25/10/2011

Robespierre e Hitler, uma crítica

Há tempos resolvi comentar um post Sérgio Lavos referentes a cinco filmes da vida dele, cujo título em inglês começava por uma das letras do seu apelido. Na altura achei estranho que a selecção fosse feita na base do seu nome, hoje, como já referi em post anterior sobre a Líbia, parece-me provir de alguém um pouco egocêntrico. Mas isso é o que menos importa em relação a um post recente de Lavos.

Comecemos pelo princípio. Lavos, no post que dedicou à Líbia, e que eu comentei, escreveu: “Não há imagens da cabeça de Robespierre nem do corpo de Hitler envenenado” isto no meio de um texto atabalhoado a defender a morte de Kadafi.

Carlos Vidal, do 5 dias, depois de umas gracinhas sobre Lavos, reponde-lhe dizendo que Lavos não sabe “quem foi Robespierre, depois de o ter comparado a Hitler”. Como o senhor Vidal não é muito amado na esquerda não comunista – eu sendo um comunista não ortodoxo considero-o um pedante – houve logo quem se metesse ao barulho e fizesse um pequeno post sobre a defesa que ele fazia de Rosbespierre. Assim, Miguel Madeira, no Vias de Facto, considera estranho que Carlos Vidal defenda Robespierre, que não passaria de um social-democrata ou mesmo de um democrata-cristão. Brincadeira de mau gosto que só releva do pouco amor que aquele blogger desperta na blogosfera.

Depois disto Lavos, como que a dar razão a Carlos Vidal, faz mesmo a comparação entre Robespierre e Hitler, citando uma frase de cada um. Esta resposta motiva uma reacção indignada, mas quanto a mim justa, de João Valente Aguiar, no 5 dias, tentando focar os problemas históricos e políticos que aquela comparação acarreta. Foi a partir deste texto que eu fui deslindar toda esta história. Por último Segio Lavos responde irado num post com o título A fina flor da elite intelectual de extrema-esquerda.

Provavelmente gastei demasiadas linhas com tão ruim defunto, mas eu, que não me considero de extrema-esquerda, acho  aquela comparação perigosa e mostrando alguma ignorância.

Modernamente, e principalmente na altura da comemoração do bicentenário da Revolução Francesa, uma conjunto de intelectuais, principalmente franceses, da direita neo-liberal, empreendeu a desvalorização da Revolução Francesa, destacando o seu período de Terror, e começaram a compará-la, no pior sentido, com a Revolução Bolchevique, afirmando que uma era herdeira da outra e que o “terror vermelho” era o prolongamento do Terror da Revolução Francesa. Consideravam, por isso, a nossa noção actual de democracia como herdeira da Revolução Americana e não da Francesa. Entre nós o mais lídimo representante desta corrente é João Carlos Espada, que escreveu ontem um artigo no Público, Sobre a Primavera Árabe e a constituição da liberdade, que vai um pouco no sentido por mim definido. Portanto, para estes autores se há alguém que se deva comparar a Robespierre é Lenine ou mesmo Estaline e nunca Hitler, dado que estes é que imitaram o Terror, levando-o a patamares até aí desconhecidos. Não sei pois onde Sérgio Lavos foi buscar esta comparação, talvez porque aqueles nomes serem um bocado incómodos, preferiu Hitler a Lenine, desvalorizando mais a acção de Robespierre. Fronçois Furet, um autor que depois de ser comunista, resolveu aderir à direita, no seu livro sobre O passado de uma Ilusão, Ensaio sobre a ideia do comunismo no século XX (1996, Editorial Presença), dedica parte do capítulo 3 (O encanto universal de Outubro), à comparação entre a Revolução Francesa e a Revolução de Outubro, referindo-se especialmente à época do Terror.

Parece-me pois estranho que alguém, que penso, ou deduzo, ser próximo do Bloco de Esquerda, possa retomar, piorando, esta comparação, que é típica de uma linha de pensamento da direita.

Para terminar recomendo-vos o livro interessantíssimo de Michel Christofferson, Les Intellectuels contre la Gauche, L’idéologie antitotalitaire en France (1968-1981) (2009, Agone) que dedica um capítulo a François Furet, que antes de escrever aquele ensaio se tinha dedicado com proveito e fama à Revolução Francesa, vista desta perspectiva aterrorizadora. Tentou mesmo influenciar as comemorações do bicentenário daquela, na mesma linha que a direita portuguesa, chefiada por Rui Ramos, tentou influenciar as comemorações do centenário da República.

Provavelmente Sérgio Lavos encontrará mais armas para a sua fogueira num livro que saiu recentemente, O livro negro da Revolução Francesa, de diversos autores, editado pela Alêtheia, da Zita Seabra (ver aqui a descrição do livro pela editora). Já tínhamos um precedente O Livro negro do Comunismo (1998, Livros Quetzal), agora temos este.

PS.: afinal Miguel Madeira, do Vias de Facto, resolveu levar-se a sério e então entrou em polémica com João Valente Aguiar, do 5 Dias, para saber se Robespierre era um jacobino radical (tipo burguês radical) ou um revolucionário consequente. Esta parte da polémica parece-me de uma infantilidade esquerdista.

1 comentário:

Infantilidade é.... disse...

a nomenclatura- burguês
já agora burguês-provinciano
e burguês de 3ªgeração

o resto como dizia TOCQueVILLE o mal da europa são as suas organizações políticas, cujo objectivo é combater e não convencer e por isso adoptam formas de organização que nada têm de civil

e introduz no seu meio máximas militares-secção coluna etc

pra biólogo mesmo manga de alpaca TRix nitratus à obélix
é mais química que biolo