No dia 1, quando me preparava para comprar uma televisão, por outras razões que nada tinham a ver com o apagão analógico que se verificou nesse dia na região de Lisboa e no Barlavento algarvio, entrou pela loja dentro uma mulher esbaforida porque tinha ficado nesse dia sem ver televisão. O aparelho tinha sido adquirido naquele estabelecimento há dois dias. Um empregado, com alguma paciência, foi-lhe dizendo que talvez ela não tivesse os canais bem sintonizados ou que a antena não estivesse direccionada devidamente. Vim-me embora e nesse mesmo dia telefona um familiar da minha mulher a dizer-lhe que uma tia, já com noventa anos, tinha ficado sem ver televisão e que ele já tinha providenciado a instalação do Meo, porque o técnico que arranja as antenas demoraria quinze dias a ir lá, coisa incomportável para uma senhora daquela idade, que o único entretém que tem é ver televisão. A minha mulher achou que era um desperdício de dinheiro fazer uma assinatura do Meo para uma pessoa que toda a sua vida se tinha habituado a ver unicamente quatro canais e não queria mais do que isso. Parece que se arranjou um técnico que foi mais rapidamente a sua casa. É bom que se esclareça que a televisão era nova, porque a anterior já não tinha possibilidades, de acordo com as informações prestadas no anúncio da RTP, de se lhe adaptar um descodificador.
Toda esta prosa tem unicamente a finalidade de vos garantir por experiências vividas por mim o que tem sido o apagão analógico na região de Lisboa, pior com certeza será no Algarve serrano, como os jornais já têm noticiado.
Para todos aqueles que têm televisão paga e mais uma série de serviços a ela acoplados é difícil perceber o que esta passagem para o digital custou às pessoas de menores recursos económicos. Porque não foi só o gasto com o descodificador, foi quase sempre a necessidade de orientar de novo as antenas ou fazer uma nova sintonização, isto para não falar dos casos do interior do país onde a transferência do analógico para o digital deixou as famílias sem televisão, obrigando-as a montar uma antena parabólica.
Os telespectadores mais afectados foram os mais desfavorecidos, principalmente os idosos, porque eram aqueles que viam a televisão tradicional e têm dificuldade de em poucos dias despender as importâncias que são exigidas pela mudança de sinal. E mais, são aqueles que dificilmente compreenderão o que tecnicamente se está a passar e poderem rapidamente arranjar as melhores soluções para os problemas que são levantados pelo apagão. Mesmo o recurso ao apoio aos mais necessitados, tão propagandeado, deve exigir uma burocracia imensa e não cobre todas as despesas.
Já agora, queria recordar que não há muito tempo se deu a transferência para o gás da cidade, quem pagou os seus custos foi a companhia responsável por essa mudança. Ainda ganhei um fogão novo. Mas, recordo-me, que na minha infância, quando se passou da rede de 110 V para a rede de 220 V, foi a companhia de electricidade que igualmente aguentou com os custos. É evidente que em qualquer destes casos as companhias queriam manter a fidelidade dos seus consumidores, enquanto aqui, como a televisão é de graça, já que não há taxa explícita, foram os telespectadores que pagaram. Mais um roubo aos utentes do serviço de TV.
PS.: (08/02/11). A adaptação da antena do prédio onde morava a tia da minha mulher à TDT custou ao condomínio a bonita soma de 500,00 €. Por aqui se vê como é uma fraude dizer-se que só basta comprar o adaptador. É necessário, por vezes, adquirir uma televisão nova, como neste caso, o adaptador e reorientar a antena que, muitas vezes, por estar velha, precisa de peças novas. É isto que o contribuinte tem que pagar.
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