15/07/2008

Os nostálgicos de Correia de Campos


É interessante que quando Correia de Campos era Ministro da Saúde não havia cão nem gato que não dissesse mal dele. Era dos ministros mais atacados do Governo de Sócrates. Estava sempre na mira dos comentários de Marcelo devido à sua incontinência verbal. Por isso e por não garantir a imagem de eficácia e de amor acrisolado deste Governo às populações do interior foi demitido por Sócrates, e eis que para a direita se transformou num herói, por oposição à nova ministra que, com alguma candura, vem dizendo umas verdades sobre o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e a necessidade de o defender.
José Miguel Júdice, sem papas na língua, com aquele gosto que tem de classificar as esquerdas nesta ou naquela categoria, disse que este Governo era uma aliança entre o PS e Manuel Alegre, já que a ministra da Saúde tinha sido apoiante de Manuel Alegre e, segundo ele, preconizaria uma política de defesa de uma maior intervenção do Estado na Saúde.
Mas este texto vem a propósito de uma artigo que saiu no Diário de Notícias desse beato e desclassificado defensor da Igreja Católica, chamado João César das Neves (JCN), que a televisão pública, muito reverentemente, vai sempre ouvir quando se trata de opinar sobre qualquer nova medida económica.
Que nos diz aquele economista da Universidade Católica: “a nova ministra Ana Jorge apregoa com clareza e dedicação que defende o Sistema Nacional de Saúde. A presença privada no sector, mesmo se maioritária, é explicitamente considerada residual, senão até anómala e nociva.
Voltamos, após duas décadas, às tiradas estalinistas exaltando a elegância do mecanismo central acima da confusão do mundo.
O profissional de saúde, dentro da armadura estatal, está devidamente protegido de preocupações financeiras, comerciais e concorrenciais. Assim pode dedicar-se à sua missão sublime, livre das maçadas que a vida cria a todos os mortais.”
Aqui temos, com a elegância de um elefante, JCN a classificar algumas medidas e opiniões da ministra como estalinistas e, provavelmente, por tabela, o pobre Sócrates, que tudo faz para ser um neo-liberal. Já em tempos a Igreja Católica classificou este Governo como militantemente ateu, hoje é JCN que o classifica de estalinista. Bem feita, por muito que José Sócrates se abaixe, nunca o consideram como um deles. Tem que se rebaixar ainda mais para ser levado a sério pela direita e pelos seus corifeus.
Vem depois a catilinária sobre o excesso de privilégios das classes profissionais, o que poderá ser verdade, mas que nada tem a ver com a defesa do SNS e da sua manutenção contra os privilégios e os benefícios que queriam atribuir aos privados.
Depois o artigo alonga-se sobre este tema, mas na economia deste post o que eu gostaria de sublinhar era, por um lado, como Correia de Campos passou rapidamente de besta a bestial e de como a nova ministra conduziu, pela porta do cavalo, à estalinização do Governo de Sócrates. Deus tenha piedade deles que não sabem o que dizem.

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