28/05/2011

Preferes a peste ou a guerra?

Por motivos vários, mas que na maioria dos casos têm a ver com a minha saúde, não tenho escrito nada no blog. Mesmo a série de três posts que iniciei no princípio do mês, ainda não foi acabada e, para ser verdadeiro, já não me lembro bem o que pretendia escrever no último. Portanto ficará como está.

O que hoje me trás aqui, e que no fundo anda sempre à volta do mesmo, são dois artigos, um de Daniel de Oliveira, Sócrates ou Passos? Passo  e outro de Rui Tavares, Duas catástrofes. Resumidamente, qualquer deles critica a dicotomia, hoje obrigatoriamente imposta pelos media, entre votar Sócrates ou Passos Coelho. Rui Tavares é mesmo muito claro, a vitória de Passos Coelho iria provocar a catástrofe económica e social, com Sócrates teríamos a política. Qualquer deles não é muito favorável à tese desenvolvida na esquerda da igualdade entre os dois. Rui Tavares refere-se mesmo a um tempo mítico do PS, que eu penso que nunca existiu.

Em tempos, eu próprio já tinha abordado esta triste dicotomia, afirmando que PSD e CDS eram os nossos inimigos principais e o PS, o inimigo secundário. Isto mereceu, na altura, algumas críticas de certa ortodoxia. No entanto, em qualquer dos casos, eu não deixava de considerar estes dois blocos, pertençamente alternativos, como inimigos. Considerava simplesmente que tinham objectivos diferentes e que não seria indiferente o Governo de um ou de outro.

Hoje, torna-se para mim cada vez mais claro, que a contradição fundamental dos nossos dias é entre quem assinou o acordo com a troika estrangeira, como lhe chama Jerónimo de Sousa, e quem não o fez e resiste às suas imposições. É evidente, que nesta eleições esta diferença não está devidamente realçada, nem pelos media, que não estão interessados nisso, nem pelos próprios, Bloco e PCP, em que cada um por seu lado concorre nas respectiva bicicleta. Espero que no futuro e perante as expectativas que ameaçam o povo português estas duas forças, agregando à sua volta todos aqueles que se opõem à troika estrangeira, consigam transformar-se num pólo alternativo, com força suficiente para mudar o rumo das coisas.

Não queria terminar sem, no entanto, especular um pouco sobre os cenários possíveis e desejáveis no pós-eleições. Sou defensor que o PSD ganhe por muito poucos e não consiga com o CDS estabelecer uma maioria absoluta. Que o PS perca, mas que haja uma maioria dita de esquerda na Assembleia da República. Nada disto é impossível de suceder. As sondagens permitem tornar verosímil este cenário.

Qual era a vantagem disto? Era tornar impossível a criação de um Governo de direita, mas por outro lado obrigar o PS a verdadeiramente se confrontar com a sua derrota e possivelmente substituir José Sócrates, o que seria um bem para todos, e a cair, para cabal esclarecimento da esquerda que claudicou (ver o meu post), nos braços do PSD, para fazerem o bloco central. - Já se sabe que eu não acredito nas palavras de Manuel Alegre que defende que o PS se perder deve passar à oposição -. Um Governo assim teria muito pouca estabilidade e permitiria a qualquer momento derrubá-lo.

Resta acrescentar que o meu maior desejo é que o Bloco mantenha os 16 deputados que tinha e que fizeram um bom trabalho e que por óbvias razões irei votar Bloco de Esquerda.

PS.: Imagem de Os quatro cavaleiros do Apocalipse, de Albrecht Dürer (1471-1528). Quadro de 1498. Os quatro cavaleiros são a peste, a fome, a guerra e a morte.

5 comentários:

Armando Cerqueira disse...

Caro Jorge, as suas melhoras.

Escrevo para lhe dizer que estou quase inteiramente de acordo consigo.

Por outro lado, estou na situação de não saber em quem votar em consciência, já que não me reconheço em nenhuma força política, e todas me parecem não prestarem, não serem credíveis.

Há o perigo de as forças conservadoras disfarçadas de liberais conquistarem o poder e tentarem implementar a destruição do que resta da Constituição de 1976, ou seja a contra-revolução das forças mais à direita do 25 de Novembro de 1975.

Abraça-o o
Armando Cerqueira

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Este meu post era justamente para aqueles que a propósito de um mal maior preferem um mal menor e acabam por votar PS. Por isso, o meu título "Preferes a peste ou a guerra?" O que eu defendo é que, perante esta falsa alternativa, se deve votar naqueles que preconizam a resistência às imposições da "troika". Eu, por mim, voto Bloco de Esquerda.

Anónimo disse...

Pois! Continua a votar no bloco e é mais um tiro no pé. Ainda não perceberam que bloco e pc não fazem parte da solução mas sim do problema. Já não estamos em 1940 quando ainda muitos julgavam que a URSS era o sol na terra como dizia o aldrabão do Cunhal. O comunismo, o socialismo jamais existirão. As pessoas querem o seu bem pessoal, nada de misturas, defendem os seus interesses pessoais. Quando se juntam por uma causa comum rapidamente pretendem tirar proveito pessoal ou então partem para outra. Apenas os mandriões, oportunistas e pobres que não souberam governar a vida ou um ou outro caso em que tiveram azar acreditam nessas patranhas mas nunca verão satisfeitos quaisquer pretensões. Apenas ilusão.
Os comunas querem repartir mas apenas o que é dos outros. De seu nada dão.

Armando Cerqueira disse...

Caro anónimo,
as pessoas que têm a coragem de assumir as suas posições e querem ser credíveis e responsáveis, mesmo as posições erradas como me parece serem as suas, não se escondem atrás do anonimato. Essa atitude diz muito de si.
Não sendo eu propriamente uma pessoa identificada com qualquer partido político, designadamente o PCP e o BE, devo dizer-lhe que não está provado cientificamente nem que a sociedade socialista seja uma impossibilidade historica (poderá vir futuramente a existir algo parecido com o que se intui será o Socialismo) nem que a sociedade capitalista, de que tanto orgasticamente gosta, seja eterna e definitiva. Se se der ao trabalho de estudar verificará sem margem para dúvidas que a história é uma sucessão de diferentes formas de sociedade.
Por outro lado, e isso até os católicos progressistas lho dirão, o capitalismo, com que tanto se compraz,vive da exploração (e expropriação da mais-valia) mais ou menos violenta e brutal da força de trabalho humana por empresários quantas vezes 'mandriões' e 'oportunistas' cujos 'interesses pessoais' consistem em explorar, expropriar, oprimir e lixar aqueles que mais não têm que a sua força de trabalho.
Não é necessário ser 'comuna', como diz, para se aperceber disso, basta ser humanamente sensível aos outros, ser solidário com o sofrimento dos explorados e oprimidos, ter tido pelo menos uma boa formação cristã em pequenino...
Acresce que os 'comunas' que tanto abomina (com a linguagem que utiliza, você por acaso não será simpatizante dos salazaristas, pêpêdistas, pêpês, etc?) até têm razão em muitas coisas, tinha/têm os bons sentimentos que a si tanta falta lhe fazem.
Saudações,
Armando Cerqueira

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Obrigado Armando Cerqueira pela resposta que deu ao Anónimo.Eu normalmente nestes casos não costumo responder.
Um abraço