06/11/2011

Um artigo do Avante

Advertência inicial: havia neste momento assuntos nacionais e internacionais muito mais interessantes para comentar do que o artigo de Jorge Messias, A máquina da morte e a utopia, no Avante, de 27 de Outubro. No entanto, como levantou tanta celeuma na blogosfera, extravasando desta para os media nacionais, senti-me na obrigação de o comentar, já que de modo geral não concordo com a abordagem que tem sido feita.

Tomei conhecimento desta história num post de Paulo Granjo, do 5 dias, que era mais uma crítica dirigido ao Director do jornal Avante, por ter permitido a publicação daquele artigo do que ao autor do mesmo (retratou-se posteriormente). O seu texto terminava, depois de fazer um link para o artigo, com uma frase que atribuía a um velho amigo: “meu querido partidinho”. Percebi que havia mouro na costa, mas não liguei. No dia seguinte (3/11/11), vejo que o assunto tinha chegado ao jornal Público, e parece que quem o desencadeou foi o escritor Richard Zimler, norte-americano, naturalizado português, que na sua página no Facebook terminava um pequeno apontamento no seu mural com esta frase: “Agradecia que condenasse o anti-Semitismo do PCP o mais rapidamente possível!» (pode-se ler aqui). Num comentário ao post de Paulo Granjo afirma-se que o autor emendou o seu texto inicial por outro mais benigno. Não sei se é verdade ou mentira, não sou “amigo” de Zimler.

O que está em causa nesta história é que Jorge Messias, o colunista do Avante, citou, no início da crónica que escreve regularmente para o tema Religiões, daquele periódico, um texto de Os protocolos dos sábios do Sião, que é um conhecido texto anti-semita, forjado pela polícia czarista e citado por Hitler, no seu Mein Kampf. Daí partiu-se, e com uma certa razão, para na blogosfera acusar o autor de anti-semita e o próprio PCP. É evidente que nem todos foram tão explícitos como a “primeira versão” do texto de Zimler e, com mais ou menos qualidade, levantaram questões pertinentes (ver aqui, aqui, aqui ou aqui). No entanto, quanto a mim ficaram-se muito atinentes à citação de um pequeno texto dos Protocolos.

Há já bastante tempo que  Jorge Messias vem falando dos Protocolos. Tem um artigo dedicado mesmo a este assunto: Raízes e metas dos “Sábios do Sião” (Avante, 13/10/11), continuado por outro, uma semana depois (Avante, 20/10/11), que traz igualmente uma citação dos referidos Protocolos. Podemos dizer que este é bem mais grave, porque na sua efabulação, considera-os como verdadeiros, dizendo mesmo: “o documento era real e as profecias autênticas – reconheceram observadores mais objectivos”. Isto só mostra como andamos pouco atentos ao que vem no Avante – diga-se de passagem, que eu leio-o todas as semanas e nunca pousei os meus olhos nesta rubrica – e de vez enquanto indignamo-nos à compita com uma citação que lá vem.

Porque é que Jorge Messias dá tanta importância a estes Protocolos? Porque eles provam a teoria da conspiração, que segundo o autor é da responsabilidade de sionistas - os dos Protocolos -, Vaticano e mações. Todos eles estariam a tentar dominar o mundo a favor do capitalismo, estabelecendo um centro único de comando. Já esta semana (Avante, 3 /11/11) o autor escreve mais um artigo, que termina assim: “Todas as grandes decisões políticas americanas se sujeitam, já, aos pareceres prévios do Vaticano.” Esclarecedor.

É grave a citação dos Protocolos, é como se alguém para atacar a plutocracia recorresse ao Mein Kampf, de Hitler. Mas o que é mais grave em tudo isto é que nada do que é dito tem a ver com o marxismo-leninismo, tão apregoada pelo PCP. Ou seja, no seu órgão central, alguém, com a tolerância da Direcção do Jornal, vem ao longo de uma série de artigos – não aprofundei todo o passado e penso que esta rubrica é bastante antiga –, com uma linguagem anti-capitalista e anti-imperialista, atribuir às religiões, seitas ou outras organizações paralelas, o domínio do mundo, quando as coisas são bem mais complexas e têm merecido estudo e investigação de um conjunto importante de marxistas, a começar em Marx, passando por Lenine, mas mais actualmente por uma série de investigadores que têm dedicado a sua vida ao estudos do capitalismo e do imperialismo de um ponto de vista marxista Para mim se é grave a citação, é bem mais grave toda a formulação, que eu já chamei de efabulação, que lhe está por trás. Jerónimo de Sousa na ânsia de justificar o injustificável diz (ver no blog da Joana Lopes o texto do Público, de 4/11/11, que volta novamente este assunto) que o texto “era mais ou menos filosófico”, como que a dizer que era de um tontinho.

Não gostava de terminar sem vos citar um blog onde, quem queira, pode encontrar muito do que Jorge Messias escreveu e, se consultar a primeira página, verá que, por modestos 30 €, poderá ter acesso a toda a conspiração mundial. Deus os proteja.

1 comentário:

Anónimo disse...

é só judeus de merda...