28/06/2009

Os novíssimos sectários



Para Tiago Mota Saraiva, desta vez cito-lhe o nome, não vá o “autor” ofender-se (ver aqui uma polémica antiga), o parágrafo inicial do referido Manifesto: “Estamos a atravessar uma das mais severas crises económicas globais de sempre. Na sua origem está uma combinação letal de desigualdades, de especulação financeira, de mercados mal regulados e de escassa capacidade política”, merece-lhe este comentário “Terá sido só isto? Já não é o sistema que provoca as crises para se reforçar, José Castro Caldas, Francisco Louçã, Ricardo Paes Mamede, João Rodrigues, Nuno Teles? O que mudou entretanto? É táctica política?

Voltando novamente a Carlos Vidal, noutro post: “o manifesto de economistas recentemente assinado por “socialistas” e “bloquistas”, com Francisco Louçã, mais cedo do que eu esperava, lá muito bem integrado.É um sinal para o futuro próximo. Uma estrela para guiar os novos magos: palavras para quê, é o manifesto dos “51″ em resposta em cima da hora e nos timings do PS ao manifesto dos “28″, desenvolvendo a agenda do PS: os chamados, pelo PS (!!), “investimentos públicos”!!!
Para não me acusarem de estar a desvirtuar o conteúdo destes post, macei-vos com esta prosa de blog, cheia de perguntas, pontos de exclamação e insinuações, que muitas vezes só os próprios e os amigos percebem. Para mim, que redijo longas laudas, muito bem explicadinhas, esta maneira de escrever é intragável. São gostos. Mas, o seu conteúdo é que interessa.
A verdade é que o que está aqui em causa é mais uma vez uma velha prática esquerdista de tentar meter tudo no mesmo saco. Como há economistas do PS e do Bloco a assinar aí temos a convergência do PS de Sócrates com o Bloco do Francisco Louçã. Está visto, mais depressa do que estas almas previam e gostavam que acontecesse, aí temos a aliança PS-BE.
São incapazes de perceber como esta junção de esforços entre gente de esquerda do PS com a “esquerda radical” (José Manuel Fernandes, do Público, dixit) do Bloco é importante, para romper os consensos neo-liberais e conservadores dos economistas do centrão. No fundo é a repetição do Trindade e da Aula Magna. Mas estes rapazes, com uma linguagem modernaça, convencidos que já não seguem os figurinos de antanho, recuperam a velha linguagem esquerdista: todos aqueles que em dado momento colaboraram em projectos unitários, que permitam subtrair à direita a sua influência ideológica, estão vendidos ao inimigo. No fundo, com a aparência de novidade, retomam o mesmo esquerdismo e sectarismo que em tempos atacou o “esquerdismo” português e que hoje, lamentavelmente, é apanágio do PCP.
PS. (28/06/09): Carlos Vidal volta novamente ao local do crime com um novo post sobre o Manifesto dos 51. Não o conheço pessoalmente, mas pela prosa parece-me um jovem intelectual pretensioso e convencido. E como todos os jovens desconhece que no fundo as ideias têm também um passado, uma história. E tudo o que ele diz não foge ao que diziam os nossos “esquerdistas” que no final dos anos 60 e princípio dos 70 se opunham ao PCP e à sua política de unidade com a pequena–burguesia, contra os monopólios, principal força de apoio ao fascismo. Achavam, que a luta se devia dirigir contra o capitalismo no seu conjunto e não contra os monopólios. Ser explorado por um grande ou pequeno-burguês era, para eles, a mesma coisa. Já se sabe que estas opções sociais e económicas correspondiam depois a escolhas políticas. Assim a luta pela unidade e contra o fascismo, correspondia para estes críticos à luta pela democracia burguesa e o que interessava era lutar pela democracia popular. Quer se queira quer não, estas velhas consignas “esquerdistas” estão mais uma vez implícitas na apreciação que Carlos Vidal faz do Manifesto dos 51. Mas isto digo eu que já há muitos anos conheço esta ladainha.
No mesmo blog, mas num post anterior, alguém que não sendo da minha geração, mas tendo a mesma origem política e fazendo um percurso, pelo menos, semelhante, diz, por outras palavras, o mesmo que eu. É o post de Nuno Ramos de Almeida, que juntamente com António Figueira, que presentemente não escreve sobre política, dão ainda alguma qualidade a este blog.

2 comentários:

Bernardino Aranda disse...

Não é fácil combater as políticas de direita do PS e não dar de bandeja o poder à direita mais "pura e dura".

Para os esquerdistas esta questão nem sequer faz sentido porque PS e PSD (e para alguns deles BE, também, ou "esta direcção do BE" como dizem alguns Bloquistas) são todos iguais...

Eu estou preocupado com a facilidade com que a direita está a conseguir passar pelos pingos da chuva da crise em Portugal sem se molhar, estou preocupado com os resultados que vai ter em setembro e com as políticas que Sócrates ou Ferreira Leite vão adoptar passado este ano eleitoral.

O "Manifesto dos 51" é uma das melhores iniciativas que tem aparecido nos últimos tempos. A esquerda não se limitou a fazer má cara contra os economistas, jornalistas e opinion makers que nos vieram falar da necessidade de reduzir a despesa pública e baixar os impostos. Passou à ofensiva como há anos não o fazia. Mostra que sabe pensar, propôr, dialogar, que tem projecto, que tem soluções, que tem credibilidade.

Por isso, na minha opinião, o post do Jorge é certeiríssimo.

joana de freitas disse...

Escreve Bernardino Aranda, sem que a mão lhe trema :«Para os esquerdistas esta questão nem sequer faz sentido porque PS e PSD (...) são todos iguais...»

Mas agora o Bernardino Aranda enveredou pelo caminho de dar subtis piadas aos dirigentes do BE como Miguel Portas que, ainda há poucas semanas, em plena campanha eleitoral assimilou o PS e o PSD à Coca-Cola e à Pepsi ?

E ao Francisco Louçã que aqui`há uns lhes chamou os «irmãos siameses» ?

Ai, ai, os telhados de vidro !