Razões várias têm-me impedido de pôr a escrita em dia. Não vale a pena especificar as razões. No entanto, alguns factos merecem um pequeno comentário. Assim, para adiantar caminho este post será uma miscelânea de assuntos. Poderia fazer um para cada um deles, mas penso que não merecem.
Sem grande preocupação de cronologia salta-me à vista a promoção a major-general de Jaime Neves e a entrega do espólio de Ernesto Melo Antunes à Torre do Tombo.
Dois casos que retratam os caminhos divergentes da Revolução Portuguesa, em 1975. Enquanto que um, Jaime Neves, se preparava em 25 de Novembro para matar comunistas, lançá-los ao mar, o outro na RTP proferia a frase assassina que o haveria de acompanhar para os resto da sua vida, em que considerava que os comunistas eram indispensáveis à transformação de Portugal. Falou em Gramsci e no bloco histórico necessário para que essa transformação se concretizasse.
Enquanto que Melo Antunes permitiu que se saísse do 25 de Novembro, sem qualquer massacre e o Governo Provisório continuasse a incluir a participação de comunistas, o outro preparava-se para iniciar uma pinochetada no nosso país. Só a intervenção do Presidente da República, Costa Gomes, aquela frase de Melo Antunes na televisão e provavelmente o comando de Vasco Lourenço impediram que as armas se voltassem contra o povo de esquerda. No momento em que se promove aquele espécime com a cumplicidade do Partido Socialista, quer no passado com Mário Soares e hoje com a do Ministro da Defesa, é bom que nos lembremos o que um desejava fazer e o que o outro, com uma frase que lhe valeu para sempre o opróbrio das almas bem pensantes deste país, conseguiu evitar. Sá Carneiro nunca lhe perdoou e não sei se Mário Soares também não.
Já neste blog fiz referência a um conjunto de comentadores que se destacavam pela boçalidade reaccionária com tratavam certos temas e que, mais grave ainda, lhes pagavam para manifestarem publicamente essa grosseria. Vasco Pulido Valente (VPV) foi um dos exemplos citados. É evidente que VPV não é um comentador qualquer, sabe escrever e quando apanha o tema a jeito é capaz de desancá-lo com uma qualidade que invejamos.
Vem isto a propósito de uma das suas últimas crónicas no Público (sem link), em que ele diz só isto: “Só que ao mesmo tempo o elevado espírito do primeiro-ministro nos meteu num sarilho a sério: o reforço (para o dobro) das tropas portuguesas no Afeganistão. A gente percebe que ele goste de se dar importância e até de participar no frenesim geral com Obama. Mas não à custa de envolver inocentes numa aventura sem sentido ou saída. O país não tem qualquer interesse no Afeganistão - nem directa, nem indirectamente - e o próprio interesse da "Europa" está em não se comprometer com a interferência americana, que ameaça introduzir o caos na região.”
Só gostaria de acrescentar que a morte, mesmo que indirecta, de qualquer afegão pelas nossas tropas é um crime horrendo que deve merecer a condenação de todos os portugueses de bem. Mas a morte de um soldado português às mãos dos terroristas talibãs só pode responsabilizar o Governo português que os enviou para uma terra que não lhes pertencia, nem ninguém com credibilidade naquele país solicitou a sua presença.
Quando comemoramos a luta travada pelos portugueses contra as invasões francesas, que nos traziam na ponta das baionetas a liberdade e o fim da opressão, aceitamos com legítima e boa essa resistência, em que os soldados napoleónicos eram assoladas pelos nossos camponeses ignaros comandados por clérigos broncos e completamente fechados à nova civilização que despontava na Europa. Mas quando os afegãos, comandados por talibãs fanáticos e ignorantes, resistem à nossa acção civilizadora já nos achamos no direito de intervir e educar à força aquelas populações.
O terceiro caso refere-se à prosa disparada de Miguel Sousa Tavares (MST) sobre o caso Freeport, no último Expresso (sem link). Aí temos outro comentador que em "dias sim" consegue desenrascar um crónica que nos dá gosto ler, mas que por vezes, convencido da sua genialidade, não consegue bater a bota com a perdigota. Este seu artigo é o mais recente exemplo.
MST resume o caso Freeport ao vídeo protagonizado por Charles Smith e afirma que o que está em causa é simplesmente provar se as declarações protagonizadas pelo escocês são verdadeiras ou falsas. Ora o mais espantoso é que aquele vídeo não foi visto pelos procuradores e nem o querem ver. Portanto, só restaria arquivar o caso já que o vídeo é uma realidade inexistente. Esquece MST, primeiro, a pressa na aprovação do empreendimento Freeport, segundo, as declarações do tio de Sócrates, terceiro, a própria carta rogatória inglesa, que põe uma série de perguntas a que é preciso dar resposta. Tudo isto é omitido por MST.
Mas há mais, sobre as pressões aos procuradores, depois de fazer afirmações descabidas sobre como estes deveriam resistir àquelas pressões, inventa uma que só ele sabe e que seria extremamente favorável ao seu personagem, José Sócrates: este queria que o processo corresse célere. Ora só MST é que ouviu esta. Porque o que foi relatado na imprensa foi que as pressões seriam para o arquivamento do processo, pois o ilícito já teria caducado.
Não me quero alongar mais. Mas penso que o MST deve estudar minimamente os problemas antes de se pôr a falar deles.
Sem grande preocupação de cronologia salta-me à vista a promoção a major-general de Jaime Neves e a entrega do espólio de Ernesto Melo Antunes à Torre do Tombo.
Dois casos que retratam os caminhos divergentes da Revolução Portuguesa, em 1975. Enquanto que um, Jaime Neves, se preparava em 25 de Novembro para matar comunistas, lançá-los ao mar, o outro na RTP proferia a frase assassina que o haveria de acompanhar para os resto da sua vida, em que considerava que os comunistas eram indispensáveis à transformação de Portugal. Falou em Gramsci e no bloco histórico necessário para que essa transformação se concretizasse.
Enquanto que Melo Antunes permitiu que se saísse do 25 de Novembro, sem qualquer massacre e o Governo Provisório continuasse a incluir a participação de comunistas, o outro preparava-se para iniciar uma pinochetada no nosso país. Só a intervenção do Presidente da República, Costa Gomes, aquela frase de Melo Antunes na televisão e provavelmente o comando de Vasco Lourenço impediram que as armas se voltassem contra o povo de esquerda. No momento em que se promove aquele espécime com a cumplicidade do Partido Socialista, quer no passado com Mário Soares e hoje com a do Ministro da Defesa, é bom que nos lembremos o que um desejava fazer e o que o outro, com uma frase que lhe valeu para sempre o opróbrio das almas bem pensantes deste país, conseguiu evitar. Sá Carneiro nunca lhe perdoou e não sei se Mário Soares também não.
Já neste blog fiz referência a um conjunto de comentadores que se destacavam pela boçalidade reaccionária com tratavam certos temas e que, mais grave ainda, lhes pagavam para manifestarem publicamente essa grosseria. Vasco Pulido Valente (VPV) foi um dos exemplos citados. É evidente que VPV não é um comentador qualquer, sabe escrever e quando apanha o tema a jeito é capaz de desancá-lo com uma qualidade que invejamos.
Vem isto a propósito de uma das suas últimas crónicas no Público (sem link), em que ele diz só isto: “Só que ao mesmo tempo o elevado espírito do primeiro-ministro nos meteu num sarilho a sério: o reforço (para o dobro) das tropas portuguesas no Afeganistão. A gente percebe que ele goste de se dar importância e até de participar no frenesim geral com Obama. Mas não à custa de envolver inocentes numa aventura sem sentido ou saída. O país não tem qualquer interesse no Afeganistão - nem directa, nem indirectamente - e o próprio interesse da "Europa" está em não se comprometer com a interferência americana, que ameaça introduzir o caos na região.”
Só gostaria de acrescentar que a morte, mesmo que indirecta, de qualquer afegão pelas nossas tropas é um crime horrendo que deve merecer a condenação de todos os portugueses de bem. Mas a morte de um soldado português às mãos dos terroristas talibãs só pode responsabilizar o Governo português que os enviou para uma terra que não lhes pertencia, nem ninguém com credibilidade naquele país solicitou a sua presença.
Quando comemoramos a luta travada pelos portugueses contra as invasões francesas, que nos traziam na ponta das baionetas a liberdade e o fim da opressão, aceitamos com legítima e boa essa resistência, em que os soldados napoleónicos eram assoladas pelos nossos camponeses ignaros comandados por clérigos broncos e completamente fechados à nova civilização que despontava na Europa. Mas quando os afegãos, comandados por talibãs fanáticos e ignorantes, resistem à nossa acção civilizadora já nos achamos no direito de intervir e educar à força aquelas populações.
O terceiro caso refere-se à prosa disparada de Miguel Sousa Tavares (MST) sobre o caso Freeport, no último Expresso (sem link). Aí temos outro comentador que em "dias sim" consegue desenrascar um crónica que nos dá gosto ler, mas que por vezes, convencido da sua genialidade, não consegue bater a bota com a perdigota. Este seu artigo é o mais recente exemplo.
MST resume o caso Freeport ao vídeo protagonizado por Charles Smith e afirma que o que está em causa é simplesmente provar se as declarações protagonizadas pelo escocês são verdadeiras ou falsas. Ora o mais espantoso é que aquele vídeo não foi visto pelos procuradores e nem o querem ver. Portanto, só restaria arquivar o caso já que o vídeo é uma realidade inexistente. Esquece MST, primeiro, a pressa na aprovação do empreendimento Freeport, segundo, as declarações do tio de Sócrates, terceiro, a própria carta rogatória inglesa, que põe uma série de perguntas a que é preciso dar resposta. Tudo isto é omitido por MST.
Mas há mais, sobre as pressões aos procuradores, depois de fazer afirmações descabidas sobre como estes deveriam resistir àquelas pressões, inventa uma que só ele sabe e que seria extremamente favorável ao seu personagem, José Sócrates: este queria que o processo corresse célere. Ora só MST é que ouviu esta. Porque o que foi relatado na imprensa foi que as pressões seriam para o arquivamento do processo, pois o ilícito já teria caducado.
Não me quero alongar mais. Mas penso que o MST deve estudar minimamente os problemas antes de se pôr a falar deles.
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