No Telejornal de sexta-feira, 25 de Novembro, são recolhidas as declarações do Ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, e mostrada parte do vídeo que circulou na Internet relativa à agressão a um cidadão que, segundo informação da polícia, era alemão e procurado pela Interpol. José Rodrigues dos Santos, naquele tom agressivo que vulgarmente costuma usar, começa assim por desvalorizar o agredido: o que vale um alemão, ainda por cima a monte. A seguir temos a opinião do Comissário da polícia que descreve com pormenores terríficos a agressão de que tinha sido vítima, momentos antes, um polícia, justificando a agressão ao cidadão alemão, já caído no chão, como proporcional à agressão de que tinha sido vítima o polícia.
Para mim tudo isto é espantoso.
Primeiro, o vídeo que circula na Internet, juntamente com imagens próprias da RTP, que não foram exibidas nas reportagens do dia anterior sobre a Greve Geral, mostra um homem vestido à civil, com um capuz a cobrir-lhe a cabeça, claramente a bater com um bastão num cidadão deitado no chão. A televisão apesar de acrescentar sempre parece, demonstra claramente que seria um agente à paisana, sem qualquer identificação e que depois da acção executada, quando os seus colegas já fardados tomam conta a da ocorrência, retira o capuz e vê-se-lhe a cara, esta também já a correr na net. Ora este vídeo tem servido para justificar a existência de agentes infiltrados na manifestação, que seriam os responsáveis, pelo menos morais, já que incitaram os outros a fazê-lo, pelo derrube das barreiras. Não estive lá e não posso garantir que se tenha passado assim. Até porque na net também há muita discussão à volta deste assunto. Mas, para mim não restam quaisquer dúvidas que o homem de capuz era um agente policial à paisana. Foi-me dito, e eu acredito, que a manifestação estava cheia de agentes policiais à paisana. Para quem tem assistido ultimamente a relatos da actuação policial em bairros degradados ou até na interpelação a jovens mal vestidos ou mesmo ao seu desempenho nos recintos desportivos, sabe perfeitamente que esta gente se destaca pela violência, sempre a coberto da chegada dos polícias fardados. Neste aspecto, a polícia tem que arcar com a responsabilidade de mandar agentes seus não identificados para as manifestações. Eu acho que devem ser fotografados e a sua cara mostrada na net e se possível isolados da manifestação e convidados a saírem. Noutros tempos sabíamos que havia PIDE sempre presentes em reuniões públicas da Oposição ou em assembleias de estudantes. O caso mais trágico foi que sucedeu em Económicas e que levou à morte de Ribeiro dos Santos. Hoje, no estado democrático, agentes à paisana não identificados não podem ser tolerados em manifestações.
Segundo, são as espantosas declarações do Comissário da polícia, que justificou a sova que um seu agente à paisana, não identificado, deu num cidadão, com a agressão a um agente policial que este, em momento anterior, teria protagonizado. Mas mais descaradamente fala em proporcionalidade, tal como o próprio Ministro. Simplesmente o policial desconhece em que contexto nas manifestações se fala em proporcionalidade. Por exemplo, nesta manifestação seria desproporcionado se a polícia, depois de derrubadas as barreiras, tivesse investido à bastonada ou com gás lacrimogéneo contra todos os participantes na manifestação, tentando dissolvê-la. Já não é proporcional um cidadão, mesmo que eventualmente tenha agredido um polícia, ser sovado no chão com um bastão. Isso é típico de um bando de vingadores, que praticam o preceito bíblico olho por olho, dente por dente. Este Comissário tem que ser rapidamente reciclado.
PS. (28/11/11). Afinal o tal alemão procurado pela Interpol foi posto em liberdade pelo juiz instrução e mandado comparecer no dia 6 de Dezembro. Mais uma aldrabice da polícia, papagueada por todos os media. Ver aqui.
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