Por diversas razões, a minha assistência a este blog tem sido espaçada. Apear disso, tento fugir daquilo com que vulgarmente se atafulha a blogosfera, evitando postar músicas, vídeos ou pequenos comentários chistosos. Continuarei, provavelmente para desespero dos meus leitores, a escrever longos linguados de reflexão “séria” sobre a situação política.
Hoje, irei mudar um pouco de agulha e, ao correr da pena, debruçar-me-ei sobre os males que atravessam a Igreja Católica que ultimamente têm sido tão badalados.
Em primeiro lugar referir-me-ia a um post de Rui Bebiano, da Terceira Noite e de Vias de Facto, com quem há tempos andei às turras, mas que hoje, acalmados os ares e reconhecendo mais uma vez a qualidade da escrita, me apetece comentar.
Tal como eu, Rui Bebiano considera este problema da pedofilia na Igreja como um epifenómeno, que terá a importância que os media lhe quiserem dar, mas que no fundo passará, digo eu, com uns pedidos de desculpa e umas lágrimas vertidas a tempo, como todos os outros pecadilhos sexuais da Igreja. Hoje já ninguém se apoquenta com o Crime do Padre Amaro, mas revelações daquele género causaram escândalo na Igreja do seu tempo.
Tenho também que reconhecer a maneira elegante com que Rui Bebiano trata Vasco Pulido Valente e a crónica que este, sobre aquele assunto, publicou este fim-de-semana no Público, afirmando que esta era uma “daquelas diatribes quebradiças e caturras com as quais intervala análises brilhantes e preclaras”. Sobre as análises preclaras tenho as minhas dúvidas, mas reconheço que, por vezes, com grande raiva minha, algumas vezes acerta. Já se sabe que se eu tivesse que responder àquele articulista nunca empregaria termos tão suaves para os seus dislates.
Mas regressemos ao essencial, a crise da Igreja e a permanência, contra ventos e marés, da sua doutrina. Rui Bebiano atribui mesmo ao seu post o título Bento XVI não será Gorbatchev. E aqui tenho que reconhecer que a Igreja, com os seus 2000 mil anos de história, procede com mais inteligência do que aquele político que de uma penada, na esperança de o renovar, deitou por terra um importante movimento político, antecedendo o drama que atravessa hoje grande parte do movimento comunista que ou se renova e se destrói ou se mantém na mesma e é incapaz de crescer e de influenciar o andar do mundo. Mas não é deste drama que vos quero falar, nem a Igreja se poder confundir com aquele movimento.
Entendo que aquilo que tem vindo progressivamente a destruir as Igrejas na Europa Ocidental, principalmente a Católica, tem sido a irrupção do mundo moderno do modo de produção capitalista e as implicações sociais e ideológicas que isso acarreta.
Recorrendo a uma materialismo histórico um pouco apressado, explicaria assim os vários passos com que o mundo contemporâneo foi destruindo o peso ideológico e social das Igrejas. Em primeiro lugar a industrialização global, que recorreu à mão-de-obra camponesa, afastando dos campos e da actividade agrícola o grande exército de reserva que era o campesinato. No Portugal ainda dos meados do século passado, aquela massa bronca e atavicamente ligadas aos párocos das aldeias e que metia medo aos nossos republicanos, que nunca lhe deram o voto, aterrorizados com a força dos seus chefes católicos e monárquicos, foi dispersa pela emigração que despovoou os campos, levou gente para a Europa desenvolvida e para as cidades do litoral. Esta mole imensa pode hoje votar à direita, mas há muito que deixou de estar sobre a influência directa da Igreja.
Outro factor de extrema importância foi também, por força da industrialização global, a entrada da mulher no mundo do trabalho, garantindo-lhe uma independência que nunca se tinha verificado anteriormente. Por outro lado, e concomitantemente com isto, a capacidade de dominar o seu ciclo reprodutivo, ou seja, ser capaz de decidir quando é que quer ter filhos. A independência económica e reprodutiva é pois um factor importantíssimo para a mulher fugir à sujeição familiar que a Igreja sempre lhe quis impor.
Por último, e não menos importante, a necessidade de mão-de-obra mais qualificada abriu a porta do ensino a milhares de filhos de trabalhadores que puderam obter um grau de escolaridade mais elevada que os seus pais e permitiu o seu acesso ao conhecimento, tornando mais relativos os valores religiosos de interpretação do mundo. Associado a isto estão as novas formas de representação ideológica introduzidas pelo sistema capitalista dominante, que se traduzem através dos meios de comunicação social e da arte popular: cinema e música, que nada têm a ver com as tradicionais formas de transmissão da informação típicas dos nossos avós.
Estes são, quanto a mim, alguns dos factores que, apresentados de forma simplificada, fazem com que a Igreja perca hoje o domínio do mundo contemporâneo.
Resta acrescentar que nada disto é linear e aquilo que pode ser verdadeiro para a sociedade portuguesa não ter qualquer transposição, por exemplo, para os Estados Unidos onde a força das Igrejas fundamentalistas é cada vez mais assustadora. Ou, noutro aspecto, o proliferar nas sociedades ocidentais dos esoterismos, quantificado pelo aumento de prateleiras sobre este tema nas livrarias e pela criação de seitas e todo o tipo de consultas e apoios espirituais que vão proliferando nas nossas sociedades.
Por último, resta acrescentar que a religião, de uma forma alienada, tem servido como esteio da unidade nacional contra os domínios estrangeiros ou das potências imperiais. Foi o que se passou na Irlanda, principalmente na Irlanda do Norte, e na Polónia onde o catolicismo serviu para cimentar a unidade nacional contra o ocupante estrangeiro.
O mesmo se está a verificar, com todas as formas absurdas que isso acarreta, de o islamismo servir hoje como forma de resistência ao invasor e ao ocupante estrangeiro, seja ele israelita ou americano. Mas isto deixaria para outra ocasião.
Hoje, irei mudar um pouco de agulha e, ao correr da pena, debruçar-me-ei sobre os males que atravessam a Igreja Católica que ultimamente têm sido tão badalados.
Em primeiro lugar referir-me-ia a um post de Rui Bebiano, da Terceira Noite e de Vias de Facto, com quem há tempos andei às turras, mas que hoje, acalmados os ares e reconhecendo mais uma vez a qualidade da escrita, me apetece comentar.
Tal como eu, Rui Bebiano considera este problema da pedofilia na Igreja como um epifenómeno, que terá a importância que os media lhe quiserem dar, mas que no fundo passará, digo eu, com uns pedidos de desculpa e umas lágrimas vertidas a tempo, como todos os outros pecadilhos sexuais da Igreja. Hoje já ninguém se apoquenta com o Crime do Padre Amaro, mas revelações daquele género causaram escândalo na Igreja do seu tempo.
Tenho também que reconhecer a maneira elegante com que Rui Bebiano trata Vasco Pulido Valente e a crónica que este, sobre aquele assunto, publicou este fim-de-semana no Público, afirmando que esta era uma “daquelas diatribes quebradiças e caturras com as quais intervala análises brilhantes e preclaras”. Sobre as análises preclaras tenho as minhas dúvidas, mas reconheço que, por vezes, com grande raiva minha, algumas vezes acerta. Já se sabe que se eu tivesse que responder àquele articulista nunca empregaria termos tão suaves para os seus dislates.
Mas regressemos ao essencial, a crise da Igreja e a permanência, contra ventos e marés, da sua doutrina. Rui Bebiano atribui mesmo ao seu post o título Bento XVI não será Gorbatchev. E aqui tenho que reconhecer que a Igreja, com os seus 2000 mil anos de história, procede com mais inteligência do que aquele político que de uma penada, na esperança de o renovar, deitou por terra um importante movimento político, antecedendo o drama que atravessa hoje grande parte do movimento comunista que ou se renova e se destrói ou se mantém na mesma e é incapaz de crescer e de influenciar o andar do mundo. Mas não é deste drama que vos quero falar, nem a Igreja se poder confundir com aquele movimento.
Entendo que aquilo que tem vindo progressivamente a destruir as Igrejas na Europa Ocidental, principalmente a Católica, tem sido a irrupção do mundo moderno do modo de produção capitalista e as implicações sociais e ideológicas que isso acarreta.
Recorrendo a uma materialismo histórico um pouco apressado, explicaria assim os vários passos com que o mundo contemporâneo foi destruindo o peso ideológico e social das Igrejas. Em primeiro lugar a industrialização global, que recorreu à mão-de-obra camponesa, afastando dos campos e da actividade agrícola o grande exército de reserva que era o campesinato. No Portugal ainda dos meados do século passado, aquela massa bronca e atavicamente ligadas aos párocos das aldeias e que metia medo aos nossos republicanos, que nunca lhe deram o voto, aterrorizados com a força dos seus chefes católicos e monárquicos, foi dispersa pela emigração que despovoou os campos, levou gente para a Europa desenvolvida e para as cidades do litoral. Esta mole imensa pode hoje votar à direita, mas há muito que deixou de estar sobre a influência directa da Igreja.
Outro factor de extrema importância foi também, por força da industrialização global, a entrada da mulher no mundo do trabalho, garantindo-lhe uma independência que nunca se tinha verificado anteriormente. Por outro lado, e concomitantemente com isto, a capacidade de dominar o seu ciclo reprodutivo, ou seja, ser capaz de decidir quando é que quer ter filhos. A independência económica e reprodutiva é pois um factor importantíssimo para a mulher fugir à sujeição familiar que a Igreja sempre lhe quis impor.
Por último, e não menos importante, a necessidade de mão-de-obra mais qualificada abriu a porta do ensino a milhares de filhos de trabalhadores que puderam obter um grau de escolaridade mais elevada que os seus pais e permitiu o seu acesso ao conhecimento, tornando mais relativos os valores religiosos de interpretação do mundo. Associado a isto estão as novas formas de representação ideológica introduzidas pelo sistema capitalista dominante, que se traduzem através dos meios de comunicação social e da arte popular: cinema e música, que nada têm a ver com as tradicionais formas de transmissão da informação típicas dos nossos avós.
Estes são, quanto a mim, alguns dos factores que, apresentados de forma simplificada, fazem com que a Igreja perca hoje o domínio do mundo contemporâneo.
Resta acrescentar que nada disto é linear e aquilo que pode ser verdadeiro para a sociedade portuguesa não ter qualquer transposição, por exemplo, para os Estados Unidos onde a força das Igrejas fundamentalistas é cada vez mais assustadora. Ou, noutro aspecto, o proliferar nas sociedades ocidentais dos esoterismos, quantificado pelo aumento de prateleiras sobre este tema nas livrarias e pela criação de seitas e todo o tipo de consultas e apoios espirituais que vão proliferando nas nossas sociedades.
Por último, resta acrescentar que a religião, de uma forma alienada, tem servido como esteio da unidade nacional contra os domínios estrangeiros ou das potências imperiais. Foi o que se passou na Irlanda, principalmente na Irlanda do Norte, e na Polónia onde o catolicismo serviu para cimentar a unidade nacional contra o ocupante estrangeiro.
O mesmo se está a verificar, com todas as formas absurdas que isso acarreta, de o islamismo servir hoje como forma de resistência ao invasor e ao ocupante estrangeiro, seja ele israelita ou americano. Mas isto deixaria para outra ocasião.
1 comentário:
Somos um novo blog de esquerda do concelho de Rio Maior.
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Saudações Cordiais
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