10/08/2011

112 social



Eviaram-me este vídeo publicado no YouTube por borrachaverde. Achei tão significativo dos tempos que estamos a viver na saúde que não resisti em reproduzi-lo.

E a onde estão os “valores”, Senhor?

Ontem a televisão pública veio ressuscitar um general, Leonel de Carvalho, especialista em segurança, que penso que já se tinha reformado destas actividades. Chegou a ser, no tempo do PS, Coordenador do Gabinete de Segurança e aí produziu algumas a afirmações bastante comprometedoras, como apontar o aumento da criminalidade às comunidades imigrantes (ver aqui  e aqui). Mas não contente com isto já tinha ido às jornadas parlamentares do CDS defender a imputabilidade dos jovens a partir do 12 anos, ou seja, o seu internamento, facto que a lei só permite a partir dos 14 anos (ver aqui e a parte final da declaração de Luís Fazenda no Parlamento, já anteriormente assinalada).

Ontem, um especial informação do Telejornal reuniu, para comentar a situação em Inglaterra, o já referido General, um psicólogo, Carlos Poiares e, directamente de Inglaterra, a socióloga Maria do Mar. Como era previsível, tanto a socióloga como o psicólogo lá tentaram relacionar estes acontecimentos com a situação geral que neste momento se vive em Inglaterra, com o desaparecimento, por razões económicas, dos programas de ocupação dos jovens e outras razões sociais. Maria do Mar foi mais assertiva, até porque vive em Inglaterra, do que o seu colega psicólogo, que às duas por três já estava um pouco baralhado.

Ao general cabia a função de, apesar de conceder que havia alguns problemas sociais, atribuir a culpa aos díscolos, como se chamavam antigamente, ou seja, em linguagem moderna, aos bandos organizados de ladrões que se juntam para pilharem as lojas. É evidente que os problemas sociais existem e são nitidamente a principal causa, mas, não tendo qualquer programa de luta organizada, caiem inevitavelmente no saque, a forma mais primitiva do conflito social.

Mas ao general não pôde faltar inevitavelmente a componente moralista. A culpa de tudo isto é a ausência de valores e do seu abandono. Provavelmente acrescentou mais qualquer coisa, simplesmente como não consigo descobrir um link para as suas declarações limitar-me-ei simplesmente a citar esta simples frase.

Quando esta gente, juntamente com a Igreja, vem falar de valores e da sua perda fico sempre aterrorizado. Nunca sei que valores e em que época eles os encontram. Será no tempo de Salazar e da PIDE? Será entre as duas guerras, no nazismo e no fascismo ou na Guerra Civil imposta por Franco a Espanha com o beneplácito da Igreja? Será na época vitoriana e na Alemanha do Kaiser? A minha resposta é que eles sonham com os valores da família burguesa que conheceram, com os pais austeros e as mães donas de casa, a orientar com mão de ferro a criadagem. Serão os valores que pacientemente a nossa amiga Joana Lopes, do Entre as Brumas da Memória, vem transcrevendo do livro da terceira classe do tempo da outra senhora (ver aqui  e aqui)?

Verdadeiramente, quando oiço falar em perda de valores, já estou como o outro, puxo da minha pistola.

Ainda a saga das gravatas

Mais uma vez venho pedir desculpa aos meus leitores mais fiéis por este atraso na actualização do blog. Questões de saúde, sempre as mesmas, e a errância estival são as causas principais. Por isso, se alguns dos temas são requentados é devido a este atraso.


Comecemos por um dos que mais me indignou.

A proposta de supressão da gravata no Ministério de Assunção Cristas tem dado pano para mangas. Só no jornal diário que leio, o Público, já saíram não sei quantos artigos.

Mas comecemos pelo princípio. Depois das notícias iniciais, São José de Almeida num artigo de balanço deste Governo lá faz referência à história das gravatas, não sem acrescentar que elas são um símbolo machista (não me recordo se foram estas as palavras exactas que empregou). Tenho respeito e consideração por esta jornalista, mas ao fazer referência a esta faceta da gravata somos levados a pensar que a menina do CSD, a quem coube em sorte o Ministério da Agricultura e do Ambiente, teve qualquer preocupação anti-machista com o desaconselhamento do seu uso. Ora, como é evidente não foi isso que a motivou.

De seguida vem um grande artigo no P2, o suplemento diário do Público, com a origem etimológica do termo gravata, com a consulta de psicólogos e sociólogos, com o número dos machos que havia Ministério do Ambiente e outras questões de extrema relevância. Mas a reposta às questões principais que o tema levanta, nada

Depois a tontinha da Helena Matos escreveu um artigo onde mistura gravatas com aventais, aqui os maçónicos, referindo-se à história das secretas. Que me recorde, nada de interessante é dito a propósito de gravatas, mas achou também que devia meter a colherada neste assunto. Por último Campos e Cunha, com medo que duvidassem da sua masculinidade, vem dizer que gosta de gravatas. Que espanto!

Em todos estes artigos nenhuma resposta é dada às questões principais levantadas pelo uso da gravata no Ministério: se antes do despacho da Ministra, era obrigatório usá-la e qual a disposição regulamentar que determinava isso? Quais os funcionários, tirando o estrito número daqueles que povoam os gabinetes ministeriais, tinha deixado de a usar ou se eram muitos aqueles que a usavam anteriormente?

As minhas perguntas são sempre as mesmas, mas depois de tantos artigos e reportagens ao menos que houvesse um jornalista que tivesse a curiosidade de se interrogar sobre estas pequenas questões, que esclareciam logo se não tinha havido por parte da ministra uma pura acção de propaganda, mas isso não interessa nada a jornalistas destes novos tempos.

P.S.: Por razões da sanidade mental de todos e por até ser impossível fazer links para artigos de opinião no Público, dispenso-me dessa prática neste post.