23/10/2011

Ainda a morte de Kadafi

Quando no post anterior critiquei Rui Bebiano, do A Terceira Noite, escrevi que o fazia porque ele era o único, que eu tivesse lido, entre os blogs que consulto quase diariamente, que tinha escrito sobre a morte de Kadafi. Depois de redigir isto resolvi ir ver outros que estão inseridos naquela lista e descobri que a morte do ditador tinha merecido mais comentários. Um de Miguel Serras Pereira, no Vias de Facto, outro de Sérgio Lavos, no Arrastão, e outro ainda Helena Borges, no 5 dias. Qualquer deles de significado diferente e feito por pessoas de diversas origens políticas, todos da esquerda.

Assim, o post de Miguel Serras Pereira (MSP) é muito linear, não se pode condenar a morte de Kadafi, sem condenar o ditador e muito menos fazer dele um exemplo a seguir. Aqui, o autor cita o texto de Helena Borges que tem só esta frase: “De pé, a resistir à colonização do seu país pelas Nações Unidas do Atlântico Norte”. Sem me pôr ao lado de MSP, porque acho que não basta só dizer isto, concordo que é um despautério a afirmação de Helena Borges. No entanto, MSP cita igualmente um post do Politeia, um blog de JM Correia Pinto, que eu achei bastante interessante, ao ponto de o incluir entre aqueles que eu consulto quase diariamente. O título é As democracias ocidentais aderem à acção directa, que desmonta completamente a responsabilidade do Ocidente nesta morte. MSP está de acordo e Joana Lopes também. Vi em comentários ao post.

Pior é o texto de Sérgio Lavos, um pouco egocêntrico. Depois de escrever o seu post, diz que a posição que tomou neste é diferente daquela que assumiu quando da morte de Saddam Hussein e termina dizendo que dá que pensar. Não sei quem é que deve pensar, se o autor se os seus leitores. Estes, com certeza, não estão nada preocupados com a sua mudança de posição.

A encimar o seu post lá vem a célebre fotografia do corpo de Mussolini e seus acólitos pendurados numa praça de Milão, que já tínhamos encontrado em João Tunes (ver post anterior). Depois, há uma arrevesada justificação desta morte, seguida de uma reflexão sobre a condição humana e uma velha advertência de que aquilo que vimos no ecrã não é a realidade, ou seja, nós não estamos a assistir à sua morte, mas sim vimo-la pelos olhos de alguém, que não é um observador desinteressado. Isto é verdade, mas que não nos sirva para ofuscar os acontecimentos. Sobre Sérgio Lavos falarei noutro post, pois escreveu uma das mais ignaras afirmações que alguém, que participa num blog de esquerda, pode fazer: comparou Rosbipierre a Hitler.

Dito isto, para que ninguém me acuse de me refugiar em críticas e não dar a minha opinião, aqui vai ela. A história está cheia de meandros e não se pode fazer comparações entre factos que ocorreram com dezenas ou centenas de anos de diferença. Quando foi do processo de Nuremberg ainda era normal condenar as pessoas à morte, daí os principais dirigentes nazis serem enforcados, hoje, no Tribunal Internacional de Haia, ninguém já é condenado à morte. Por outro lado, as circunstâncias fazem o momento, se não houvesse uma tropa disciplinada e obediente às hierarquias, Marcelo Caetano não sairia vivo do Largo do Carmo. Bastava que Salgueiro Maia o entregasse à multidão. Lenine teve que fuzilar os czares porque havia o perigo deles caírem nas mãos dos brancos. Talvez Mussolini, se não fosse fuzilado naquele momento, morresse na cama. A História é feita pelos homens e as suas circunstâncias.

Por isso, o que me aflige na morte de Kadafi, é que ele foi morto pela NATO por interposta “ira das massas”. A senhora Clinton já tinha garantido que ele ou era morto ou ia preso e Bush, a partir do momento que disse que pagava a quem apanhasse Osama bin Laden vivo ou morto, deu rédea livre para que se matasse qualquer inimigo da América.

Houve quem justificasse a morte de Kadafi às mãos dos familiares daqueles que tinham sido mortos ou torturados pelo ditador, lamento mas aquelas massas parecem-me mais cães assolados pelo ódio tribal do que vingadores de injustiças. Os chamados rebeldes não me oferecem confiança nenhuma e o futuro irá de certeza confirmar isto que escrevi.

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