25/11/2011

A Greve que eu vi na TV Pública

A minha saúde já não me permite ir a manifestações, por isso entretenho-me em casa a vê-las pela TV.

Apesar de durante o dia ter visto outros canais de televisão, é do alinhamento do noticiário das 20.00h da Televisão Pública que vos quero falar.

O Telejornal abriu com as notícias dos confrontos nas escadarias em frente da Assembleia da República, transformando os mesmos no tema central da Greve Geral. É mesmo dito que “os manifestantes se concentraram em frente da Assembleia da República para assinalar a Greve Geral”. Depois segue-se a reportagem do derrube das barreiras metálicas, com a jornalista da RTP a gritar “começaram os tumultos”. A seguir, faz-se um directo para o local, com a a mesma jornalista a garantir que estava tudo muito mais calmo, já só havia duas centenas de pessoas no local. Depois, entrevista-se uma manifestante a dizer que se tinha tratado de uma provocação, pois teriam sido vários infiltrados das forças policiais que estavam a incentivar o derrube das barreiras e que posteriormente foram avistados já na área reservada à polícia. Paulo Granjo, do blog 5 dias, relata isso mesmo neste post. Refere-se, no entanto, a um só infiltrado.

Só ao 6º minuto é que a jornalista no local refere que esta era uma manifestação dos “indignados”, ou seja, da Plataforma 15 de Outubro, que se tinha juntado à manifestação da CGTP, que tinha decorrido durante a tarde. No entanto, não deixou de dizer que aqueles acontecimentos tinham sido “uma nódoa” no dia da Greve Geral. Depois, José Rodrigo dos Santos passa para outra jornalista, para ouvir a opinião das forças policiais.

Finalmente, ao 9º minuto refere-se a manifestação que tinha decorrido durante a tarde e os grupos que nela tinham participado, não deixando de dizer que ela partiu do Marquês de Pombal, todos se tinham juntado  (manifestantes da CGTP e da Plataforma 15 de Outubro) no Rossio e daí partiram para Assembleia da República onde “ocorreram os incidentes”.

Ao 12º minuto, ainda não se tinha falado dos efeitos da Greve, nem se tinham ouvido qualquer dos dirigentes da CGTP ou da UGT, que deram uma conferência de imprensa conjunta, mas foi-se para a Presidência do Conselho de Ministros ouvir o ministro Miguel Relvas. José Rodrigo dos Santos faz-lhe uma pergunta sobre alhos, o ministro meio apardalado, parecia que estava a ler pelo tele-ponto ou então a falar para uma câmara de televisão que estaria mais elevada do que os seus olhos, respondeu-lhe com bugalhos. O locutor, com o seu ar habitual com que costuma interromper os interlocutores, tentou fazer-lhe nova pergunta. Então o ministro disse só seu nome, aquele agachou-se, que isto de ser patrão da televisão é muito importante, e continuou o seu discurso, como se a perguntas do locutor não tivesse existido.

Finalmente só ao 17º minuto se dá voz aos dois dirigentes das centrais sindicais. De seguida, passa-se para a reportagem do regresso a casa das pessoas, chegando-se a afirmar esta pérola: “só alguns serviços mínimos estiveram a funcionar, mas foram insuficientes”, como se estes tivessem que garantir o transporte de todos. A seguir foi a reportagem da ausência de transportes de manhã “com utentes a queixarem-se de mais uma paralisação”.

Finalmente, ao 24º minuto, depois de se ter falado de forma depreciativa da paralisação nos transportes, começa-se a descrever a paragem nos aeroportos sem qualquer aspecto depreciativo, só falando do sacrifício da equipa do Porto, que regressava da Ucrânia, que teve que aterrar em Vigo. De seguida, é que se começou a falar nos efeitos na saúde e na educação, nada no sector privado. Depois interrompeu-se para se falar de outros temas.

Ao 37º minuto começou-se a falar nos ataques às Repartições de Finanças, dizendo que “é a face mais negra da indignação”. Depois, relatou-se os incidentes entre a polícia e os piquetes de greve. De seguida, foi a informação regional: Coimbra Leiria, Faro, Guarda, Covilhã, Castelo Branco, Fundão e Trás-os-Montes. Ao 44º minuto as informações sobre a Greve Geral deram lugar a outras notícias. É importante realçar que a informação regional pareceu-me ser a mais objectiva e descomprometida politicamente.

Sobre o sector privado pouco foi dito, só na informação regional. Não se viu Louçã a falar, na Auto-Europa, sobre o êxito da greve no conjunto do Parque Industrial daquela zona, como referiu Lobo Xavier, com desprezo, na Quadratura do Círculo. Nem as paragens, sempre citadas por Carvalho da Silva, em outras unidades fabris.

A conclusão a tirar deste longo arrazoado é de que o que foi importante para a TV Pública, as outras não vi, foram os incidentes com manifestantes da Plataforma 15 de Outubro em frente à Assembleia da República. Abriu o Telejornal e teve direito a cerca de 9 minutos de reportagem. Por isso, Paulo Granjo, dá este interessante título Há quem faça greves gerais e quem faça happenings noutro post, anterior ao já citado. Depois, antes de se fazer um balanço da greve, já se tinha Miguel Relvas a dizer banalidades favoráveis ao Governo. Grande insistência nos efeitos da greve nos utentes dos transportes públicos e por último, já quase no final, a imparcialidade das descrições regionais. Não se mencionou, no entanto, nem Setúbal, nem Braga, e o Porto foi só referido na greve dos transportes.

“Bom serviço” a Televisão Pública, capitaneada por Miguel Relvas, está a prestar ao país.

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