08/03/2010

A higienização da vida nacional. O afastamento de Sócrates.


Por motivos vários, não tenho escrito nada sobre a situação política que se tem vindo a viver nos últimos dias em Portugal. Fui acumulando raiva contra o Jardim e recolhendo exemplos vários dos seus dislates. Ainda ontem ouvi mais um, quando lhe perguntaram se iria seguir as recomendações dos ambientalistas, respondeu que não os conhecia de parte nenhuma e que ele é que era um verdadeiro ambientalista. Tudo o que se escreva a propósito de tão sinistra personagem, será sempre menos grave do que ele diz e faz na Madeira.

Mas o título deste post vem a propósito de um tema que percorre o espectro partidário e que acarreta por vezes a uma grande confusão política.
No último Quadratura do Círculo, da SIC Notícias, António Costa defendia que em vez das oposições e o Governo estarem a discutir os reais problemas do país estavam a desviar a sua atenção para as questões laterais da liberdade de imprensa, das escutas ou da não viabilizada compra da TVI pela PT. Os opositores de direita falavam que, ao contrário do que dizia o seu interlocutor, era necessário para bem da democracia e do país proceder-se à higienização da vida política portuguesa, que consistia no afastamento do primeiro-ministro, José Sócrates.
Em artigo publicado no Público, de Sábado, António Vilarigues, militante do PCP, que tem o blog O Castendo, referia: “Este Governo PS de José Sócrates bem pode mandar acender umas velinhas. Seja em agradecimento aos santos, seja às bruxas. Com efeito as notícias sobre o envolvimento do Governo num alegado “plano para controlar os órgãos de comunicação social” desviaram por inteiro as atenções sobre os reais problemas que atingiram o povo português”.
Estes são dois dos aspectos com que se confronta a realidade política portuguesa. Mas é bom não limitar este confronto às opiniões da esquerda e da direita. Paulo Portas, do CDS, é bem capaz de dizer coisas semelhantes e isso depende do dia em que lhe der mais jeito dizer que só se preocupa com os verdadeiros problemas da Nação ou que, utilizando o termo dos dois comentadores de direita da Quadratura do Círculo, é necessário proceder à higienização do país.
Quanto a mim entendo o seguinte, que o primeiro-ministro está a arrastar este país para um claro desprestígio das instituições e que ele, com os problemas com que se defronta na Justiça e na vida privada, está a provocar uma lenta erosão do Governo e do seu partido, originando na opinião pública um claro estado de revolta e de indignação que a direita, a seu tempo, tentará reverter a seu favor. Ou seja, a necessidade de higienização do país leva a que a direita possa ambicionar a ser Governo, e como sempre nada garantindo que melhore seja o que for. Nesse sentido, compreende-se a preocupação do PCP por este ser o motivo do possível afastamento de Sócrates e não a luta de rua contra, por exemplo, os despedimentos ou o congelamento dos salários da Função Pública. O Bloco de Esquerda, mais cauteloso, foi propondo uma Comissão de Inquérito ao caso mais escandaloso, ao negócio da compra da TVI pela PT, que levou António Filipe, do PCP, a dizer, nos corredores da Assembleia, que este não era o principal tema da actualidade nacional.
Já se sabe, que o PS, pela voz de António Costa, quer fugir deste tema como o Diabo foge da Cruz.
Eu por mim, e já o escrevi , acho que a esquerda não pode alhear-se de um assunto que revela os contornos pouco sérios da governação e do seu principal responsável e que, sabendo que poderá não ser a principal beneficiária desta situação, deve lutar para que de facto haja um claro saneamento da vida política nacional. O seu grau de autonomia é pequeno e muitos são os alçapões em que poderá cair, não pode é em nome do debate das grandes linhas da política económica que está a ser seguida pelo Governo e pela direita esquecer também o que se passa à sua volta.

PS.: não há links para a Quadratura do Círculo e para o Público, que deliberadamente tranca os artigos de opinião.

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