27/07/2008

Quando me vejo envolvido, sem o querer, numa polémica caseira


De repente o nome do meu blog vem à baila sobre uma matéria para a qual eu não meti prego nem estopa. Por esse motivo, sinto necessidade de esclarecer alguns incautos que, apressadamente, me podem envolver nas diatribes que o Victor Dias dirigiu a um artigo respeitável de Elísio Estanque (ver imagem aqui ao lado), Ainda há esquerda dentro das "esquerdas", publicado igualmente no Público e no seu blog.
A história é simples. Fernando Penim Redondo (FPR), do DOTeCOMe_Blog , resolve concordar com o post de Victor Dias e em “comments” insere o mesmo comentário que publicou no meu blog a propósito de outro assunto, citando o site de onde o transcreveu. Ora, um leitor mais apressado pode pensar que o texto é meu ou que concordo com ele. Nada disso é verdade.
O post de crítica ao artigo de Elísio Estanque é retorcido, mas no fundo resume-se a isto: “um elemento estruturante e nuclear de certas reflexões em curso sobre a "esquerda" é, pura e simplesmente, a discriminação e a pretensão de excluir e isolar o PCP”. Lendo isto, FPR acha que aquilo que afirmou no seu comentário a um assunto muito diferente e com protagonistas diferentes se insere na mesma cabala denunciada por Vítor Dias, que visa descriminar e excluir o PCP. Com esta nova transcrição, FPR já entrou na paranóia das teorias da conspiração, que em tudo vê a mão oculta dos inconfessáveis inimigos do PCP.
Mas deixemos o FPR e voltemos ao post do Victor Dias. Quanto a mim, o que é mais elucidativo não é propriamente o post, que eu resumi numa frase, mas sim a resposta que este dá a um longo comentário de Alcides Santos.
Primeiro, com uma grande sobranceria, coisa que não utiliza quando visa esclarecer os argumentos da direita, afirma que será ensinar o padre-nosso ao vigário que alguém tente dar lições ao PCP sobre “as questões de unidade ou convergência entre diversos sectores ou forças democráticas”.
Ora a verdade, e Victor Dias esquece isso, é que o PCP não tem mantido nos últimos anos a mesma opinião. Só o seu acrisolado amor à camisola o faz esquecer as inflexões do PCP sobre esta matéria. Desde o tempo em que aquele Partido defendia a necessidade de transformar a maioria numérica de esquerda existente na Assembleia da República (PS e PCP), em uma maioria política, até às opiniões do seu camarada Jerónimo de Sousa sobre a unidade actual, que Vítor Dias chama de cooperação, que, depois de exprimida se resume a convergir com os Verdes e a Intervenção Democrática, que um longo caminho foi percorrido, tendo-se verificado uma substancial alteração da prática política daquele Partido em relação à unidade das forças de esquerda.
Vítor Dias é incapaz de perceber o declínio teórico que atravessa o PCP, que o faz resvalar facilmente para o esquerdismo e o sectarismo. Com alguma modéstia, tenho tentado em textos recentes fazer uma crítica àquilo que eu considero ser o desvio esquerdista e sectário do PCP. Ver aqui e aqui , aqui e aqui, aqui e aqui e aqui .
Depois responde em três pontos à crítica bem intencionada de Alcide dos Santos.
No primeiro ponto faz um jogo de palavras. Como se a possibilidade e a necessidade fossem coisa incompatíveis e não complementares.
No segundo, tem uma afirmação espantosa em que escreve que não há força eleitoral, mesmo contando com o PCP, para dar base a uma “alternativa política”, contrariando a afirmação sempre repetida de Cunhal, que não devemos lutar unicamente pelos objectivos alcançáveis, mas sim por aqueles que sendo difíceis de atingir nos parecem justos. Porque, partindo do ponto de vista de Vítor Dias, só nos resta defender uma aliança com todo o PS, incluindo o de Sócrates, pois só assim teríamos a maioria numérica indispensável a uma alternativa política.
Depois, no terceiro ponto, ataca todos aqueles que andam a dar corda às tais personalidades de esquerda do PS. Esquecendo que o PCP já deu corda a personalidades bem menos fiáveis que esta esquerda do PS, ao apoiar o projecto do PRD. Já lhe tinha falado nisto e o Vítor Dias respondeu-me com bugalhos, para não falar do FPR que resolveu desconversar e a despropósito atacou a Renovação Comunista, de que tinha feito parte.
Mas o tom dos seus amigos do PCP, sempre elucidativo do que passa pela cabeça de certos militantes daquele Partido e que se traduz muitas vezes nos comentários assinados do Avante, está dado por este comentário de fina perspicácia publicado no seu post: “Todos eles, sabem muito bem o que andam a dizer (fazer), eles são pagos para isso!”

2 comentários:

Anónimo disse...

Estranha maneira de discutir esta de Jorge Nascimento Fernandes.
De facto, ainda antes de adiantar um único argumento, já classifica de «diatribe» o meu «post» sobre um artigo de Elísio Estanque que ele considera «respeitável».
Chama-se isto técnica de «desqualificação» antecipada do opositor e de antecipado louvor do companheiro de ideias.
Depois, e para resumir, JNF vê mudanças de orientação onde eu, que não domino mal tais matérias em sede de orientação congressual, vejo continuidades essenciais, embora com formulações diversas requeridas pelas diversas conjunturas.
Acresce que JNF nem percebe que quando eu digo que o critério porque me oriento não é o da «possibilidade» mas o da «necessidade» estou precisamente a ir no sentido da tese de Cunhal que ele referencia e que pretende atirar contra mim.
Finalmente, eu não estou a defender nenhuma aliança com todo o PS (mas também não sei o que é isso em termos eleitorais ou politico-institucionais de alianças com parte do PS), estou a dizer que aquilo que sempre foi óbvio mesmo que, porventura dentro do PCP e agora espantosamente fora, alguns não o queiram perceber:é que é altamente improvável que sem um PS com uma orientação política em aspectos fundamentais profundamente mudada por força da pressão de massas ou de resultados eleitorais haja alguma perspectiva próxima de uma «alternativa política» ( a tal que exige deputados, formação de governo etc.).
Quanto ao que JNF diz sobre as personalidades de esquerda do PS. eu só espero que por detrás da posição de JNF esteja a garantia que lhe tenha sido dada sob palavra de honra por Manuel Alegre de que nas próximas legislativas não será candidato do PS.
Se não for esse o caso, calculo a graça que JNF achará quando, nas próximas legislativas. vier a ver Manuel Alegre a fazer campanha para votos no PS e no seu líder, em estreita e respeitável coerência com o que fez toda a vida.
Por fim, é de registar que JNF não consegue esvcrever uma linha a sustentar que é falsa a minha afirmação, face ao artigo de Elísio Estanque, que um elemento estrutural de certas concepções e movimentações em curso é a discriminação do PCP.
Em boa verdade, nesse ponto, JNF não pode fazer nada. A não ser que abusivamente viesse dizer que no texto de Elísio Estanque houve um empastelamento e caiu uma quinta componente ficando só as famosas quatro - recorde-se que só uma era um partido, o BE, outra era uma «tradição», outra eram «sensibilidades» e outra era o «campo sindical»( olá!!?), caldeirada que a mim,que não sou sociólogo, me faz alguma confusão quando de discute o problema da alternativa ou mormente se pensa na alternativa política.

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Sobre o modo como discutimos cada um escolhe o seu, não será muito sério alguém a propósito de uma atitude discutível, mas honesta, do Sá Fernandes, vir dizer que o “Skoda faz falta”, parafraseando um slogan da campanha eleitoral daquele vereador e depois vir dizer que os outros têm uma maneira estranha de discutir. Mas as acções ficam com quem as pratica.
Quanto a considerar o Elísio Estanque meu companheiro de ideias penso que é uma conclusão extremamente apressada. Só porque afirmei que um determinado artigo era respeitável, o seu autor não passa automaticamente a ser meu companheiro de ideário. E isto sem qualquer desprimor para o mesmo, mas de quem só conheço dois artigos, este e um anterior, igualmente publicado no Público.
Quanto aos problemas da unidade que, quanto a mim, são os mais importantes, Vítor Dias passa por eles como cão por vinha vindimada. Afirma que não domina mal estas matérias, mas acha que nada mudou no PCP, ao nível da orientação congressual, excepto as conjunturas que são diferentes. Esta afirmação faz-me lembrar aquilo que eu escrevi no post http://www.comunistas.info/?no=4000;ano=2007;mes=7;i=192 a propósito de um texto de Domingos Abrantes sobre o VII Congresso da Internacional Comunista (IC). Para este a linha da IC continuava a ser a mesma do período ultra-esquerdista pela qual esta tinha passado recentemente, só a circunstâncias é que tinham mudado, afirmando eu que “lamentavelmente os nossos actuais articulistas (referia-me também a João Arsénio Nunes) continuam a estar mais atrasados do que as posições de Dimitrov, com mais de setenta anos”, pois este afirmava que havia erros na actuação anterior da IC. Assim sucede com Victor Dias, mantendo-se agarrado à orientação congressual não vê à sua volta que tudo o que se escreve e se faz é diferente do que anteriormente se fazia e dizia. Lamento, mas cada um toma para si a liberdade que quer.
Há no entanto a respeito da “alternativa política” alguma novidade na prosa de Vítor Dias, que não é visível na dos seus camaradas. É claramente afirmado que só com o PS, que para isso precisa de mudar, aquela alternativa se pode concretizar. Eu provavelmente digo o mesmo. Simplesmente, penso que a pressão das massas não é suficiente e admito que, tal como já se encarou em relação ao PRD, que uma possível fractura no seu interior possa mais facilmente tornar a unidade possível e necessária.
Quanto a um provável regresso do Manuel Alegre ao redil socialista, como Victor Dias garante que ele fez durante toda a sua vida, encaremo-la como uma contrariedade, tal como no tempo do PRD se viu aquele projecto desmoronar-se com claro prejuízo eleitoral para o PCP.
Sem pretender ser paternalista, o mal do Victor Dias é que tem da discussão política uma visão mesquinha sobre se os políticos deram ou não a sua palavra de honra se fazem isto ou aquilo. Em política temos orientações, linhas de força, conjunturas que umas vezes nos são favoráveis, e há que saber aproveitá-las, outras em que perdemos, mas isso não tem nada a ver com a honra deste ou daquele político ou das promessas que eles fazem.
Por último, cada um escolhe aquilo que mais lhe interessa da argumentação do adversário. O seu texto sobre o artigo de Elísio Estanque não tinha, quanto a mim, nada de interessante, excepto a afirmação que ressalvei, que traduz o espírito de cerco que lamentavelmente sempre caracterizou algumas opiniões vindas do PCP, e para as quais este Partido tem dado ultimamente um contributo importante, ao actuar de forma profundamente sectária. Um exemplo que eu também citei no post acima referido foi a sua posição sobre o referendo sobre o aborto.
Quanto à salgalhada que o Vítor Dias diz existir no artigo de Elísio Estanque, quando fala demagogicamente de “tradição”, “sensibilidades” e “campo sindical”, esquece a noção de bloco histórico, que em certos momentos – e o PCP já muitas vezes fez referência a isso, quando considerava que a CDU era mais do que as partes que a constituíam – pode agrupar um conjunto de forças que representam mais do que o único partido que nelas está integrado. Mais uma vez o Victor Dias não raciocina em termos dialécticos, nem considera a política como uma dinâmica, mas pensa-a em termos de lógica formal, de sim ou não. Mau princípio para quem tem muitos anos disto.