24/11/2010

Ainda as manifestações anti-Nato, algumas reflexões avulsas


Gostaria de começar por uma aforismo inventado por mim: quem anda metido em casa alheia dificilmente trata da sua. Vem isto a propósito de, depois de ter tratado com algum desenvolvimento a prisão de um espanhol e de uma portuguesa na fronteira do Caia e as notícias que sobre o assunto apareceram nos media, deixei por alguns dias de escrever sobre as prisões, a repressão e as manifestações ligadas à cimeira da NATO, em Lisboa. Tudo isto porque andei a consultar blogs alheios e a escrever comentários numa série deles. Quase parecia o Vítor Dias que, apesar de ter o seu sempre actualizado, não perdeu nenhuma ocasião de combater os “heréticos” que se pronunciaram sobre o assunto.

Podemos dizer que os dias que antecederam a cimeira só vieram confirmar aquilo que eu escrevi anteriormente. A fonte da contra-informação foi a polícia, que não perdeu nenhuma oportunidade de se pronunciar e de impedir a entrada de manifestantes estrangeiros só porque traziam comunicados anti-NATO (ver aqui), e a comunicação social que reproduziu passivamente os pontos de vista daquela força, quando não açulava a sua intervenção. Como Glórias do Jornalismo Português, retirando aqui o título ao Vítor Dias, há que destacar, não por mim, mas num comentário ao post do José Neves, esta reportagem de Sandra Felgueiras para o Telejornal da RTP (ver minuto 32.28) que, com grande acinte, dizia, no final da mesma, que os manifestantes, não “oficiais” (digo eu), já estavam “embriagados” ou ainda a reportagem de Paulo Moura, no Público, saborosamente comentada por José Neves.
Há que destacar igualmente as actividades de José Manuel Anes, já por mim referenciado em vários posts, que na TVI, na 6º feira ao almoço, teve o desplante de afirmar, depois de ter garantido que os Black Bloc já cá estavam todos, afinal não tinham vindo por falta de fundos, reproduzindo uma notícia do Público desse dia.

Dito isto gostava de relembrar como é que terminava um dos meus posts anteriores: “mas o que é verdadeiramente grave e atentatório das liberdades é a recomendação” – de um major da polícia – “de que os manifestantes devem evitar a "associação a grupos com cariz anarco-libertário". Então já é o major que decide quem é que participa na manifestação?
E não é que decidiu mesmo. E pior ainda, com a colaboração do serviço de ordem da manifestação do grupo Paz sim! NATO Não!. Sem querer relatar nada, porque não estive lá, por razões que não vêm ao caso, remeto para as descrições de dois jovens amigos em quem deposito toda a confiança, uma é a do José Neves, já por mim atrás referida, e outra do Ricardo Noronha.

Para terminar gostava de fazer algumas reflexões finais. O Bloco de Esquerda foi muito criticado por ter participado na parte da manifestação que se agrupava debaixo da plataforma Paz Sim! NATO Não!, ficando assim “credenciado”, segundo a expressão de um dos membros do serviço de ordem daquele grupo, para poder descer a Avenida. Se é certo que nem todo o Bloco esteve aí. Foi referido publicamente, que o Mário Tomé, o deputado José Soeiro e outros, que eu vi na reportagem da SIC, foram na manifestação enquadrada pela polícia, a direcção do Bloco, no entanto, estava na da frente. José Neves e também outros, fazem referências depreciativas ao seu local de participação. José Neves descreve mesmo com alguma ironia o que foi a história do PSR, um dos grupos fundadores do Bloco. Eu, e porque ouvi o Louçã falar sobre este assunto, compreendo um pouco a posição do Bloco. Há alguns tempos para cá que nas manifestações ditas unitárias ou organizadas pela CGTP começa a haver a preocupação de tentar impedir a entrada do Bloco ou deste só desfilar quando os organizadores entendem. Ou seja, correspondendo ao agravamento sectário do PCP, há cada vez maior preocupação em escorraçar o Bloco, de o atirar para fora das manifestações. É nesse sentido, que o Bloco não pode de modo algum tolerar que haja donos das manifestações, por isso força a sua participação e evita isolar-se do conjunto dos manifestantes. Tenho quase a certeza que foi este o caso. No entanto, há quem ache que isto é uma cedência. Eu penso o contrário.

Por último discordo profundamente deste tipo de prosa publicada no blog Arrastão: “… o braço sindical do PCP, a CGTP, se tornou a central sindical do regime, institucionalizada e pronta a pegar em armas de forma controlada e ordeira, quais cordeiros arrebanhados pela força das circunstâncias.” Para além de revelar algum esquerdismo sectário, permite placidamente que se instale nas pessoas a ideia que a CGTP é do PCP, quando ela é a arma sindical dos trabalhadores e é a única força unitária de que dispõem. Quanto mais se disser que ela é do PCP mais este se convence que é verdade. A nossa luta é para que ela se transforme numa verdadeira Central Sindical de todas as forças que nela participam.

Pensava também fazer uma crítica aos “belos” pedaços de prosa que o Vítor Dias foi espalhando por diferentes blogs em comentários aos vários posts “heréticos”, mas como a nossa caturrice não leva a lado nenhum, por aqui me fico

2 comentários:

carloni disse...

Boa noite,
Faz pensar é o porquê de existirem grades, a separar os trabalhadores do secretário geral carvalho da silva, nos comícios da cgtp !

carloni

Anónimo disse...

João Soeiro não esteve inserido no sector "desordeiro, anarquista, etc"... João Soeiro chegou-se à zona para saudar Mário Tomé e trocar umas palavras com ele, apenas. O que se vê nalgumas imagens coladas a artigos não é no sector que a polícia isolou. O rapaz ficou a determinada altura entre 2 cordões de polícia, um que era a frente da traseira e o cordão que a polícia fez aos press fotógrafos que queriam era "animação". Parece-me que João Soeiro não conseguiu qualquer voto... e tenho ideia que os outros, os do partido devem ter perdido ali alguns dos seus eleitores tal a vergonhosa postura dos capangas da suposta "credenciada" organização.