28/11/2011

Algumas considerações sobre os incidentes na escadaria da Assembleia da República

Tudo o que vou escrever já se pode encontrar nos meus dois posts anteriores sobre a Greve Geral, mas como gosto que os temas fiquem esclarecidos, ou seja, sou picuinhas, não me irei eximir de mais uma vez voltar ao assunto.

Como sabem eu não fui às manifestações, mas li vários blogs, vi televisão e conversei com diversas pessoas. Neste sentido, estas considerações serão sempre subjectivas e vistas pelos olhos de outrem. Mas vamos ao que interessa.

I – Enquadramento da manifestação

A manifestação da Plataforma 15 de Outubro foi acompanhada na sua traseira por polícia de choque em marcha acelerada e vestida a rigor. Verificou-se também de forma ostensiva, e dispersos na manifestação, a presença de vários agentes à paisana. Estes factos causaram um grande mal-estar, ainda para mais quando os manifestantes chegaram a S. Bento e viram a concentração de polícia de choque, que, segundo pude constatar pela televisão, não estava no início na primeira fila, junto ao gradeamento que impedia a subida da escadaria. Este aparato policial visava, quanto a mim, duas coisas, entre si contraditórias, ou intimidar os manifestantes ou provocá-los para que eles fizessem o que aconteceu. Partindo do princípio que a primeira é a mais plausível, a reacção que provocou foi a inversa, irritou mais os manifestantes, predispondo-os para o derrube das grades e a subida da escadaria. É evidente que há boas razões para que isso tivesse acontecido, primeiro era já uma conquista da manifestação de 15 de Outubro passado, segundo permite aos manifestantes estarem sentados a ouvir alguém que está no topo das escadarias a falar. Ficou provado na manifestação anterior que a sonoridade é muito melhor.

II – O caso dos agentes infiltrados

Falou-se muito em agentes infiltrados como os responsáveis pelo derrube das grades e a tentativa de assalto à escadaria, eu próprio fiz referência a isso no meu primeiro post. Aqui alude-se à paranóia que está a invadir a net e os meios de comunicação sobre este tema dos infiltrados. Para mim a expressão de infiltrado numa manifestação só pode ser a de agente provocador, de outro modo não faz sentido. Chama-se infiltrado a alguém que numa organização, principalmente de carácter secreto, faz-se passar por seu membro para espiar e delatar os seus companheiros. Numa manifestação, aberta a todos, o que sucede é haver agentes à paisana para prenderem ou seguirem quem acham que são os responsáveis, por vezes enganam-se, como é revelado aqui. Sobre estes indivíduos já disse tudo o que tinha a dizer no meu post anterior. Só queria confirmar o que vem no post, anteriormente referido, sobre a detenção do jovem alemão espancado pela polícia. Seja verdade ou não que foi ele que feriu o polícia, primeiro, é de certeza mentira que a polícia à paisana se tivesse identificado antes de o prender, como ela garante. Só nos filmes americanos é que se vê os agentes de crachá em punho a deterem gente. Segundo, fica claro que mesmo que tudo isso tivesse sucedido, nenhum polícia tem o direito de agredir um detido já estendido no chão. Como se devia saber, a polícia não é uma força vingadora.

III – As duas manifestações

Como ficou claro das muitas imagens da TV que vi, e ao contrário do que dizia o Telejornal da RTP – ver o meu primeiro post sobre o tema da Greve Geral – a manifestação da CGTP não esperou no Rossio que chegasse a da Plataforma 15 de Outubro, que vinha do Marquês de Pombal, para seguirem as duas juntas, pôs-se a andar, chegou a S. Bento fez os discursos e ala que se faz tarde, foi para casa. Parece que quando os da Plataforma 15 de Outubro lá chegaram já os outros estavam em debandada. Por isso, ao contrário do que muitos comentadores da esquerda desejavam ainda não foi desta que o movimento organizado da CGTP se encontrou com o movimento dos “indignados”. Continuam de costas voltadas e a acusarem-se mutuamente. O post que eu referi, Há quem faça greves gerais e quem faça happenings, de Paulo Granjo é disso um exemplo. Mas há mais. Para este peditório eu não quero contribuir, mas parece-me, um pouco salomonicamente, que longo caminho ainda tem que ser percorrido pelas duas partes.

PS. (29/11/11). A Plataforma 15 de Outubro anuncia que tem provas que polícias à civil incitaram à violência. Neste caso, temos a figura do agente provocador, o que torna bem mais grave a actuação policial. Ver aqui.

 

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