje o affair do BPN é já passado, perante a eleição de Barack Obama, como Presidente dos Estados Unidos.
Este meu post pretende analisar como à esquerda e à direita, tem havido a preocupação de evitar a venda de ilusões, num caso à “classe operária”, noutro impedir que a esquerda embandeire em arco com aquela eleição. Ou seja, les beaux esprits se recontre.
Assim vejamos, em nota hoje distribuída à imprensa o PCP, não desmerecendo aquilo de que é vulgarmente acusado – sectarismo e dogmatismo –, afirma: “a eleição de Barack Obama como presidente dos EUA está longe de corresponder às expectativas que a gigantesca campanha mediática mundial procurou criar para construir a ilusão de uma mudança e de uma viragem na política dos EUA e do seu papel na esfera internacional.” E diz mais: “não ignorando diferenças entre os candidatos republicano e democrata, a verdade é que ambas as candidaturas não disfarçam o seu vínculo a um projecto de dominação no plano económico, ideológico e militar do mundo.”
Para o PCP, provavelmente a único diferença que há entre os candidatos é um ser preto e outro branco, mas ambos estão vinculados ao projecto de dominação imperialista do mundo. Como estas almas são simples.
Mas o que nos diz a direita. Rui Ramos esse ideólogo reaccionário e monarquista, transvertido em neo-liberal reaganista e thatcherista, como convinha há alguns tempos atrás, afirma, logo abrir, num artigo que publicou no Público, da semana passada: “Em tempos, houve quem acreditasse que o mundo iria mudar com a eleição de Barack Obama. E talvez ainda haja quem guarde a fé – mas são cada vez menos.
É que o mundo, como constatámos entretanto, não precisou de Obama para mudar. Talvez por isso, a bolha de entusiasmo começou notoriamente a diminuir. O candidato também não ajudou. Com a sua campanha habilidosa e esquiva, limitou-se a acrescentar mais uns gramas de incerteza à incerteza geral. Neste momento, ninguém sabe como vai estar o mundo no ano que vem, e também ninguém sabe que presidente poderá ser Obama.” E Rui Ramos termina: “Se não fosse a cor da pele, este jovem político eloquente e disposto a tudo para chegar ao topo já nos teria lembrado os nossos velhos conhecidos Clinton e Blair. Em 1997, também os conservadores ingleses tentaram fazer de Blair uma espécie de comunista disfarçado, enquanto os seus entusiastas ficaram a aguardar uma nova política exterior ("ética") e uma nova economia (de "Terceira Via"). O mundo já não é o que era em 1997. Mas o estilo de Obama é, no fundo, o desse tempo. Ora, a Terceira Via pode ter sido uma alternativa às políticas da década de 1980, mas desde então tornou-se parte do percurso que fizemos para chegar onde estamos. Aonde mais nos poderá levar?”
Comparando estas afirmações com o comunicado do PCP, verifica-se que Obama nada nos trará de novo, para aquele Partido será a manutenção do capitalismo imperialista, para o professor reaccionário será o déjà vu, que poderia ter sido uma alternativa na década de 80, mas que agora será a continuação na continuidade.
Mas não se ficou por aqui a intervenção da direita. A SIC Notícias montou todo um aparato mediático – desta vez acompanhado de uma descarada publicidade, com a complacência dos comentadores, a uma marca de portáteis – para irmos acompanhando as eleições e para simultaneamente arrefecer os arrebatamentos da esquerda. Assim, convidou Nuno Rojeiro, apoiante de Barack Obama, que defendia que a eleição deste serviria para pôr o “taxímetro a zero”, de modo a fazer-nos esquecer a política de Bush e tornar impossível que a esquerda europeia e mundial continuasse a atribuir aos Estados Unidos tudo aquilo que acontece de mal no mundo. Como o PCP devia ter gostado de ouvir isto. No fundo Obama servia principalmente para enganar as massas.
Miguel Monjardino, outro comentador, defendia que, juntamente com Obama, iriam ser eleitos um conjunto de senadores democratas conservadores que impediriam quaisquer veleidades de esquerda a Obama. Só Rui Tavares, numa intervenção a partir de Chicago, tentou introduzir alguns elementos de esperança, que rapidamente foram cortados pelo pivôt da emissão e que levou todos os outros a o rebaterem, sem o citarem.
Pacheco Pereira, que estava ao lado, na Quadratura do Círculo, com mau perder, afirmava que não via qualquer mudança no eleitorado, ao contrário do que tinha dito Rui Tavares, pois àquela hora a diferença entre os dois, quanto ao número de votantes, era diminuta. Hoje, com os resultados apurados, sabe-se que foi bastante maior.
Pacheco Pereira, que já tinha declarado noutro programa que era apoiante de McCain, não resistiu a mais uma vez, em êxtase, a falar da grande democracia americana, garantindo que em França, por exemplo, era impossível ser eleito um presidente negro.
Concluindo, tanto à esquerda – certa esquerda – como à direita há a preocupação de garantir que nada muda, excepto provavelmente o estilo.
Quanto a mim, Barack Obama não irá provocar uma Revolução nos Estados Unidos, provavelmente terá que fazer compromissos, mas está já a causar uma ruptura com a tradição ultra-conservadora que vinha a ser seguida, introduzindo no mundo actual um capital de esperança e de mudança, que pode nestas circunstâncias, de grave crise económica, favorecer no seu conjunto a esquerda. Ou seja, convém que em momentos de crise os ventos não soprem para a direita, mas sim no sentido do progresso.
É isto que o nosso Partido Comunista não percebe e que Sócrates, sempre a cavalgar a onda daquilo que está a dar, já introduziu no seu discurso. Espero que se estampe.
2 comentários:
Ola! Vi o teu blogue e gostei bastante. Tem muito conteudo e bastante interesse
Tenho um blogue . É www.olhardireito.blogspot.com ..... Gostava que o visitasse e desse uma opinião....
Obrigado pela atençao
Cumprimentos
Obrigado pela sua visita. Também fui ao seu, mas não vi ainda nada que me motivasse um comentário. Passarei a frequentá-lo.
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