05/06/2012

Gestor de carreira. A nova oportunidade dos desempregados


Quando ouvi a notícia não liguei muito. Era mais uma das que o Governo nos impinge todos os dias. Num dos Eixo do Mal, da SIC Notícias, de há meses atrás, alguns dos intervenientes fizeram alguma graça à volta do assunto. Não fiquei indiferente ao tema, mas achei que nenhum dos intervenientes tinha apanhado o significado do termo gestor de carreiras, designação dada ao funcionário dos centros de emprego que daqui para a frente acompanhará cada desempregado que recorra àqueles serviços. A ideia até parece correcta, ser sempre a mesma pessoa a atender cada trabalhador, o nome é que não lembra ao diabo, apesar de se ter dito que era a designação utilizada em alguns países. Até nisso o nosso Governo não é original!
Mas porque é que acho que a designação é incorrecta e tem, como era previsível, ressonâncias neo-liberais.
Vejamos, a denominação do funcionário tem tudo a ver com a ideia de que o desempregado é um trabalhador que não soube gerir bem a sua carreira. Que é preguiçoso, talvez “piegas”. Que está desempregado porque é um desorientado. Não são as condições sociais que originam o desemprego é o desempregado que não sabe gerir as expectativas que se esperam dele numa “sociedade moderna”. Portanto não há nada melhor do que nomear alguém que será seu gestor de carreira para lhe traçar perspectivas de vida e não o deixar cair em tentação, ou seja, não o deixar regressar à sua condição de desadaptado, de incapaz de encontrara trabalho.
Pode ser que nada disto tenha passado pelas mentes privilegiadas do Governo e que seja eu, com sentido destrutivo, a criticar uma excelente designação, que só copia o que existe lá fora. Mas aquele nome faz-se sempre pensar naquilo que afirmei e que não se afasta provavelmente muito do que os governantes pensam.

PS.: já tinha escrito este texto há várias meses, simplesmente, dado o meu estado de saúde, não tinha tido coragem para o publicar. Não é que a situação se tenha alterado, encontrei foi força para o fazer. É provável pois que durante algum tempo não publique nada. Ficam portanto avisados, não estranhem a minha ausência.     

24/02/2012

Já temos o problema resolvido! Merkel na Madeira


Enviaram-me esta gracinha. Quero partilhá-la com os meus leitores.

23/02/2012

José Afonso - A morte saiu à rua



Passam hoje 25 anos sobre a morte de Zeca Afonso. Canção dedicada ao pintor José Dias Coelho assassinado, em 1961, pela PIDE.

22/02/2012

A intolerância de ponto

Fui buscar o termo intolerância ao Telejornal, da RTP 1. Mesmo nestes tempos de censura ou de beija-mão ao poder “há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não". De facto não esperava ouvir esta frase na televisão pública.

Mas não é isto que me trás aqui. Como todos sabem o Governo não deu tolerância de ponto aos funcionários públicos. Como isto não conseguiu, no entanto, pôr o país a trabalhar, mas incomodou muita gente que, por esse motivo, se viu obrigada a ter que ir ao serviço. Quem frequentou o espaço público percebeu que os seus utentes eram em muito menor número do que num  dia útil normal, o que significa que a maioria dos trabalhadores não foi ao seu local de trabalho e aproveitou para passar o dia em casa.

Mas o que é mais importante, e que quero realçar aqui, são as contradições da decisão do Governo. Como todos já sabem, o calendário escolar foi marcado com grande antecedência e reservou para estes dias a pausa do Carnaval. Parece que obrigou alguns professores a irem às escolas, mas os alunos puderam ficar em casa. Primeira falha do Governo.

Soube, no entanto, hoje de uma história semelhante, com a intervenção do um departamento do estado. Parece que, com seis meses de antecedência, o INFARMED exige das farmácias que lhe comuniquem os feriados em que fecham, provavelmente por causa dos turnos, para verificar quais aquelas que estão de serviço ou de atendimento permanente durante esse dia. Ora o Carnaval funciona neste caso como feriado móvel.

Assim, quando ontem me dirigia para uma farmácia verifiquei que ela estava fechada e pensei para comigo ora estes não cumpriram as ordens do primeiro-ministro. Hoje quando lá voltei, perguntei: "então ontem estiveram fechados". A resposta que obtive foi: "por ordem do INFARMED".

Deste modo verifiquei que por muito que o Governo pretenda há última da hora, para troika ver, pôr os portugueses a cumprirem as suas determinações, há sempre contradições insanáveis que lhe tolhem a vontade.

19/02/2012

Max Keiser: Aproxima-se um holocausto financeiro enquanto a Alemanha ataca a Grécia




Enviaram-me este vídeo. Vale a pena ver.

15/02/2012

Governo prepara encurtamento da Páscoa: Jesus Cristo morre crucificado e ressuscita no mesmo dia

Enviaram-me esta gracinha, quis compartilhá-la com os meus leitores:

"Depois de ter acabado com o Corpo de Deus, 15 de Agosto, 5 de Outubro, 1 de Dezembro e de não ter dado tolerância de ponto aos funcionários públicos no Carnaval, Passos Coelho prepara uma pequena alteração ao ano litúrgico, nomeadamente a Semana Santa, de forma a obter uma versão da Páscoa mais adaptada a um país que quer ser mais competitivo. “A Última Ceia a uma quinta-feira é coisa de garoto mimado e irresponsável que chula os pais e o Estado. Acabou-se a Sexta-Feira Santa e a Última Ceia passa a lanche ajantarado no sábado até às 23 horas, no máximo. Domingo de Páscoa passa a ser o dia do julgamento, paixão, crucificação, morte, sepultura e ressurreição. Também Jesus Cristo tem de deixar de ser piegas!”, revelou Passos Coelho."

Quadro: Ecce Homo, mestre desconhecido, Portugal, segunda metade do século XVI (segundo protótipo do século XV), Museu Nacional de Arte Antiga.

13/02/2012

Um colunista petulante

Neste último fim-de-semana Miguel Sousa Tavares (MST), na coluna que mantém semanalmente no Expresso (sem link), resolveu referir-se a uma série de acontecimentos que tinham decorrido durante a semana. Todos eles constituem aquilo que MST considera a indignação politicamente correcta e por isso se insurge contra as vozes que manifestaram a sua crítica a alguns dos factos que ele assinala.

Os dois primeiros referem-se às críticas que o Presidente do Parlamento Europeu e a Sr.ª Merkel endereçaram, respectivamente, a Portugal, e à sua politica de ir buscar dinheiro a Angola, e à Madeira pela má aplicação dos fundos comunitários. Em qualquer dos casos MST acha justas as críticas referidas. Neste post não irei discutir este assunto.

A seguir vem a posição da Associação dos Oficiais das Forças Armadas em relação às declarações de Aguiar Branco, Ministro da Defesa. Aqui critica violentamente aquela posição proferindo uma série de dislates que também não irei comentar. No final refere-se igualmente à crítica de António José Seguro a Vasco Graça Moura, defendendo a posição sobre o Acordo Ortográfico que este tomou no Centro Cultural de Belém.

Se a dois dos assuntos sou indiferente, já a posição sobre as declarações da S.ª Merkel e sobre os militares me parecem profundamente descabidas, e as últimas mesmo profundamente reaccionárias. Mas, o mais grave é a abordagem que faz da frase de Passos Coelho sobre “os piegas”. MST leva completamente à letra a intervenção do primeiro-ministro, achando que ele estava só a referir-se aos coitadinhos dos alunos e não ao conjunto do país. A propósito do tema refere mesmo um episódio da sua vida pessoal, de aluno de escola pública no Marão, em que faz a descrição das virtudes da escola de antanho, com frio e gelo, sem refeitório, nem pavilhão desportivo e muito menos aquecimentos. Pobre MST que não consegue perceber que tudo isto resultava a extrema pobreza do país e que se se conseguiu, passados estes anos, alguma melhoria significativa nas condições das escolas, isso se deve ao 25 de Abril e ao crescimento económica que se verificou daí para cá.

Mas o mais grave disto tudo não é esta descrição das virtudes da miséria, é que deliberadamente ou por pura incompetência não se deu ao trabalho de ler todo o discurso que Passos Coelho fez numa escola em Odivelas. Basta comparar o que escreveu Pacheco Pereira no Público ou o que disse Marcelo Rebelo de Sousa na TVI  (ao minuto 12m 47s) para se perceber que não estamos a falar do mesmo discurso ou então MST quer-nos comer por parvos. Qualquer daqueles dois comentadores, mas de longe muito melhor a coluna de Pacheco Pereira, fala-nos da totalidade do discurso e do seu tom. Tenham os meus leitores o cuidado de os ouvir ou ler e perceberão do que estou a falar.