01/12/2009

Tretas e balelas


Vi ontem o programa de Fátima Campos Ferreira, Prós e Contras. Juro sempre que não volto a recair em tão manifesto mau gosto, mas regresso sempre ao local do crime.
Tenho para mim que aquela apresentadora é das mais tontinhas que povoam o nosso espectro televisivo. Tem sempre a frase pomposa para o momento certo. Resume ideias, por vezes com alguma complexidade, a meia dúzia de banalidades. Transforma a governação deste país em qualquer coisa de muito simples, que se resolvia desde que houvesse boa vontade dos portugueses em apertarem o cinto e se os malandros dos político se pusessem de acordo. No fundo transforma o discurso político, convencida que o torna acessível, numa reflexão simplificadora e apaziguadora. Mas é isto que certa incultura dominante aprecia e que os governos do chamado arco da governação (PS e PSD/CDS) querem.
O programa de ontem era sobre as Finanças do País. O leque de convidados soprava todo para o mesmo lado. Não havia ninguém de esquerda, nem mesmo do PS. Ou se alguém ainda fosse do PS, era como se não pertencesse.
Apreciem só. Jacinto Nunes, provavelmente respeitável professor de economia já reformado, com 83 anos, que passou pelo Governo de Mota Pinto, um bloco central encapotado, da iniciativa de Ramalho Eanes, para não lembrar passados mais tristes de colaboração com os Governos de Salazar. A determinada altura descaiu-se, ao contrário dos outros, raposas mais sabidonas, e defendeu um governo de bloco central. Propôs, tal como João Salgueiro, um novo método eleitoral que evite deixar a decisão da escolha dos deputados aos partidos. Acham que os mesmos devem ser responsáveis perante as populações que os elegem. Uma treta, que encheria o Parlamento de Isaltinos Morais e Valentins Loureiros, mais alguns, eleitos num círculo nacional, para cumprir a proporcionalidade. Este assunto, que é trazido sempre à baila quando se quer protestar contra os políticos que temos, é um tema pouco sério, que precisaria de uma discussão desapaixonada e de estudos de técnica eleitoral comparada para verificar qual era o sistema que melhor poderia traduzir no Parlamento a proporcionalidade das forças políticas em presença.
A seguir João Salgueiro, o representante de tudo que é interesse bancário, que já foi deste e do anterior regime, sempre ao de cimo, que achou que um Governo do PS com o Bloco de Esquerda seria uma esquerdalhada insuportável, que já não correspondia aos tempos actuais, nem às exigências de uma economia moderna. Como se a economia neo-liberal tivesse dado provas de grande seriedade e competência.
Tivemos igualmente Augusto Mateus, que mesmo assim foi o que me pareceu dizer coisas mais interessantes. Defendeu a democracia e os trabalhadores da função pública. Mas que eu me lembre saiu pela direita alta do primeiro Governo de António Guterres.
Depois esse beato de sacristia, João César das Neves, que está em tudo que é tema económico, sempre a debitar as suas posições de direita e as tretas do costume.
Por último, para apogeu deste grupo de pensadores, vieram os empresários: Carrapatoso, do Compromisso Portugal, o fórum da direita neo-liberal, que se esfumou com a crise económica, e que disse insistentemente no Programa que era preciso acabar em Portugal com os poderes instituídos. Não sei se estaria a propor alguma revolução que banisse para debaixo do tapete os da sua classe e categoria social? Não, não era sobre isso que ele protestava. Os poderes instituídos, são o Estado e o seu peso na economia – sem ele esta gente não podia ganhar os dinheiros de que usufruem –, as chamadas corporações: os juízes, os médicos, os professores, mas acima de tudo os funcionários públicos, que são o engulho desta gente, porque podem levar os seus trabalhadores a reivindicar trabalho garantido e seguro, enquanto que aquilo que eles querem dar é precariedade e insegurança, para os terem mais agarrados pelo cachaço. Já se sabe que se esquecem que estes gestores são também uma corporação e um poder instituído. Mas de balelas e conversa fiada está o mundo cheio.
Esteve também um outro, que só me recordo chamar-se Patrício Gouveia, que estava constantemente a torcer o pescoço, e que mais uma vez perorou sobre a necessidade de flexibilizar ainda mais o código de trabalho. Nunca estão contentes com o que lhe dão. Neste caso, com a demagogia mais absoluta, defendeu que o que actual, que já é péssimo, defende os incompetentes e desfavorece os melhores. Um horror.
A conclusão principal que se tira de todas estas intervenções é que Portugal andou a gastar à tripa forra, viveu acima das suas possibilidades e agora tem de apertar o cinto se quer sobreviver. O melhor é ir-se adaptando ao modelo social chinês ou indiano. Isto foi dito. Já se sabe se alguém gastou demais não foi o povo português e o pouco que melhorou em relação ao seu passado, as classes dirigentes querem-lhe tirar outra vez.
É este o painel que tivemos, como se viu extremamente plural e diversificado. Triste caminho, por onde vai a televisão pública.

2 comentários:

Anónimo disse...

Pois é, a conclusão a que se chegou no frente a frente que é referido não parece controvertida; e não é porque a menos que estejemos inquinados por pressupostos ideológicos inamovíveis, e apostados ,contra todas evidências, em os fazer vingar,parece razoável consensualizar propostas que tomem em linha de conta a
situação histórica presente/passado, que parece ser a alavanca indispensável para trabalhar as soluções políticas porque todos anseamos.Essas opções devem estar libertas do espartilho do catecismo politico sem resvalarem num tecnocratismo amorfo...
L. Blanch

Operário disse...

-Muitos Prós $ nada Contras
Vícios privados - públicas "virtudes".

- Apenas e só uma amostra, do que são os critérios de informação numa sociedade dita democrática e pluralista onde os direitos de opinião e informação são a toda hora torpedeados e achincalhados pelos administradores de torno do poder do capital.
-Os comentadores de serviço e ou serviço dos seus amos.

-A velha e estafada história de pôr o criminoso a julgar a vitima,
acusando-a de o ter assediado -sendo portanto, a verdadeira responsável pelo crime.