12/05/2010

O Governo quer ver se o aumento de impostos “passa de fininho”


Utilizei esta feliz expressão de Paulo Portas, agora preterido por Passos Coelho como interlocutor de José Sócrates, para me referir ao aumento de impostos defendida pelo Governo, cuja notícia é transmitida aos portugueses entre, segundo o mesmo Paulo Portas, as comemorações futebolísticas e a vinda do Papa.
Ainda há poucos dias, e a SIC Notícias relatou esse facto, José Sócrates, naquele estilo pimpão que o caracteriza, gritava para os deputados que não iria haver aumento de impostos. Nem meia dúzia de dias se passava e o PS, pela voz compungida de Santos Silva, vem anunciar que este partido não está a trair os seus compromissos eleitorais mas sim a cumprir as ordens de Bruxelas. Uma pouca-vergonha.
Nos últimos tempos, e não é preciso recuar muito, o Governo de José Sócrates e os seus apaniguados mudaram completamente de estratégia, que correspondeu igualmente a uma evidente mudança no PSD.
O PS ficou completamente extasiado com a subida de Passos Coelho à direcção do PSD. Todos à compita, incluindo o já senil e rancoroso Mário Soares, vieram elogiar a sua eleição e o novo estilo inaugurado por aquele político. Em post anterior, já me pronunciei sobre estas novas relações PS-PSD. Mas o mais grave e que à agressividade mostrada pelo PS em relação a Manuela Ferreira Leite sucedeu o desnorte e declarações que variam ao sabor dos acontecimentos, que no mesmo dia afirmam uma coisa e o seu contrário. Não havia aumento de impostos, mas já vai haver. Ir-se-iam manter as grandes obras públicas, mas afinal vai-se só fazer um TGV que termina no nada. Este Governo está sem rumo e sem perspectivas e o pior é que está a dar a mão ao PSD para ver se este o mantém no poder por mais alguns meses. Não sabemos o que hoje vai resultar da reunião em Santarém da Comissão Política daquele partido, mas suspeito que não deve ser pacífico permitir que o PS continue a governar. Só a estratégia do PSD em relação às presidenciais, de não querer neste momento agitar as águas, é que pode permitir deixar o PS andar nesta roda-viva de contradições. Mas não tenho dúvidas, ou alguma coisa se altera e a vitória difícil, mas não impossível, de Manuel Alegre pode dar o seu contributo, ou então depois das eleições presidenciais, com Cavaco eleito, o PSD dará a estocada final num Governo moribundo e com um primeiro-ministro incapaz de governar o país em circunstâncias difíceis e com maioria relativa.

E a esquerda o que tem a dizer sobre isto? Ou se empenha a sério na eleição do Manuel Alegre ou então terá o destino de ver os comboios passarem sem nada poder fazer para alterara o estado de coisas. Compreenda o PCP a importância e o significado destas eleições presidenciais.
Alguns irão dizer que privilegio a luta eleitoral em detrimento da luta de massas. Mas não tenhamos dúvidas conseguir transformar o descontentamento social em alteração da correlação de forças eleitoral é uma luta que há muitos anos tem ofuscado os dirigentes do PCP, mas que, pelos resultados obtidos, se tem revelado um fracasso. Lutas sociais por objectivos concretos: aumentos salariais, defesa da contratação colectiva, regalias sociais têm saído vencedoras e obtido, por vezes, assinalável êxito. Manifestações e greves por objectivos gerais, podendo abranger milhares de trabalhadores, raramente conseguem no final traduzir-se em votos e isto porque politicamente nada se fez para dar à maioria social descontente uma saída política com perspectivas. Manuel Alegre, apesar de todas as suas insuficiências, pode constituir uma saída política para esta situação acabrunhante. Haja visão política para o compreender.

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