01/12/2010

Como o PS, o PCP e a CGTP servem de válvula de escape para a tensão social – II


Analisadas as declarações sobre o PS, inseridas no post anterior, passemos às que se referem ao PCP e, por tabela, as relativas à CGTP, de interpretação um pouco mais complicada.

Tudo começa quando Pacheco Pereira (PP), na Quadratura do Círculo, de quinta-feira da semana passada (ainda sem link), afirma que foi devido ao PCP que a manifestação anti-NATO e a Greve Geral correram de forma tão pacífica. Não me recordo das palavras exactas, mas este tema foi retomado na crónica que escreve para o jornal Público ao Sábado.
Que afirma PP?
O tónus da luta política não pode contrariar a emergência em que vivemos. Um bom exemplo dessa atitude tem sido tomado pelo PCP, mesmo que não o admita ou enuncie. Na verdade, quer o que se passou na cimeira da NATO, quer o modo como foi conduzida a greve geral mostra que o PCP não pretende radicalizar a conflitualidade, e, bem pelo contrário, actua de forma decisiva, se preciso for, para a conter. Na cimeira da NATO só o comportamento da manifestação do PCP-CGTP e do seu serviço de ordem, em colaboração com a polícia, permitiu o isolamento dos sectores mais radicais que pretendiam aproveitar a presença de um grande número de manifestantes para proceder a violências e destruições. Isolados e cercados pela polícia, que actuou também com grande profissionalismo, os manifestantes violentos não conseguiram provocar qualquer distúrbio significativo, mesmo quando forçaram uma manifestação ilegal. Este facto é excepcional e não se verificava já há vários anos, numa cimeira com esta dimensão e projecção”.
Depois o artigo espraia-se sobre a Greve Geral, e também sobre o papel desempenhado pelo PCP para lhe retirar a conflitualidade social.
Lançado este mote por PP, foi ver de seguida uma série de comentadores a retomarem o mesmo tema. Com alguma malícia Clara Ferreira Alves diz o mesmo, no Eixo do Mal (ver minuto 27,49), “gostaríamos todos que no futuro o descontentamento social seja canalizado desta forma civilizada e organizada e absolutamente decente em que os trabalhadores se limitam, como é seu direito, … a organizarem uma forma de protesto e portanto estamos todos muito descansados enquanto isto for assim, … porque daqui para o futuro as coisas vão ser diferentes”.
Marcelo Rebelo de Sousa, no seu comentário semanal, na TVI, diz claramente que tem que se dar uma palavra de agradecimento ao PCP e à CGTP. “O PCP tem uma coisa boa é um partido disciplinado, certinho. Com o PCP não há arruaças, nem com a CGTP”. Depois, compara o que se verificou em Portugal com o que se passou na Grécia e em França, em que houve desacatos. Por último lembra que a participação da UGT na Greve Geral é indicativo daquilo que espera um governo de centro direita que aí venha, uma união entre o PS, a esquerda moderada, com a esquerda PCP e Bloco de Esquerda, traduzida na acção conjunta da UGT e CGTP.

Este é o tom geral com que a direita, e não estou a incluir aí Clara Ferreira Alves, aprecia a acção “civilizada” do PCP. Em próximos episódios retirarei algumas conclusões que destas declarações e que, segundo constato, não foram ainda comentadas por ninguém.

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