No meu texto sobre o Maio de 68 , que a Joana Lopes que teve a amabilidade de citar, fiz referência genérica a alguns livros publicados em França sob a égide do Partido Comunista Francês (PCF) relativos aos acontecimentos que se acabavam de se desenrolar.
Um deles chamava-se Mai des prolétaires, foi escrito por Laurent Salini, estava integrado numa colecção de livros de algibeira chamada Notre Temps e era das Éditions Sociales, que eu no post referido traduzi por Edições Sociais, uma editora ligada ao PCF, que já desapareceu. O livro foi publicado em Novembro de 1968, portanto muito em cima dos acontecimentos.
No capítulo final, dedicado Em direcção ao socialismo, numa tradução da minha autoria, é afirmado o seguinte:
…“longe de transformar as “regras estratégicas em princípios morais”, nós (PCF) lutamos contra os esquerdistas não porque eles fossem “a vanguarda do movimento de Maio”, não porque eles preparassem a revolução, mas porque ao voltarem-se contra o Partido Comunista e a estratégia que propõe, travam o caminho do nosso povo em direcção ao socialismo, ajudam a contra-revolução, abrem caminho às forças reaccionárias. Combatemo-los, não porque queiram, apesar da nossa iniciativa, incentivar a luta proletária, mas porque trabalham para a enfraquecer, desviando-a dos seus objectivos. Combatemo-los porque, à tentativa de encontrar novos caminhos para o socialismo, opõem dogmas mortos, transpõem de forma livresca tácticas válidas noutros locais, mas inaplicáveis aqui, copiam tristemente experiências inspiradas por situações diferentes da nossa.
E, já que falamos de estratégia – os estrategas são muitos neste momento nas ruas de Paris – o que é que se entende por uma estratégia revolucionária senão aquela que tende a juntar efectivamente contra a burguesia e para lhe retirar o poder, forças decisivamente superiores às do adversário e a este unicamente. Toda a tentativa de dividir o movimento, toda a acção que conduza a formas de luta extremas de uma única parte das forças que se devem unir no combate contra o grande capital, toda a acção que isole um grupo de combatentes é necessariamente nefasta. É criminosa. Sobretudo quando, aproveitando a inexperiência da juventude, quer-se lançar esta, ou seja, a geração que vai carregar com o peso principal das lutas do futuro, em aventuras, que, magoando-a, arriscam-se a semear entre ela a derrota e o desencorajamento e a afastá-la do combate popular.” E o texto continuava neste termos.
É evidente, que esta é uma linguagem de palha, muito comum ontem e hoje a algum movimento comunista, no entanto, este texto não deixa de reflectir o que pensava o PCF sobre o movimento esquerdista e aquilo que ele propunha aos estudantes, bem como o que nós comunistas portugueses, ou pelo menos alguns de nós, também pensávamos sobre o assunto. E ainda hoje, sem me rever nesta fraseologia, reconheço que bem exprimido o Maio de 68, na sua forma comemorativa e retórica, pouco nos deixou que verdadeiramente seja transformador das sociedades hodiernas.
Quando ainda recentemente, no programa Prós e Contras, Fátima Campos Ferreira queria comparar o “é proibido proibir”, do Maio de 68, com a má educação de uma jovem que queria impedir que uma professora lhe retirasse o telemóvel, podemos perceber o que aquela data significa para muita gente. Lamento, mas eu não alinho nesta onda comemorativista.
Se integrarmos o Maio de 68 no conjunto de fenómenos que pelos anos 60 atravessaram as sociedades capitalistas do ocidente desenvolvido, e até algumas do socialismo real, e os confrontarmos com a posterior transformação do capitalismo, poderemos talvez compreender melhor o que se passou naqueles anos e enquadrá-los numa verdadeira perspectiva histórica.
Um deles chamava-se Mai des prolétaires, foi escrito por Laurent Salini, estava integrado numa colecção de livros de algibeira chamada Notre Temps e era das Éditions Sociales, que eu no post referido traduzi por Edições Sociais, uma editora ligada ao PCF, que já desapareceu. O livro foi publicado em Novembro de 1968, portanto muito em cima dos acontecimentos.
No capítulo final, dedicado Em direcção ao socialismo, numa tradução da minha autoria, é afirmado o seguinte:
…“longe de transformar as “regras estratégicas em princípios morais”, nós (PCF) lutamos contra os esquerdistas não porque eles fossem “a vanguarda do movimento de Maio”, não porque eles preparassem a revolução, mas porque ao voltarem-se contra o Partido Comunista e a estratégia que propõe, travam o caminho do nosso povo em direcção ao socialismo, ajudam a contra-revolução, abrem caminho às forças reaccionárias. Combatemo-los, não porque queiram, apesar da nossa iniciativa, incentivar a luta proletária, mas porque trabalham para a enfraquecer, desviando-a dos seus objectivos. Combatemo-los porque, à tentativa de encontrar novos caminhos para o socialismo, opõem dogmas mortos, transpõem de forma livresca tácticas válidas noutros locais, mas inaplicáveis aqui, copiam tristemente experiências inspiradas por situações diferentes da nossa.
E, já que falamos de estratégia – os estrategas são muitos neste momento nas ruas de Paris – o que é que se entende por uma estratégia revolucionária senão aquela que tende a juntar efectivamente contra a burguesia e para lhe retirar o poder, forças decisivamente superiores às do adversário e a este unicamente. Toda a tentativa de dividir o movimento, toda a acção que conduza a formas de luta extremas de uma única parte das forças que se devem unir no combate contra o grande capital, toda a acção que isole um grupo de combatentes é necessariamente nefasta. É criminosa. Sobretudo quando, aproveitando a inexperiência da juventude, quer-se lançar esta, ou seja, a geração que vai carregar com o peso principal das lutas do futuro, em aventuras, que, magoando-a, arriscam-se a semear entre ela a derrota e o desencorajamento e a afastá-la do combate popular.” E o texto continuava neste termos.
É evidente, que esta é uma linguagem de palha, muito comum ontem e hoje a algum movimento comunista, no entanto, este texto não deixa de reflectir o que pensava o PCF sobre o movimento esquerdista e aquilo que ele propunha aos estudantes, bem como o que nós comunistas portugueses, ou pelo menos alguns de nós, também pensávamos sobre o assunto. E ainda hoje, sem me rever nesta fraseologia, reconheço que bem exprimido o Maio de 68, na sua forma comemorativa e retórica, pouco nos deixou que verdadeiramente seja transformador das sociedades hodiernas.
Quando ainda recentemente, no programa Prós e Contras, Fátima Campos Ferreira queria comparar o “é proibido proibir”, do Maio de 68, com a má educação de uma jovem que queria impedir que uma professora lhe retirasse o telemóvel, podemos perceber o que aquela data significa para muita gente. Lamento, mas eu não alinho nesta onda comemorativista.
Se integrarmos o Maio de 68 no conjunto de fenómenos que pelos anos 60 atravessaram as sociedades capitalistas do ocidente desenvolvido, e até algumas do socialismo real, e os confrontarmos com a posterior transformação do capitalismo, poderemos talvez compreender melhor o que se passou naqueles anos e enquadrá-los numa verdadeira perspectiva histórica.
1 comentário:
Estou básicamente de acordo contigo. Quanto mais leio mais tendo para evitar a confusão entre a década de 60 e o Maio de 68.
A maior parte dos processos de libertação cultural nasceu antes do Maio de 68.
O Maio de 68 veio acrescentar uma dimensão política, um bocado irresponsável, a que a revolução cultural chinesa não foi alheia.
No limite podemos até encontrar contradições entre o Maio de 68 e a explosão libertária da década de 60. Voltarei ao assunto com maior detalhe.
Enviar um comentário