As trocas e baldrocas dos partidos do “arco governamental” são conhecidas. No entanto, o CDS ao propor ao PS que este faça parte da possível maioria governamental que se venha a formar, para além de interesses próprios, visa não só forçar este partido a assumir os custos das medidas draconianas que estão para vir, como evita que ele fique à rédea solta na oposição. O PS seria assim um factor de controlo do descontentamento popular, permitindo o isolamento dos chamados partidos do protesto. Mas situações destas têm-se vindo a suceder, com pequenas alterações, desde o 25 de Abril
O que é novo nas declarações referidas no post anterior é o papel que alguns comentadores de direita atribuem agora ao PCP e à CGTP. Os parabéns dados àquele partido são, quanto a mim, bastante embaraçosos. Mas apreciemos a manifestação anti-NATO e a Greve Geral separadamente. Comecemos pela primeira.
De um artigo (parcialmente transcrito aqui) bastante interessante de São José Almeida, publicado no mesmo jornal e no mesmo dia em que Pacheco Pereira escreve o seu, destacamos, porque está relacionado com aquilo que temos vindo a afirmar, esta parte: “É cristalino que está em curso a adopção de um discurso de propaganda que pretende criar um clima de temor às forças de segurança e de isolamento do que pode ser o protesto. Esta estratégia de intimidação é transparente e consiste em passar a mensagem – que é de forma estranhamente acrítica reproduzida pelos jornalistas – de que há manifestantes perigosos e, por isso, é preciso fechar num quadrado sob escolta de polícia de intervenção uma manifestação que é feita pela Marcha Mundial das Mulheres, a ATTAC, as Panteras Rosa, um grupo de rastafári (para quem não saiba é um movimento religioso pacifista) e um grupo de anarquistas, mais um deputado do BE, José Soeiro (um dos mais preparados deputados em exercício) e um militar de Abril (Mário Tomé).” E termina, fazendo eu uma ligação da manifestação anti-NATO à Greve Geral: “A greve geral foi um sinal político do descontentamento que existe já e de como a revolta pode estar latente. É esse medo da rua que leva à deriva securitária que se assiste em Portugal. E que, por mais ridícula que seja, é grave e põe em risco as regras da democracia tal como a conhecemos até hoje.”
Ora bem, este artigo, que tem a ver unicamente com a acção securitária da polícia, permite no entanto que se infira que ao se isolar e entregar aos cuidados da polícia a repressão ou a marginalização de “manifestantes perigosos”, está-se a consentir que no futuro seja fácil atacar trabalhadores em greve ou que muito legitimamente façam a sua propaganda ou que organizem piquetes para a mesma. Por isso, faz sentido que José Neves, no Vias de Facto retome, adaptando, o poema sempre atribuído a Brecht, mas que parece não ser dele:
Primeiro levaram os anarquistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.
…
Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde.
O que é novo nas declarações referidas no post anterior é o papel que alguns comentadores de direita atribuem agora ao PCP e à CGTP. Os parabéns dados àquele partido são, quanto a mim, bastante embaraçosos. Mas apreciemos a manifestação anti-NATO e a Greve Geral separadamente. Comecemos pela primeira.
De um artigo (parcialmente transcrito aqui) bastante interessante de São José Almeida, publicado no mesmo jornal e no mesmo dia em que Pacheco Pereira escreve o seu, destacamos, porque está relacionado com aquilo que temos vindo a afirmar, esta parte: “É cristalino que está em curso a adopção de um discurso de propaganda que pretende criar um clima de temor às forças de segurança e de isolamento do que pode ser o protesto. Esta estratégia de intimidação é transparente e consiste em passar a mensagem – que é de forma estranhamente acrítica reproduzida pelos jornalistas – de que há manifestantes perigosos e, por isso, é preciso fechar num quadrado sob escolta de polícia de intervenção uma manifestação que é feita pela Marcha Mundial das Mulheres, a ATTAC, as Panteras Rosa, um grupo de rastafári (para quem não saiba é um movimento religioso pacifista) e um grupo de anarquistas, mais um deputado do BE, José Soeiro (um dos mais preparados deputados em exercício) e um militar de Abril (Mário Tomé).” E termina, fazendo eu uma ligação da manifestação anti-NATO à Greve Geral: “A greve geral foi um sinal político do descontentamento que existe já e de como a revolta pode estar latente. É esse medo da rua que leva à deriva securitária que se assiste em Portugal. E que, por mais ridícula que seja, é grave e põe em risco as regras da democracia tal como a conhecemos até hoje.”
Ora bem, este artigo, que tem a ver unicamente com a acção securitária da polícia, permite no entanto que se infira que ao se isolar e entregar aos cuidados da polícia a repressão ou a marginalização de “manifestantes perigosos”, está-se a consentir que no futuro seja fácil atacar trabalhadores em greve ou que muito legitimamente façam a sua propaganda ou que organizem piquetes para a mesma. Por isso, faz sentido que José Neves, no Vias de Facto retome, adaptando, o poema sempre atribuído a Brecht, mas que parece não ser dele:
Primeiro levaram os anarquistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.
…
Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde.
Ora no Avante, de 26/11/10, lê-se isto: “Ao contrário do que muitos anunciaram e outros tantos desejaram, a manifestação decorreu sem incidentes. Não houve sangue, nem distúrbios, nem violência. Não se partiu vidros nem houve carros incendiados, apesar de uns ânimos mais exaltados terem concentrado as atenções de quem, consciente ou inconscientemente, tem por missão transformar o episódio no acontecimento, mostrar a árvore para que não se veja a floresta.
Não é de surpreender que assim tivesse sido. A centena de organizações que promoveu a jornada estava bem identificada, desde a maré rubra das bandeiras comunistas às organizações sindicais, do movimento das mulheres às organizações de reformados, de imigrantes, agricultores, colectividades..., a mostrar que ali estava gente que luta, sim, mas para construir um mundo de paz.” Como se pode concluir, este texto permite não só que os comentadores de direita agradeçam ao PCP não ter havido distúrbios, nem violência, como favorece o isolamento daqueles que "consciente ou inconscientemente" têm por missão provocá-los. Pode o PCP sentir-se muito incomodado com afirmações daqueles comentadores, não pode é fugir à triste realidade de ser considerado como uma válvula de escapa para a tensão social, colaborando assim "consciente ou inconscientemente" com a direita.
Quanto à Greve Geral podemos dizer que a situação já é diferente. Não tenho dúvidas que os sindicalistas da CGTP se esforçaram ao máximo para que ela tivesse êxito, simplesmente, a manutenção da tradição de no fim de uma greve geral não se fazer qualquer acção de protesto ou de massas, parece-me ser um grave erro, a corrigir em futuras paralisações gerais. Recordo-me que no final dos anos 70 ou início de 80, uma greve da função pública, que acompanhei de perto como sindicalista, terminaria com uma manifestação em S. Bento, que foi desconvocada há última da hora por não se ter comunicado a tempo ao Governo Civil a sua realização. Este facto provocou uma enorme desilusão entre os trabalhadores.
Penso que os agradecimentos à CGTP pelo desenrolar ordeiro da greve se deve bastante à maturidade dos trabalhadores e também ao desejo do Governo de não se intrometer demasiado. Recordo-me também duma greve em que o Ângelo Correia interveio como Ministro da Administração Interna, que ficou conhecida como a revolução dos pregos, já que ele se socorreu de meia dúzia de pregos, inventados ou reais, espalhados numa estrada para acusar os grevistas de intuitos revolucionários. Nesta, a tensão esteve ao rubro e aí a CGTP não foi apontada como o cordeiro manso como agora se verificou, também a força sindical era outra e talvez os dirigentes do PCP tivessem outra têmpera.
Tal como já afirmei em outros posts o que se passou na manifestação anti-NATO e nas acções desencadeadas pela polícia nas fronteiras não auguram nada de bom quer para a esquerda, quer para as liberdades democráticas.
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