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13/08/2009

O complexo de “O Mandarim” e outras histórias


Como estou de férias, a banhos, a moleza tem-me atacado e deste modo dispenso-me de fazer comentários a alguns acontecimentos pouco produtivos que tiveram lugar neste mês de Agosto, dedicado fundamentalmente ao descanso e à beatitude.

O primeiro foi a morte de Raul Solnado. Não sou de facto daqueles que morreram de amores pelo sketch da Guerra de 1908. O Zip-Zip foi mais um estado de alma do que a própria intervenção do Solnado. A Cornélia era o espectáculo e, por vezes, o confronto da esquerda com a direita. Revista, não via. Portanto do Solnado lembro-me, porque foi um acto de Resistência, da sua participação no Dom Roberto, o filme da Oposição, realizado, em 1962, pelo José Ernesto de Sousa, por sinal bastante fraquito. Mas tudo isto não me impede de considerar o Solnado um homem bom e um grande actor.

Há também o episódio bastante rocambolesco do içar da bandeira monárquica na Câmara Municipal de Lisboa. Já quase tudo foi dito. Por mim os rapazinhos deveriam levar uma pena em tribunal que lhes servisse de lição para que nunca mais terem intenção de fazer provocações reaccionárias. O caso, já antigo, da troca do nome da Praça do Chile por Augusto Pinochet foi só um começo, não podemos tolerar em nome de rapaziadas as afrontas ao estado Democrático.

Houve também, sem a importância dos dois primeiros casos e fazendo parte do pequeno universo dos rancores pessoais entre blogs, mais uma das trauliteirices do Victor Dias contra o Bloco de Esquerda. Fui ler o texto do João Teixeira Lopes no Esquerda .net, é um texto sério, discutível, mas que traça algumas diferenças fundamentais entre o Bloco e o PCP que eu próprio já anteriormente tinha esboçado. Victor Dias, sempre com uma pala nos olhos, esquece semanalmente as boçalidades, as mentiras e as provocações que os seus amigos do Avante, na rubrica Opinião, vão regularmente publicando, é só começar a somar. Vejam uma das últimas.

Mas não era sobre os temas anteriores que me queria prenunciar. Depois de ter publicado um post sobre dois textos de Tomás Vasques deu-me o complexo do personagem principal de O Mandarim, de Eça de Queirós, queria saber quem era a o escrevinhador, o que fazia, que eu tinha tentado assassinar politicamente no último post. Por isso fui rapidamente à Internet pesquisar no Google quem era aquele que eu tinha “assassinado”. A primeira informação que obtive foi uma pequena biografia da editora que tinha publicado um livro seu. Aí dizia-se que era actualmente Chefe de Gabinete do Presidente da Câmara de Lisboa. Fiquei estarrecido com a notícia e fui logo fazer um aviso à navegação, publicando-a no post, como P.S.
No dia a seguir, com mais tempo, fui vasculhar melhor. Afinal o livro era de 2001 e, o actualmente, referia-se ao João Soares, que naquele ano ainda era Presidente da Câmara, dirigindo, se bem se lembram, uma coligação PS-PCP. Retirei de imediato o tal P.S., mas achei por bem escrever este pequeno post com algumas perguntas que acho oportunas para quem escreveu o texto que escreveu sobre o Bloco de Esquerda.
Como é possível que alguém, que manifesta uma tal alergia ao comunismo e a alguns dos seus supostos continuadores, seja capaz de ter participado numa coligação com comunistas “a sério”.
Assim, ou Tomás Vasques participava, debaixo da capa de um anti-comunismo militante, na “sovietização” da cidade de Lisboa ou de forma encapotava contribuía para a ruptura daquela aliança, tudo fazendo para que João Soares perdesse as eleições para Santana Lopes, como de facto aconteceu ou, a hipótese mais verosímil, andava a fazer pela vida, ele e a sua mulher, vereadora do urbanismo de João Soares, como alguns zunzuns que na altura foram publicados na imprensa deixavam antever (ver aqui, aqui e aqui).
Por isso, ao contrário da personagem principal de O Mandarim, não fui atacado de remorsos auto-destrutivos e dou por bem empregue estes meus posts sobre aquela personagem.