05/06/2008

Noite alternativa


Dada a minha já provecta idade começo a chegar à maioria dos eventos com grande antecedência. É o mal dos velhos. Por isso, desta vez, achei que não devia chegar à festa sessão Aqui e Agora, que se realizou no Trindade, com muita antecedência. Tinha-me bastado a experiência de um jantar de comemoração do 25 de Abril, que se realizou na FIL, em que tendo chegado com um quarto de hora de antecedência, encontrei uma sala vazia e senti um desconforto acentuado. O jantar encheu-se, mas só quarenta e cinco minutos depois da hora marcada, típico dos portugueses.
Foi neste estado de espírito que fiz pontaria para chegar à sessão-festa aí com uns dez minutos de antecedência. Quando cheguei vi bicha para entrar no Trindade, o que já me espantou. Quando estava a meio, alguém, por gestos, informa que já não havia lugares. Não desisti, alcancei mesmo a porta principal. Encontrei conhecidos que perguntaram se eu era subscritor do abaixo-assinado. Disse que não, também ninguém me tinha convidado. Então, não podia entrar.
Havia as alternativas possíveis, a tal sala num segundo andar onde se podia seguir o espectáculo por uma televisão gigante, ou então, recorrer à velha prática dos nossos vinte anos, que era esperar que todos desistissem e depois alguém nos permitia a entrada. Não tive paciência para isso. Vim para casa pelo mesmo caminho que fui, de metropolitano.
Nunca pensei que o Trindade só tivesse 490 lugares. Helena Roseta, à porta, justificava, dizendo que não tinham conseguido outra sala. Já ouvi outras versões. A Joana Lopes, e com razão, achou no seu blog que havia pouca ambição (“medroso” foi a expressão que ela utilizou). Eu na altura, um bocado ingenuamente, pensei que o espaço era suficiente. É porque não frequento muito o Trindade.
Chegado a casa sintonizei a SIC Notícias que deveria ser a única estação televisiva que aquela hora mostraria alguma coisa da sessão. Não me enganei, a determinada altura uma locutora, muito agressiva, lá ia interrogando as personalidades da esquerda. Mas o prato forte da noite foi a entrevista, de quase uma hora, ao Miguel Urbano Rodrigues (MUR).
Quanto à SIC Notícias vale a pena referir que a sessão foi sempre apresentada, e isto foi sistemático, e ainda hoje se repetiu, como sendo “promovida pelo BE com a participação do Manuel Alegre”. Ou seja, devia haver ordem expressa do seu actual Director, António José Teixeira, para que fosse essa a denominação que se daria àquela sessão. Desinformação? Que ideia.
Quanto à entrevista ao MUR fiquei um bocado espantado. Qual a razão porque uma televisão do sistema, bem alinhada com a ideologia dominante, convida alguém que se sabe que é simpatizante das FARC e as defendeu na entrevista, quando a simples hipótese delas estarem representadas pelo seu jornal ou por alguém afim na Festa do Avante levanta tanta indignação. Penso até que o Governo chegou a ameaçar intervir se aparecesse um stand com qualquer representação daquela organização. São mistérios, mas como ninguém viu aquela entrevista, ainda não se levantou nenhuma vozearia. Pela minha parte não tenho nada contra, mas que é estranho é.
Já se sabe que o MUR foi insistentemente convidado a pronunciar-se sobre o que se estava a passar no teatro da Trindade e sobre a subida nas sondagens do BE e do PCP. MUR fugiu a esta última pergunta, dizendo que não comenta a pequena vida política nacional, mas sobre a sessão lá foi afirmando que não era com festas que se combatia as desigualdades, mas com as massas e fez referência, não explícita, às manifestações bem participadas da CGTP. Na mesma linha do Jerónimo que teria dito que esta era a esquerda falante enquanto que a do PCP era a esquerda actuante.
Já se sabe que não há contradição entre estes termos, porque não há uns que defendam que a luta seja por palavras e outros por manifestações. De um modo geral os que estiveram no teatro também estão nas acções da CGTP. E quanto a Manuel Alegre, sempre é melhor que esteja com quem fala contra as políticas do Governo, do que com este.
Quanto ao conteúdo da entrevista poupo-me a mais comentários. Já em tempos escrevi muitos posts criticando posições do MUR. Penso que estamos numa maré de unidade e que não vale a pena mais comentários.
Terminaria dizendo que para a próxima gostaria de poder entrar e não ficar à porta a rogar pragas.

3 comentários:

Joana Lopes disse...

Eu hoje sou um pouco mais maldosa no que se refere à escolha da sala. Não foi por medo, foi porque o que interessava era que as personalidades das várias forças se encontrassem (não que muitos simples mortais como nós assistíssemos) e também os jornalistas. Se fosse subscritor tinha entrado, certo? É isso mesmo, infelizmente.

Por puro acaso,tinha sabido à tarde que a esquerda.net transmitia.

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Foi mais ou menos essa a outra versão que eu ouvi. Para entrar aquela hora era preciso ser subscritor do abaixo-assinado, pelo menos foi a pergunta que me fizeram.

Anónimo disse...

Teve uma noite parecida com a minha

http://nadirdostempos.blogspot.com/2008/06/relato-de-um-encontro-de-esquerdas.html