Não li ainda o livro de Mário Soares Um político assume-se. Mas vi a entrevista que deu a Ana Lourenço, na SIC Notícias, e li hoje partes do seu livro no Público.
A entrevista assume, lamentavelmente, um carácter anti-comunista. Um homem que, ainda recentemente, preconiza uma revolução pacífica para a Europa, que assina um Manifesto, antes da Greve Geral, que apela à mobilização de todos contra as políticas que estão a ser seguidas, daquilo que fala é da sua relação azeda com Cunhal e das diferenças entre o seu partido e o PCP. Repisa e volta a repisar os acontecimentos do PREC, elevando-se ao nível de um Melo Antunes, quando diz que este em Lisboa e ele no Porto, comandaram a resistência ao "golpe" do 25 de Novembro e a manutenção, na legalidade, do PCP. Só que Melo Antunes defendeu publicamente, na RTP, a necessidade do PCP para o avanço da Revolução, em termos que o marcaram para todo o resto da sua vida, pois a direita e Sá Carneiro nunca lhe perdoaram. Enquanto que Mário Soares se preparava no Porto para marchar à frente de toda a direita reaccionária contra a Comuna de Lisboa. Ainda há bem pouco tempo o historiador António Borges Coelho lembrou isso.
Na transcrição que o Público faz hoje da pag. 183 do livro, verifica-se a falta de memória notória de Mário Soares. Lá vem a comparação, como fazem Zita Seabra e Vasco Pulido Valente, entre o discurso de Cunhal e de Lenine em cima de um tanque, nas suas chegadas do exílio depois da Revolução de Fevereiro, no caso da Rússia, e do 25 de Abril, no que se refere a Portugal. A única diferença é que não afirma, como aqueles, que Álvaro apelou à revolução socialista. Simplesmente, diz que o tanque estava lá de propósito para Álvaro, à semelhança de Lenine, fazer o discurso em cima dele. Mas o mais grave é que afirma que Cunhal discursou entre um soldado e um marinheiro, quando é evidente pela fotografia que mostro que não existia qualquer marinheiro. Mário Soares deve estar-se a recordar de ter visto a fotografia de Cunhal abraçado a um soldado e a um marinheiro na manifestação do Primeiro de Maio de 1974. Depois, escreve um disparate de todo o tamanho, dizendo que Lenine chegou a Moscovo, quando este de facto chegou a Petrogrado, depois chamada Leninegrado, e actualmente São Peterseburgo.
Não houve ninguém que tivesse revisto a sua escrita, pois qualquer dos seus assessores na Fundação que leva o seu nome, lhe podia ter corrigido o dislate. O mesmo se passa com a fotografia da chegada de Cunhal. Bastava dar-se ao trabalho de ir consultar qualquer jornal da época.
Quanto à historieta que conta de ter sido convidado a subir para o tanque e depois a descer, Vítor Dias, no seu blog, desmonta bem essa tentativa para se limpar, por aparecer ao lado de Cunhal na fotografia.
Quanto às diferenças referentes à chegada de Lenine e de Cunhal vindos do exílio ver um texto meu aqui.
01/12/2011
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