Alguns comentadores e dirigentes políticos têm sublinhado que as declarações de Cavaco Silva a propósito da sua reforma correspondem a uma grande insensibilidade social. Não deixo de lhes dar razão, mas penso que o mais importante não é isso, mas sim a ideia de que é vítima de uma grande incompreensão nacional. As pessoas pensam que lá por ser Presidente da República ganha rios de dinheiro e não é verdade. As pensões da sua mulher e dele são bem pequenas. Assim, quando alguém numa recepção popular se referiu à baixa pensão que auferia, ele respondeu “sabe quanto é que ganha a minha mulher? 800,00 €”. Portanto, ele achava que a Maria, que tinha sido professora, recebia uma parca pensão. O mesmo se aplica a ele, tendo descontado durante quarenta anos como professor universitário, recebia só 1300,00 €. E repetiu para o jornalista: “ouviu bem, 1300,00 €”. Portanto, o homem anda convencido que ele e a mulher recebem uma pensão que não é equivalente àquilo que trabalharam. Já se sabe, como eu provei em post anterior, que a história está mal contada. Ele omite algumas partes, não nos dando toda a informação para podermos ajuizar da sua verdade.
Pelas razões expostas, penso que da parte dele não há qualquer insensibilidade social, nem as justificações que deu sobre o assunto correspondem ao que tem estado na origem dos seus lamentos. Ele anda de facto convencido que recebe pouco.
Estas declarações inserem-se igualmente no discurso de vitória que fez, passou agora um ano. Atacou os seus adversários por o terem caluniado, mas a sua eleição é o exemplo de como a verdade vem ao de cima. Está mais uma vez convencido de que foi vítima de uma grande injustiça, porque tudo o que fez está acima de qualquer suspeita.
Isto só revela um espírito medíocre e mesquinho. Já Joana Lopes, no seu Entre as Brumas da Memória, tinha chegado à mesma conclusão. No entanto, ao contrário dela, resolvi assinar a petição que anda por aí. Estive até hoje para o fazer, mas achei que o barulho era já suficiente para causar alguma mossa na sua credibilidade e acho que todos os meios são bons para agitar as águas da indiferença nacional. Não vos digo que façam o mesmo, pode haver boas razões para não assinarem a petição, mas eu não resisti.
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