25/04/2009

Ainda o Apelo à Convergência de Esquerda nas Eleições para Lisboa


Várias razões têm-me neste últimos tempos afastado deste blog. Para os amigos que me lêem aqui vai a notícia, sou avô e isso, apesar de ser uma questão muito pessoal, é suficientemente importante para o relatar aqui. Prometo que não irei mostrar fotografias da criancinha. Posto isto passemos ao que me trás aqui.

Este Apelo tem causado desagradáveis comentários a alguma gente de esquerda e tem-me acarretado algumas preocupações por não estar a cumprir os objectivos que estavam na sua preocupação inicial.
Começaria, porque é simples, por um post do 5dias.net de alguém que à partida se declara candidato da CDU, portanto parte interessada.
Começa por dizer que o Apelo é promovido pela Renovação Comunista (RC), o que é verdade, e para isso recorre a um link para o site daquele Movimento. Ora se a RC apoia é natural que indique o local onde pode ser assinado. Simplesmente a partir do momento que o Apelo está na rua ele já não pertence à Renovação mas sim aos seus subscritores. Mas isso é o menos importante, mas começa por dar o tom.
Depois diz aquilo que é verdade, que a Renovação Comunista apoiou o vereador Sá Fernandes, mesmo depois dele ter perdido a confiança política do Bloco. Simplesmente, a RC integrou a lista à vereação da cidade de Lisboa daquele vereador, não tendo acompanhado o Bloco na sua tomada de posição, tal como outros dos seus apoiantes independentes. É discutível, mas não me parece que seja pecado mortal.
Mas onde a desonestidade intelectual é patente é nesta afirmação: É de estranhar o aparente (e recente) saudosismo que PS e RC têm da experiência das coligações, em especial na altura de Jorge Sampaio, num momento em que ambas as forças políticas desempenham ou subscrevem as políticas do actual executivo. Ora o autor do post não tem uma única afirmação da RC em que esta subscreve as políticas do actual executivo. Pelo contrário se consultar o seu site encontrará críticas à governação.
Aqui temos o estilo mentiroso e desonesto, para não chamar mais nomes, com que o PCP tem actuado nesta área. Tentando sempre, para confundir os seus militantes, acusar os seus pertenços inimigos como apoiantes claros do PS. É interessante que num comentário aquele post se faça referência ao renovador Vital Moreira, quando se sabe que se este alguma vez foi renovador, neste momento já não é, e é um claro apoiante do actual primeiro-ministro.
Depois demonstra uma grande ignorância do passado. A coligação entre PS e CDU, começou em 1989, não foi contra Krus Abecassis, mas sim contra Marcelo Rebelo de Sousa e manteve-se com João Soares até 2001, que só não continuou porque foi derrotada pelo Santana. Portanto não mitifiquemos um passado que é bem recente.
Depois é ilusão, que a CDU só por si pode constituir um projecto alternativo. Ao menos valha-nos as justificações do Victor Dias (aqui e aqui) que acha que o eleitor pode confundir tudo e por isso entende que coligações antes das eleições legislativas não.
Esta referência ao Victor Dias remete para a polémica que se tem travado no Blog dedicado às eleições do Público, entre ele e Cipriano Justo, dirigente da Renovação Comunista. Tudo começou por uma intervenção infeliz de Modesto Navarro na Assembleia Municipal de Lisboa, em resposta a uma intervenção provocadora do lider da bancada do PSD sobre o Apelo. Modesto podia responder que nada tinha a ver com aquele Apelo e que portanto não enfiava a carapuça que lhe queria meter o líder do PSD, simplesmente achou por bem acrescentar mais uns epítetos aos seus subscritores, chamando-lhes, entre outras coisas, órfãos da política. Justo pegou no assunto e fez um post. Sem me querer envolver nesta polémica e não sendo dado a floreados, não deixaria de lembrar ao Vítor Dias que distinguir entre promotores e subscritores, os primeiros gente desonesta, que sabia cavilosamente o que estava a fazer, e os segundo, gente séria que ingenuamente foi arrastada pelos primeiros, faz lembrar uns certos comunicados do antigamente em que se insinuava que havia uns subversivos que arrastavam uns pobres diabos para acções insensatas. Por outro lado, sendo alguns dos subscritores do Apelo apoiantes da CDU para as europeias leva-me a pensar que foram arrastados para subscrever uma lista eleitoral que sub-repticiamente os convenceu a assinar um apoio que não queriam. Portanto esta distinção é de mau gosto, tal como os nomes com que gostam de mimosear os assinantes ou os promotores.
Resta o problema real, que já destaquei noutra ocasião, deste apelo poder servir aos objectivos de António Costa. Facto que ele habilidosamente já ultrapassou quando ontem na Voz de Operário disse que sozinho ou acompanhado iria vencer (ver aqui).
A esquerda, toda ela, lamentavelmente, está a cair num grande autismo (esta palavra agora parece que é politicamente incorrecta). Tentarei, com alguma independência, continuar a observar a situação. Veremos se no final ficará algum caco.

2 comentários:

Anónimo disse...

Jorge Nascimento Fernandes, não lhe darei o prazer de uma polémica entre blogues, que só me fará perder tempo.
Agrada-me que refira que a RC não está com Costa, embora me pareça difícil de perceber que esteja com Sá Fernandes - parece-me um pouco que é como estar com Mário Lino e não se estar com Sócrates.
Talvez pela minha inabilidade de escrita, a desonestidade intelectual que me aponta, resulta duma deficiente interpretação do que escrevo. Não entendo que a coligação tenha sido motivada pela candidatura de Marcelo mas sim por anos de gestão da PSD+CDS, liderados por Abecassis.
Agora duas questões.
O autor do post tem nome e pensa pela sua cabeça. A forma indecente (muitos outros qualificativos haveria!) com que pretende desvalorizar o que escrevo revela um carácter, e não uma identidade política. Há-os, como você, em todos os partidos, mas fico satisfeito por já não militar no PCP.
Tenho amigos na RC, e apesar das divergências políticas reconheço-os como homens e mulheres importantes para a luta que devemos travar. Na minha óptica a posição da RC em Lisboa é errada, mas não faço juízos de intenção e/ou de carácter sobre as pessoas que, neste caso, até as considero como amigos de longa data.
É feio ouvi-lo aplicar a velha cantoria estalinista do "alguém" e que tenha aprendido tão rápido a usar para si a distinção de "independente", como faz no fim do texto.
Tiago Mota Saraiva

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Recebi na volta do correio uma resposta do Tiago Mota Saraiva. Acusa-me de estalinista e diz-se amigo de renovadores. Quanto a não lhe ter dado nome, reconheço o meu erro, de tal modo que já o post estava no ar e ainda fui ver se estilisticamente o seu nome poderia aparecer no texto, achei que não, mas como remetia para o seu post não achei que fosse importante. Saiba o TMS que as técnicas estalinistas consistiam em de facto não nomear o ofendido e a nem sequer lhe divulgarem o texto, coisa que comigo não sucede.
Mas tirando este pormenor, que revela a máxima popular de diz o roto para o nu, de estalinista para estalinista e meio. Passemos ao que interessa.
O principal do seu post não é não concordar com a posição da RC em Lisboa, o principal do seu post é a sua afirmação que sublinhei a encarnado e essa é de flagrante desonestidade intelectual, contendo práticas estalinistas de confundir o adversário dizendo e misturando-o com coisas que ele não defende nem disse. Esse é sombra de dúvida o problema principal. Tudo o mais é paisagem e essa é que revele o estilo do interlocutor.