13/04/2010

De novo a direita


Desde que Manuela Ferreira Leite anunciou que se ia retirar, que a novela da sua sucessão tem enchido os jornais. A princípio todos os comentadores achavam risível a possibilidade de Passos Coelho ganhar o partido. Eu e muitos outros achávamos a sua actuação de plástico e a sua única proposta de que nos lembrávamos era a privatização da CGD. Pacheco Pereira lá alertava que Passos Coelho estava a funcionar há já bastante tempo como um grupo organizado dentro do Partido. Mesmo assim, sempre achei pouco provável a sua eleição como Presidente do PSD.
Quando Paulo Rangel lança a sua candidatura, optando pelo discurso de ruptura com a situação de pântano moral e político para que Sócrates e o seu PS nos estavam arrastar, achei que tínhamos homem e que ele seria provavelmente o novo Presidente. Eis que os comentadores, em uníssono, começam a desvalorizar as suas prestações televisivas e a super valorizar as intervenções de Passos Coelho. O resultado viu-se, vitória esmagadora deste, apresentando-se como o novo unificador do PSD e como candidato credível ao papel de primeiro-ministro. São os mistérios da política, que só Deus sabe como correm e isto diz-vos um ateu.

Mas é em função destes novos dados que temos que analisar a conjuntura.
Passos Coelho, insistindo na matriz social-democrata do seu partido, nega depois qualquer daqueles valores e embarca rapidamente no programa neo-liberal, com a revisão da Constituição e com tudo o que isso acarreta. Com a derrota do Santana e da sua aliança, com o ímpeto “reformista” de Sócrates, com a desagregação do Compromisso Portugal, com a compra de alguns dos seus corifeus, como António Mexia, para a EDP, e Nunes Correia, para Ministro, com a crise mundial e das opções neo-liberalizantes, a ofensiva ideológica da direita tinha abrandado, deixando esse encargo à trupe, chefiada por Sócrates, que tinha tomado conta do PS. Estes, numa linguagem mais soft lá iam falando da esquerda “moderna” e descomplexada, que não tem quaisquer preconceito contra a iniciativa privada e o mercado. E quanto mais as eleições se aproximavam, mais palavras ditas de esquerda eram pronunciadas.
Que fazia a anterior direcção social-democrata, falava na asfixia democrática e nos escândalos que abalavam o regime e ao mesmo tempo embrenhava-se na discussão da situação económica. Não queria grandes obras, opunha-se ao endividamento externo e defendia as pequenas e médias empresas e a redução dos impostos.
Que faz o novo líder. Espantosamente foge, como o Diabo da cruz, da situação económica actual. Parece, ouvindo Passos Coelho, que neste país tudo vai bem, excepto a intervenção excessiva do Estado na economia. Propõe, como tema mais importante a revisão constitucional, inventando problemas e regressando aos antigos. Na economia propõe mais dinheiro para as empresas em vez de subsídio de desemprego e trabalho social para os que recebem subsídio de inserção. Onde é que estão a asfixia democrática, o endividamento excessivo, a redução dos impostos? De facto, uma nova direcção, com outros objectivos, volta às propostas neo-liberais que anteriormente tinham constituído o mote da batalha ideológica que estava em curso na sociedade portuguesa, com o PS sempre às arrequas e temeroso das investidas do PSD.

Mas como responde o PS a estas novas propostas. Diz que a revisão constitucional não é uma prioridade. Está correcto, mas temo que não seda às melopeias maviosas do PSD.
Apoia este novo discurso, afirmando que tem propostas concretas na área económica. Quais? E congratula-se com esta nova linguagem que não utiliza, segundo ele, a maledicência na sua intervenção. Eu acho que o PS não tem muito a ganhar com esta troca, mas isto sou eu que digo, porque acho bem mais perigosa esta nova ofensiva da direita do que as implicações de Sócrates em negócios escuros. O PS não pensa assim, como a ideologia já não é nenhuma e a sua política é da esquerda “moderna”, bem pode a troco de mais umas cedências aliviar a pressão a que estava sujeito o seu Secretário-geral.
No meio disto tudo fica-se com a impressão, mas sou eu também que noto, que não há da parte do PSD nenhum programa para se chegar ao Governo. Não se fala em alianças, nem em derrubar este Governo, isso são miudezas que a seu tempo serão esclarecidas, o que interessa é dar já o tom e este é francamente da direita neo-liberal.

Sem comentários: