11/02/2012

O Padrinho alemão

Nunca tinha visto um governante português tão curvado perante um representante de um governo estrangeiro, talvez porque estas cenas raramente são filmadas, como aquela que presenciei na televisão do nosso ministro das finanças a prestar vassalagem ao seu homólogo alemão. A cena era digna do filme O Padrinho, o nosso governante quase beijava as mãos ao padrinho alemão que lhe tinha concedido uma pequena audiência para lhe dar conta que o seu pedido tinha sido atendido.

Não sou nada patrioteiro em relação às posições de outros dirigentes estrangeiros que comentam a nossa vida política, mas este pequeno encontro, pelo menos na televisão, é sinónimo que já temos a nossa espinha muito curvada de tanta pedinchice.

Este encontro já foi glosado de todas as maneiras, já pouco mais há a dizer sobre ele, a única coisa que verdadeiramente me indignou foi a atitude, porque o mais já se suspeitava. Era já previsível, pelas notícias saídas na imprensa estrangeira, que o nosso Governo teria que pedir uma reestruturação da dívida pública, quer aumentando o prazo de pagamento quer pedindo mais dinheiro emprestado. Nesse sentido não estamos perante uma surpresa. Não sabíamos é que a conversa já ia tão adiantada e que os alemães estariam dispostos, depois de resolvida a crise grega, de nos conceder essa reestruturação. O grave é não sabermos como vai ser resolvida a crise grega, nem sequer se será resolvida.

Os desmentidos subsequentes àquela conversa fazem parte das encenações que normalmente acompanham estas inconfidências. Ninguém poderia manter que o ministro alemão já nos tinha prometido a reestruturação da dívida contra a opinião do seu Parlamento e da sua opinião pública, nem o Governo português poderia dizer agora, depois de durante tanto tempo andar a dizer o contrário, que estava a pedir a reestruturação da dívida.

E sobre este assunto desagradável parece-me que está tudo dito.

3 comentários:

Armando Cerqueira disse...

Ora, infelizmente, essa subserviência da burguesia portuguesa post-25 de Abril de 1974 é uma tendência antiga, que se repete constantemente. Por um acidente da História, deixámos de ter uma 'burguesia nacional'.
Isso é já visível na subserviência de Costa Gomes e Mário Soares em Outubro de 1974 em Washington, perante as ingerências de Gerald Ford e Kissinger, ou no pedido de Mário Soares de ingerência militar britânica contra a esquerda portuguesa, cerca de Novembro de 1975... E por aí fora...
Quer nas decisões de política internacional, quer nas relações militares internacionais, quer nas negociações económicas e financeiras, a burguesia portuguesa - nela incluo o PS - sempre descurou/traiu os interesses do País, quando não os vendeu por pratinhos de lentilhas...
Mas o seu artigo, curto embora, a sua indignação, estão certos e são legítimos...
Aaproveito para lhe desejar uma rápida recuperação da saúde.
Cumprimentos.

F. Penim Redondo disse...

Eh pá, o alemão é paralítico, anda numa cadeira de rodas. Para falar com ele em particular o interlocutor tem que se curvar. Já cometeste uma gaffe

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Caro Fernando
Porque sabia que o assunto era melindroso, tive o cuidado de investigar primeiro antes de botar faladura. Assim, vi em alguns vídeos que era normal falar com o Ministro da Finanças alemão com as pessoas sentadas em cadeiras ou em banquetas, o que punha os seus interlocutores ao mesmo nível que o ministro. No caso do português o nosso ministro apoia-se nas costas de uma cadeira, podia muito bem ter sentado nela para falar. Só encontro situação semelhante no ministro espanhol que fala com o seu interlocutor, que eu já não me recordo quem seja, todo curvado a dizer que tinha sido aprovada pelo Governo espanhol uma lei do trabalho bastante agressiva.

Quanto ao Armando Cerqueira estou-lhe em dívida com uma análise mais completa da posição política do PS. No entanto, nos posts que escrevi sobre o livro do Rui Mateus, Contos Proibidos, abordo alguns dos temas referidos por si. Obrigado pela sua atenção quanto à minha saúde. Apareça sempre.