Muito me tem apetecido desancar em todos aqueles que neste momento fazem por omissão, pela chamada imparcialidade ou pelo claro apoio a Israel o jogo dos agressores, ou seja, dos violadores dos mais elementares direitos das populações palestinianas. Mas nem sempre posso responder a todos.
Por exemplo, Pacheco Pereira (PP) publicou ontem no Público (A falsa equidistância e a irrelevância da política europeia no Médio Oriente) mais um dos seus artigos belicistas, a apelar à violência e a desancar num inocente texto que pretendia estabelecer a equidade entre as partes. Ainda um dia hei-de fazer uma análise desta prosa de PP, que começou com o ataque, que parecia muito de esquerda (era semelhante à crítica do PCP), contra o Tribunal Penal Internacional (TPI) e depois se consolidou na defesa e apoio da invasão do Iraque, por Bush, e que hoje se reflecte nesta apologia da violência praticada por Israel. Ao PP nunca passou pela cabeça que a sua prosa poderia, neste apelo à guerra e na crítica à impotência das democracias, principalmente as da União Europeia, roçar a ideologia fascista. Mas ainda não chegou a hora, nem sei se terei acesso às prosas antigas do PP.
Mas o que me ocupa hoje é parcialidade de uma estação de televisão, a SIC Notícias, que recorreu, pelo menos no noticiário das 2, a comentadores defensores unicamente de um dos lados do conflito. Não é que a televisão pública, a RTP 1, não tenha feito o mesmo noutras ocasiões e que, presentemente, a RTPN, que eu não vejo, não possa recorrer à mesma prática. Por exemplo, a Márcia Rodrigues, a enviada daquela estação para cobrir a invasão de Israel, está a fazer os seus relatos, porque é impossível chegar a Gaza – a liberdade de informação foi suprimida por Israel ao não permitir a entrada de jornalistas naquele território –, na fronteira com aquela faixa, o que necessariamente a há-de levar a reproduzir os pontos de vista dos porta-vozes daquele país, porque é mais fácil recolher as sua opiniões e porque provavelmente a vontade de procurar não será muita.
Mas a SIC Notícias, tem-se distinguido, pelo menos no noticiário das duas, por recorrer unicamente a comentadores pró-Israel. Ontem foi a vez de Carlos Gaspar, do Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa, hoje foi a Ester Mucznik, vice-presidente da Comunidade Israelita de Lisboa. Qualquer dos dois defensores “à outrance” da guerra desencadeada por Israel. A SIC Notícias, sem contraditório, dá voz a defensores declarados de uma das posições. Estranha maneira de dar informação.
O que diz cada um deles. O primeiro foi muito claro naquilo que disse sem pestanejar, esta guerra visava decapitar e isolar o Hamas e dar o poder a Al Fatah, que colabora com Israel, os tais moderados, que antes eram terroristas. Bem pode o povo palestiniano votar no Hamas, mas como este não serve, há que obrigá-lo a aceitar o que não quer. Estranha forma de defender a democracia.
A segunda foi mais directa ao coração. Estava ali para vender a bondade da intervenção e quase de lágrimas nos olhos apelava para que compreendêssemos os israelitas e a necessidade que tinham de se defender dos malandro terroristas do Hamas, que obrigavam a população palestiniana a aceitá-los e que se refugiavam por detrás dela. Esqueceu-se que as eleições que deram a vitória aquele partido, principalmente na faixa de Gaza, foram acompanhadas pela comunidade internacional que as considerou justas e democráticas.
Já agora lembremos que o correspondente da SIC no Médio Oriente, Henrique Cimerman, também não será um modelo de imparcialidade política já que a sua vida é toda feita em Israel e é a partir de lá que faz os seus relatos, quase sempre num tom favorável àquele país.
Por último, uma anedota, o porta-voz da Presidência da União Europeia, que é neste momento assegurada pela República Checa, tinha afirmado que a intervenção de Israel era mais defensiva do que ofensiva. Hoje o Ministro dos Negócios Estrangeiros teve que vir desmentir esta declaração, afirmando que Israel não tinha o direito de empreender acções militares que "afectem fortemente civis". Ou seja, o porta-voz ainda não tinha compreendido que não era porta-voz dos interesses americanos, e por tabela dos israelitas, mas sim de uma comunidade de Estados que pensa um bocadinho diferente. Triste sina, a destes países satélites, que deixam de ser mandaretes de uns e passam a ser mandaretes de outros.
Por exemplo, Pacheco Pereira (PP) publicou ontem no Público (A falsa equidistância e a irrelevância da política europeia no Médio Oriente) mais um dos seus artigos belicistas, a apelar à violência e a desancar num inocente texto que pretendia estabelecer a equidade entre as partes. Ainda um dia hei-de fazer uma análise desta prosa de PP, que começou com o ataque, que parecia muito de esquerda (era semelhante à crítica do PCP), contra o Tribunal Penal Internacional (TPI) e depois se consolidou na defesa e apoio da invasão do Iraque, por Bush, e que hoje se reflecte nesta apologia da violência praticada por Israel. Ao PP nunca passou pela cabeça que a sua prosa poderia, neste apelo à guerra e na crítica à impotência das democracias, principalmente as da União Europeia, roçar a ideologia fascista. Mas ainda não chegou a hora, nem sei se terei acesso às prosas antigas do PP.
Mas o que me ocupa hoje é parcialidade de uma estação de televisão, a SIC Notícias, que recorreu, pelo menos no noticiário das 2, a comentadores defensores unicamente de um dos lados do conflito. Não é que a televisão pública, a RTP 1, não tenha feito o mesmo noutras ocasiões e que, presentemente, a RTPN, que eu não vejo, não possa recorrer à mesma prática. Por exemplo, a Márcia Rodrigues, a enviada daquela estação para cobrir a invasão de Israel, está a fazer os seus relatos, porque é impossível chegar a Gaza – a liberdade de informação foi suprimida por Israel ao não permitir a entrada de jornalistas naquele território –, na fronteira com aquela faixa, o que necessariamente a há-de levar a reproduzir os pontos de vista dos porta-vozes daquele país, porque é mais fácil recolher as sua opiniões e porque provavelmente a vontade de procurar não será muita.
Mas a SIC Notícias, tem-se distinguido, pelo menos no noticiário das duas, por recorrer unicamente a comentadores pró-Israel. Ontem foi a vez de Carlos Gaspar, do Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa, hoje foi a Ester Mucznik, vice-presidente da Comunidade Israelita de Lisboa. Qualquer dos dois defensores “à outrance” da guerra desencadeada por Israel. A SIC Notícias, sem contraditório, dá voz a defensores declarados de uma das posições. Estranha maneira de dar informação.
O que diz cada um deles. O primeiro foi muito claro naquilo que disse sem pestanejar, esta guerra visava decapitar e isolar o Hamas e dar o poder a Al Fatah, que colabora com Israel, os tais moderados, que antes eram terroristas. Bem pode o povo palestiniano votar no Hamas, mas como este não serve, há que obrigá-lo a aceitar o que não quer. Estranha forma de defender a democracia.
A segunda foi mais directa ao coração. Estava ali para vender a bondade da intervenção e quase de lágrimas nos olhos apelava para que compreendêssemos os israelitas e a necessidade que tinham de se defender dos malandro terroristas do Hamas, que obrigavam a população palestiniana a aceitá-los e que se refugiavam por detrás dela. Esqueceu-se que as eleições que deram a vitória aquele partido, principalmente na faixa de Gaza, foram acompanhadas pela comunidade internacional que as considerou justas e democráticas.
Já agora lembremos que o correspondente da SIC no Médio Oriente, Henrique Cimerman, também não será um modelo de imparcialidade política já que a sua vida é toda feita em Israel e é a partir de lá que faz os seus relatos, quase sempre num tom favorável àquele país.
Por último, uma anedota, o porta-voz da Presidência da União Europeia, que é neste momento assegurada pela República Checa, tinha afirmado que a intervenção de Israel era mais defensiva do que ofensiva. Hoje o Ministro dos Negócios Estrangeiros teve que vir desmentir esta declaração, afirmando que Israel não tinha o direito de empreender acções militares que "afectem fortemente civis". Ou seja, o porta-voz ainda não tinha compreendido que não era porta-voz dos interesses americanos, e por tabela dos israelitas, mas sim de uma comunidade de Estados que pensa um bocadinho diferente. Triste sina, a destes países satélites, que deixam de ser mandaretes de uns e passam a ser mandaretes de outros.
PS.: foi à procura no blog do Pacheco Pereira, Abrupto, do seu mais recente texto no sobre a invasão da faixa de Gaza, acima referido, para ver se o linkava para este post e encontrei algumas farpas contra frases de locutores da televisão que não afinam pelo diapasão politicamente correcto de Pacheco Pereira. Mas o que dirá S. Ex.ª deste caso relatado aqui e que revela, porque muito mais manipulador da opinião pública, dado que destila uma clara orientação sem qualquer contraditório, uma enorme parcialidade.
Actualização (10/01/09). Tenho que reconhecer que nem sempre a SIC Notícias é parcial. Ontem sexta-feira, apresentou no noticiário das duas uma reportagem sobre as crianças de Gaza, bastante interessante e demonstrativa da falta de respeito de Israel por aquelas populações. Às 23h, no Expresso da Meia-Noite, convidou para o painel de comentadores um grupo bastante favorável à causa palestiniana, constituído por gente bem informada, tais como a Clara Ferreira Alves e o Miguel Portas, uma outra senhora de que não me recordo o nome, mas que completou as informações prestadas pelos primeiros, e o estudioso do Islão, o Professor Dias Farinha, que deve ser dos poucos portugueses que sabe árabe e que está sempre disponível para defender, moderadamente é certo, a causa árabe. Esta composição parecia compensar os dias seguidos em que só se vinculou o ponto de vista de Israel.
5 comentários:
Nã creio que este comentário seja publicado, mas é curioso como o outro é sempre um espelho. O autor do artigo fala de imparcialidade, tomado de emoções que transparecem no texto.
Caro comentador
Primeiro, se está habituado a pôr comentários noutros blogs, há-de reparar que a maioria deles dizem que os ditos estão sujeitos à aprovação dos donos. Ora no meu isso não sucede. Por enquanto, até ao momento em que me encham a caixa de comentários com alguns impublicáveis, permito todo e qualquer comentário. E o seu de modo algum se poderá considerar impublicável.
Segundo, logo no início do meu post eu manifestei o meu desacordo com todos aqueles que sobre este conflito têm uma posição imparcial. Mas isso situa-se ao nível da opinião. O meu blog não é um órgão de informação. E o que eu critico é que uma estação de televisão só leve lá comentadores apoiantes duma das facções em luta. Seria simples, e isso tem sido seguido noutros casos, apresentar dois comentadores com pontos de vista opostos. Mas isso não sucedeu. Por outro lado, muito dos correspondentes no local, que deviam mostrar uma certa imparcialidade, não o fazem tomam partido por uma das partes, que é o mais fácil, já que têm ali à mão os porta-vozes de Israel.
Acho que fui explícito
Caríssimo Jorge.
Realmente não havia entendido a primeira frase de seu post, pois essa expressão não é comum ou não existe em nosso português brasileiro.
Nesse caso é compreensível sua parcialidade. Pelo que entendi sua indignação foi pela falta de democracia utilizada pela emissora em questão.
Falando em democracia, o Hamas foi eleito democraticamente, o que nos faz pensar que a população em sua maioria é favorável aos ataques diários que Israel vinha suportando por anos a fio. Aqui se planta, aqui se colhe.
Ainda falando em democracia, agradeço pela sua postura democrática no blog e pela pronta resposta.
Marcos Schurmann.
Não tinha reparado que era brasileiro.
Mas para sua melhor informação recomendo-lhe, porque acabei de ler, este belo artigo assinado por Uri Avnery, um velho militante pela paz israelita, e que saiu num site brasileiro Carta Maior. Aqui deixo a referência http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4062
Acabo de ler a indicação e lá postei meu comentário. Caso não seja publicado, é muito simples:
Perguntei ao autor da publicação se ele se lembra dos artigos constantes da fundação do hamas e seus objetivos.
Acho que não há necessidade de ser mais explícito.
Marcos Schürmannn
Enviar um comentário